por Laura Ming
Tpm #114

Mesmo sem ter o DNA dos Gracie, o lutador honra a herança da família no jiu-jitsu

A expressão fechada e a postura de quem está sempre pronto para dar o golpe no adversário somem quando Gregor Gracie, 24 anos, desce do octógono. Fora de combate, o carioca radicado em Nova York é um cara tranquilo que fica sem graça ao falar da vida pessoal. Mas Gregor já deveria saber que a fama o perseguiria, embora não carregue o DNA da família Gracie – ele é filho do carioca Igor Rangel, com quem não convive desde a separação da mãe, Angela Carvalho, quando ele tinha dois anos.

Gregor também não teve contato com o padrasto Rolls Gracie, um dos maiores nomes do jiu-jítsu nacional, morto aos 31 anos num acidente de asa-delta em 1982, mas se sente parte da família por ter crescido como “irmão inteiro” dos meio-irmãos mais velhos, Igor e Rolles Gracie, com quem aprendeu a lutar. “A pressão é maior porque quero honrar o nome da família, por outro lado sinto que o adversário me respeita mais por isso”, conta.

Além do sobrenome famoso, outro chamariz tem atraído a atenção à nada pacata vida de Gregor. Desde junho, ele namora a atriz Fernanda Paes Leme, e suas aparições nas ruas do Rio de Janeiro têm rendido mais notícias do que suas performances nos campeonatos de MMA (artes marciais mistas, o antigo vale-tudo). “Acho estranho ficar sendo seguido por paparazzi, mas a Fê avisou que isso iria acontecer”, solta. Os dois se conheceram no Brasil, apresentados por amigos em comum, quando Gregor voltava de uma luta em Recife. “A gente se deu bem, foi natural. Se eu tivesse pensado muito, não acharia que daria certo por causa da distância”, acredita. A distância – precisamente 7.750 quilômetros – é driblada com Skype, SMS e passagens aéreas. O acordo é que quem não estiver trabalhando visita o outro, mesmo que seja só por quatro dias, como ele fez no aniversário de Fernanda.

Carreira (im)provável

Gregor treina jiu-jítsu desde menino e, aos 16 anos, decidiu que o esporte viraria profissão. Foram os irmãos que o fizeram mudar para Nova York, há cinco anos, onde moram e têm uma academia de jiu-jítsu, na qual Gregor dá aulas, a Renzo Gracie Academy, com mais de mil alunos. “Vim só visitar, mas me apaixonei pela cidade e não quis voltar. Gosto de como tem gente do mundo todo aqui”, conta. Depois de conquistar os títulos pan-americano e mundial de jiu-jítsu, se sentiu preparado para enfrentar o MMA, esporte que tem crescido em popularidade no Brasil – principalmente depois de o primeiro UFC (Ultimate Fight Championship) acontecer no Rio de Janeiro, com participação dos lutadores Anderson Silva, Rodrigo Minotauro, entre outros.

Apesar de o MMA ser mais violento do que o jiu-jítsu, a pancadaria que acompanha a nova modalidade não assusta Gregor, que quando abriu o supercílio em uma cerca de arame farpado, aos 10 anos, não chorou nem quando precisou de cinco pontos para fechar o corte. O que a namorada acha de tamanha agressividade? “Ela gosta, já me viu lutando duas vezes. Uma delas ao vivo, no Rio de Janeiro.” O gosto por luta de Fernanda Paes Leme vem dos treinos de muay thai, ou boxe tailandês, que a atriz pratica há anos. Mas, se ela já mergulhou no universo dele, o contrário (ainda) não é verdade. A última novela a que Gregor assistiu foi Quatro por quatro (1995), e diz que só viu o capítulo da morte de Irene (personagem de Fernanda em Insensato coração) pela internet. Se vai se incomodar com as cenas de romance? “Não sou ciumento, confio nela. É o único jeito de dar certo”, acredita.

Modelo?

Se Fernanda é famosa (em parte) por sua beleza, Gregor não fica atrás. Seu corpo atlético rendeu um convite, no começo do ano, para participar de um comercial do estilista Marc Jacobs. Ele e mais quatro lutadores desfilaram de sunga pelas ruas de Nova York carregando uma modelo em cima de uma prancha de surf (bit.ly/gregormarc). “Morri de vergonha, as pessoas ficavam tirando foto, tinha mulher que queria pegar na gente”, lembra. Apesar de ter sido uma experiência divertida, Gregor não cogita investir na carreira. “O que vou fazer se ficar com um olho roxo ou a boca cortada? Não dá para ser lutador e modelo ao mesmo tempo”, pondera.

Para manter o físico, treina quatro horas por dia e, quando algum campeonato está próximo, corta os doces – adora sorvete – e perde 10 quilos desidratando o corpo. A preocupação com o peso, porém, não é estética. Gregor compete na categoria de até 77 quilos e, depois que passa no teste da balança, volta aos 88 quilos habituais. No meio-tempo, faz sessões de sauna e elimina os carboidratos à noite para garantir a perda de peso radical. Mas não tentem isso em casa, mulheres. Ele diz que chega a ter tontura antes de se pesar. Apesar do físico trabalhado, a vaidade passa longe de sua rotina. Para ter uma ideia, a solução encontrada para acabar com as reclamações da mãe de que estava sempre despenteado foi raspar a cabeça. Sua única vaidade são roupas. Não faltam pares de jeans Diesel, Seven for all Mankind e casacos da Hugo Boss em seu guarda-roupa.

Lá pra frente, quando chegar o dia de deixar o octógono, a vontade é abrir uma academia. “O jiu-jítsu ajuda a autoestima das pessoas. Vejo muita gente chegar na academia de cabeça baixa e depois de um tempo mudar a postura, ficar mais confiante. Quero ajudar essas pessoas.” De preferência, no Rio de Janeiro, cidade onde cresceu e que reflete o estilo de vida que deseja para seus filhos. “Quero que eles tenham uma infância parecida com a minha”, entrega o lutador. Ou seja, praia, futebol na rua, surf e, claro, muita luta.

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