O escritor e poeta gaúcho estreia programa na TV Gazeta no dia 6
Ele tem mais 140 mil seguidores no Twitter, já publicou 12 livros, ganhou sete prêmios, colabora para quatro revistas, tem uma coluna em um jornal e é comentarista de uma rádio. Apesar dos números expressivos, o escritor e poeta Fabrício Carpinejar, 39, quer mais.
Sem se ater aos formatos tradicionais, o gaúcho estreia no comando do talk show A Máquina, na TV Gazeta, na próxima terça, dia 6. Já foram gravados programas com nomes como Tom Zé e a prata da casa, o redator-chefe da Trip, Lino Bocchini. A ideia é subverter a clássica divisão de papeis entre entrevistado e entrevistador. "O que a gente quer é aquela cumplicidade infantil da recreação e do intervalo da escola. O programa não vai ter papéis definidos. O convidado pode também fazer perguntas.", afirma.
Além da espontaneidade de Fabrício, o talk show modernoso conta com mais um elemento interativo: a própria máquina. O aparato cenográfico representará uma máquina antiga e dará o tom da conversa entre o apresentador e os convidados, podendo instituir punições por indelicadezas do escritor e sugerindo que o entrevistado participe de jogos.
Conversamos com Carpinejar sobre o programa, suas expectativas da estreia na TV, sobre São Paulo e muito mais. Você lê a conversa na íntegra logo abaixo.
Você é poeta e filho de poetas. Ainda lembra como a poesia entrou na sua vida? Lembra qual foi o primeiro poeta que te chamou a atenção?
O primeiro autor pelo qual eu me interessei foi o Dante Alighieri, na Divina Comédia, porque eu não entendi nada. O fato de eu não entender me excitava muito. Como sou filho de dois poetas, sou acostumado com técnicas ardilosas para incentivar a leitura. Meu pais colocavam fotos nossas de família dentro de livros. Então a gente acabava tendo que procurar nossas fotos neles. Como o livro era o portador daquela imagem, a gente pensava que tinha um significado oculto para a foto estar escondida dentro do livro e acabávamos lendo. Não tinha nada a ver [risos]! Mas a gente encontrava algum sentido...
Quando isso aconteceu você tinha quantos anos?
Como isso era um hábito de casa foi cedo. Com uns 9 anos eu comecei a procurar os livros por conta própria.
Dante ainda é dos seus preferidos? Quem são seu favoritos?
Eu gosto muito do Nicanor Parra. Ele é um anti-Neruda [Pablo Neruda, poeta também chileno] no Chile. Ele é o poeta do não. O Neruda é romântico, caudaloso, parece que vai escrever um poema no guardanapo...
Pelo jeito você não gosta de Neruda...
Eu gosto! Mas meu poeta predileto é o seu antípoda, o Nicanor Parra. Também gosto muito do Manuel Bandeira. Gosto do sacolejo das rimas.
Você acha que as redes sociais onde você é tão popular são boas plataformas para a divulgação de poesia?
Eu acho que sim. As redes socias tem contenção, síntese. E eu acho que a síntese é boa para poesia o para o desaforo [risos]. São encaixes perfeitos. É justamente essa espontâneidade do pensamento avulso divorciado, viúvo. É uma especie de moleskine. Aquela coisa da letra divorciada da melodia.
Como você vê o papel dessas redes na produção cultural hoje?
É fundamental pra produção. A gente tem a impressão que o Twitter não é rua, mas é. São como passeatas intermináveis. Todo grande assunto que entra nos tópicos é uma passeata. Acho que nunca estivemos tão bem informados como hoje. Tu vai te tornar mais crítico, mais ácido, mais debochado e mais satírico. Tem até a ver com o que eu falei do Neruda, da visão desfocada que a gente tem de amor. Porque o maior amor é aquele em que a gente já aceitou o desamor também, é o amor desidratado, é o amor que já sofreu uma separação e tem auto crítica, sabe rir de si mesmo. Não é o amor ingênuo e idealista, é o amor voraz. De quem já foi engando e se deixa enganar. As plataformas acabam ajudando nesse aglutinamento da sensibilidade. A rapidez desses meios também pode ser densa. Acaba mudando a perspectiva.
"A gente tem a impressão que o Twitter não é rua, mas é. São como passeatas intermináveis. Todo grande assunto que entra nos tópicos é uma passeata"
Vamos falar sobre o seu programa, A Máquina. Como rolou o convite?
O convite veio do núcleo de criação da TV Gazeta. Eles estavam elaborando um talk show diferente e que exigiria um raciocínio rápido, poder de improviso e espontaneidade. E aí chegaram no meu nome.
Você aceitou logo de cara?
Houve algumas conversas antes, mas a gente sempre aceita logo de cara. As conversas são só para valorizar o convite [risos].
O título é bastante sugestivo. Já dá para adiantar um pouco do que vai rolar no programa?
Serão entrevistas, mas com toda uma interação com a máquina, que é uma estrutura cenográfica e uma nostalgia "fabril", que é uma brincadeira com o meu nome. A máquina vai ter uma vida "própria". Ela pode discordar de mim ou me castigar se eu cometo alguma indelicadeza com o convidado. Ela será um terceiro elemento. O que a gente quer é aquela cumplicidade infantil da recreação e do intervalo da escola. O programa não vai ter papeis definidos. O convidado pode também fazer perguntas.
Você é é colunista do jornal Zero Hora, comentarista da Rádio Gaúcha e colaborador das revistas Caras, Cultura, Cláudia e Contigo e está preparando dois livros. Como encontrar tempo no meio de tantas atividades?
A falta de tempo gera a vontade. Eu sempre acreditei nisso. Até porque eu sou pai. Sabe aquele tempo que ninguém vê? Você sente e entra nesse tempo. Eu faço tudo isso e ainda tenho que me preocupar com o uniforme do meu filho, com o supermercado. Ele tem dez anos e está na quinta série. Eu aprendi isso com a minha mãe, isso é muito feminino. Por isso mulher nunca termina um assunto... Porque ela já está com a cabeça em outro [risos]! É só mudar a natureza do pensamento, aí ele passa a ser simultâneo.
Tem alguma atividade que você ache mais saborosa entre ser colunista, apresentador, comentarista, tuiteiro, jornalista e poeta?
Eu gosto muito de escrever crônicas e poesias. Não importa o lugar, se é no avião ou no carro. Eu não preciso do ritual para me sentir importante. A minha maior gargalhada é a dos dedos. Adoro digitar! Faço questão de usar aneis, porque eles são a dentição da minha gargalhada.
Agora a tendência é você virar um paulistano honorário, já que vai trabalhar bem no coração da Paulista. Tem um lugar favorito aqui? Um lugar em que você se sente em casa?
Eu tenho vários lugares favoritos. Adoro Higienópolis, Pinheiros, a Vila Madalena. Gosto porque São Paulo não é uma cidade que te exige, é uma cidade que te acolhe. O anonimato é muito bom. Eu gosto de falar, nem tenho esse problema, mas é bom poder passar secretamente pela cidade. É próprio do gaúcho puxar conversa. Lá se a pessoa te conhece ela vai querer falar contigo, aqui, em São Paulo, se a pessoa te conhece finge que você não existe [risos]!
O que você espera com o programa?
Espero que seja intenso, verdadeiro, produza discussão e polêmica. Eu quero mostrar que dá usar a irreverência sem ser grotesco. A gente pode também ser chato, é a liberdade de ser chato!
Vai lá: A Máquina
Quando: Terças, às 23h30
Onde: TV Gazeta
Twitter: www.twitter.com/carpinejar
Veja o teaser do programa: