Breve relato de uma filha bananona
Eu devia ter uns cinco anos quando meu pai me deu de presente um quadrinho em que havia o desenho de um menininho pobre segurando um peixinho pequeno e a frase “A vida se faz feliz com pequenas coisas”. Esse dia eu chorei e disse que queria doar parte dos meus brinquedos, ou seja, acho que foi a primeira vez que refleti sobre diferenças sociais e desapego dos bens materiais.
Meu pai também me ensinou a mastigar pelo menos 30 vezes cada porção de comida, razão pela qual eu sou sempre a última a terminar de comer.
Meu pai é engraçado… Acho que ele queria ter tido um filho homem e, como só teve a mim, adora me presentear com eletrônicos e conversar sobre como está o Parmêra no campeonato. Deve ser por isso que, ao conversar com terceiros, ele se refere a mim como “meu filho”.
Também foi com ele que eu aprendi a andar de bicicleta sem rodinha, num domingo à tarde no campus da Universidade de São Paulo.
Ele só não conseguiu me ensinar a guiar porque é muito exigente quando o assunto é direção (Pedro foi piloto de moto). Também, pudera: na primeira e última aula que eu tive com ele, ele queria que eu saísse de uma ladeira em Itapevi fazendo uma coisa chamada punta-taco; que eu acabei de pesquisar no Google e consiste em pisar na embreagem com o pé esquerdo e acionar os pedais do freio e do acelerador ao mesmo tempo. É óbvio que eu não ia conseguir e é óbvio que ele ficou nervoso – o que não impede de que ele sempre ralhe comigo quando eu cruzo os braços no volante. “Assim você perde a estabilidade na curva. Quem pode cruzar os braços é piloto de Fórmula 1”, ele fala.
Isso que é chato de morar longe… Porque agora eu vou sair do trabalho e não vou poder comer um bolinho com ele na casa da Vó Elza nem fazer o molho de tomate que ele tanto gosta.
E como eu sou uma bananona, hoje cedo quando eu liguei para ele eu não consegui dizer nada disso e tive que recorrer ao teclado para, nestas poucas linhas, dizer o quanto ele é importante para mim.