O Regresso, Theeb, Brooklyn e outras obras com espírito viajante que concorrem ao Oscar 2016
Adoro Oscar. Lembro de colecionar revista Set (quem tem mais de 35 anos vai lembrar) e assistir à premiação com a tabela de indicados na mão. Em 1987, ano em que O Último Imperador, de Bernardo Bertolucci, ganhou nove estatuetas, fiquei até de madrugada assistindo. O fato de que em casa não tinha muito tabu sobre qual filme podia ou não assistir teve uma influência forte nesse meu lado cinéfila. E acabou influenciando o lado viajante também. Quem viu Thelma & Louise e não quis sair numa road trip pelos EUA? Ou explorar a América do Sul de Diários de Motocicleta? Ou encontrar um lugar com jeitão de paraíso para viver com os amigos como em A Praia?
Dia 28/02 vou assistir ao Oscar de novo para comentar os looks das moças e dos moços e torcer pelo Bryan Craston em Trumbo (sorry, Leo). E o que isso tem a ver com viagem, que é o tema da coluna? Basta que toda história, em filme ou não, é sobre viagem de alguma forma. Nem sempre no sentido literal, é claro. E quantos filmes têm uma cidade ou um país como co-protagonista, como a Nova Iorque (e Roma e Barcelona) de Woody Allen, a Paris de Amelie Poulain, o Quênia de Entre Dois Amores (que soa melhor em inglês: Out of Africa).
No Oscar 2016, o espírito viajante está bem representado entre os concorrentes a Melhor Filme. O favoritão O Regresso tem doze indicações, incluindo Leonardo Di Caprio como ator e Alejandro Gonzales Iñárritu como diretor. É um filme baseado em história real, sobre uma jornada no Velho Oeste americano – na verdade, Argentina e Canadá. Já Perdido em Marte, filmado na Jordânia, é sobre viagem espacial, transformando a ideia de Gravidade, sobre o astronauta que precisa dar um jeito de voltar para casa, num filme carismático e esperto. Além de Mad Max: Estrada da Fúria, que é uma saga veloz, absurda e violenta nos desertos da Austrália.
Na categoria Filme Estrangeiro a coisa ganha outro clima. Todos os concorrentes são filmes difíceis e algumas histórias tem poder de mostrar partes do mundo que a gente não vê de perto. Como o colombiano Abraço da Serpente, que mostra a relação entre o xamã de uma aldeia amazônica em encontro com dois cientistas diferentes, ambos pesquisando uma flor com poderes de cura. A produção em preto e branco foi filmada no Rio Amazonas e é a única concorrente latina na categoria – palpite: vai ganhar o húngaro o O Filho de Saul, sobre a Segunda Guerra Mundial.
Já Theeb conta a história de uma criança beduína vivendo numa tribo esquecida num canto do Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, em 1916, que tem a vida alterada com a chegada de um oficial britânico. É um daqueles filmes àsperos, com vento espalhando a areia pra fora da tela do cinema e paisagens incríveis filmadas no deserto árabe.
Mudando de categoria, vale mencionar Brooklyn, em que Saoirse Ronan (de Lost River) faz uma imigrante irlandesa nos EUA que tem que lidar com a volta para casa – que viajante não se identifica com isso? Saoirse concorre como melhor atriz e o roteiro é de Nick Hornby, de Alta Fidelidade.
Guardei o melhor pro fim: o lindo brasileiro O Menino e o Mundo concorre como melhor animação. É uma categoria difícil, contra um dos melhores filmes da Pixar, Divertidamente, a nova obra dos criadores de Wallace & Gromit, uma animação existencialista com roteiro de Charlie Kaufman, Anomalisa, e uma animação japonesa, As Memórias de Marnie. Ainda bem que você a gente não precisa de aprovação do Oscar para gostar do longa, que conta a história da viagem de um menino em busca do pai por uma terra distante. Fantasia da melhor qualidade.