Cantor e ator fala sobre filhos, casamento, carreira e diz não ter talento pra fidelidade
Fábio Jr. nunca deixa de ser assunto: seu mais recente sucesso é o filho Fiuk, as últimas notícias ainda falam do fim do sexto casamento e há poucos meses lançou seu 25° álbum. De sua estreia na TV cantando a música "Pai" até os 16 milhões de discos vendidos, muita coisa aconteceu. Foi galã de novela, punk, "putanheiro e baladeiro", sofreu por amor e, aos 57 anos, continua sem talento para fidelidade, se vê nervoso no palco e acha que a sociedade está mais careta que nunca – mas continua acreditando que a felicidade é o aqui e agora
Fábio Jr. está encucado com o aparelho de TV.
Quando chego a sua casa, um confortável imóvel de dois andares localizado em um condomínio de luxo em São Paulo, ele está diante do aparelho, com cinco controles remotos ao alcance das mãos. "Sumiram os canais, olha", e aponta para o monitor assustadoramente azul.
Em seguida, me estende um dos controles. "É o tal do universal. Deveria bastar, não?" Começo a clicar os botões. Para o observador desavisado, parece que sei exatamente o que estou fazendo, mas a verdade é que não tenho a menor ideia; estou apenas reagindo à última sentença do entrevistado: "Só tem entrevista se a TV voltar a funcionar".
Como já são dez e meia da noite de uma segunda-feira, lanço um olhar de súplica para Marcelo Naddeo, o fotógrafo que me acompanha, e ele assume o comando dos controles, enquanto levo Fábio pelos braços para a outra sala, a fim de começar o papo. "Ele vai resolver, fica tranquilo", digo a caminho do sofá sabendo que pela expressão de Naddeo a TV ficaria sem sinal por muitos dias ainda.
Como em uma cena de novela, Fábio se encaminha para a bandeja de bebidas, que fica na cômoda em frente ao piano e ao lado de um dos vários porta-retratos com fotos dos filhos, muitas de Cleo Pires, e me oferece uma taça de vinho enquanto se serve de whisky. Aceito e ligo o gravador dizendo a mim mesma que aquela talvez seja a casa mais branca que já vi na vida. Penso em perguntar o porquê de tanto branco – chão, sofás, móveis – mas Fábio me aponta a taça e brindamos: "Amém, amor", diz sorrindo.
"Parece que falta alma, não acha?"
Esqueço o branco e lembro da primeira vez que notei aquele sorriso.
Tinha 10 anos e estava vendo televisão com minha mãe. Era um seriado novo na Globo chamado Ciranda Cirandinha, espécie de Friends hippie escrito por Paulo Mendes Campos e dirigido por Daniel Filho. Fábio era um desconhecido que entrou no radar quando, durante um episódio, cantou.
A música se chamava "Pai" e ele a interpretava na sala do pequeno apartamento, com o violão, enquanto os amigos (Lucélia Santos, Jorge Fernando e Denise Bandeira) choravam. Tudo improvisado: Fábio cantou com as vísceras porque a composição, altamente sentimental, havia sido feita para o pai dele, por quem nutria devoção.
Foi esse o dia em que Fábio Jr. cruzou a fronteira da fama. Tinha 25 anos e um sorriso arrebatador.
Dezesseis milhões de discos vendidos depois, é pai de Cleo Pires, 28, Kika, 24, Tainá, 23, Filipe, o Fiuk, 20, e Zaion, 2. Aqui é bom ficar atento: Fiuk, Kika e Tainá são filhos da artista plástica Cristina Karthalian, Zaion é filho de Mari Alexandre e Cleo, de Gloria Pires.
Também fez fama como um incorrigível casadeiro. Já foram seis uniões (além das citadas acima, Tereza de Paiva, Patrícia de Sabrit e Guilhermina Guinle), e ele não descarta a sétima.
Bastaria para ser eleito um entendedor do gênero. Mas ele diz que não sabe de nada, que cada mulher é radicalmente diferente da outra, que nunca entende o que querem dele, que nós o deixamos maluco.
Mais fácil é entender vida em outros planetas: Fábio é um adorador do tema e fã de J. J. Benitez, autor da série "Cavalo de Troia", espécie de livro sagrado da ufologia.
Paulistano, é filho de um taxista dono de banca de jornal e de uma professora de música. Com os dois irmãos, formou um grupo musical na adolescência – Os Namorados. Depois de Ciranda fez novelas, sendo a última, Corpo Dourado, em 98, especiais de fim de ano e uma infinidade de álbuns.
Hoje, o galã tem a pele, a postura e a expressão de um homem de 57 anos, mas conserva o sorriso e o talento para flertar.
Por fim, descubro que a casa extravagantemente branca está com os dias contados. "Estou reformando, parece que falta alma, não acha?"
Tpm. Como você lembra da infância e da adolescência no Brooklin?
Fábio Jr. Puta, foi legal pra caramba. Era época de jogar bola na rua, era rua de terra ainda, de ir para a igreja paquerar as meninas... [faz uma pausa como quem está lembrando de alguma coisa e emenda com uma cara de safado]. Acho que isso continuou um pouquinho, né?, ainda tô na adolescência [risos]. Tem um amigo meu que fala isto: "Fábio, quando é que vai acabar sua adolescência?". Se Deus quiser, nunca.
Você ainda é esse cara de 15 anos?
O Filipe tinha 18 anos quando me disse: "Pai, pô, às vezes parece que você tem 14 anos". E eu: "Filho, você tá chamando minha atenção, mas para mim é um elogio". Hoje ele entende. Ele fala: "Tudo bem, meu pai é meio punk mesmo".
É difícil envelhecer?
Não é isso. Não estou tentando retardar nada nem adiantar nada. Eu sou desse jeito. Tenho alma de criança. E cada vez mais. Meus filhos estão criados, e isso me deixa mais tranquilo para continuar sendo esse adolescente. Estou me sentindo assim [solta o corpo para trás, larga os braços no sofá e faz som de desabafo].
É um alívio e ao mesmo tempo um orgulho ver esses caras criados?
Porra, você não tem ideia do que é isso. Falta o Zaion, que está com 2 anos, mas já vi que consigo fazer esse troço. E pela idade que eles estão, a Cleo, a Tainá, a Kika e o Filipe, eles vão me ajudar a criar o irmãozinho... Estou tão relax que você não faz ideia.
E onde ficou o adolescente quando teve que criar tantos filhos?
Olha, fui muito mais punk do que meus filhos são. Então, procuro, dentro dessa experiência, dar um toque aqui, um toque ali, mas eles já estão na idade em que as escolhas são deles, e a responsabilidade pelos desdobramentos dessas escolhas é deles também.
O que você quer dizer com punk?
Imagina usar brinco na Globo em 1978. Esse era eu. Esse sou eu.
Você está se referindo ao seriado Ciranda Cirandinha, que foi quando você mostrou que sabia compor e cantar, além de atuar?
Olha que do caralho: isso foi coisa do Daniel Filho. Ele que foi mentor dessa coisa do Ciranda Cirandinha. Eu sempre fui muito tímido, não é veadagem não, sou tímido mesmo. Se puder ficar quieto no meu canto, melhor. Aí o Daniel me convidou para fazer o Ciranda. E as reuniões eram no apartamento dele, com a Lucélia [Santos], a Denise Bandeira e o Jorginho Fernando. Eles começavam a conversar, esse troço de roteiro, e eu pegava o violão, ia para o banheiro e ficava tocando. O banheiro tinha um eco, minha voz parecia linda [risos].
Mas como aconteceu de tocar a música inteira durante o episódio?
Um dia mostrei a música para o Daniel [Filho], e teve um episódio que quando foi para o ar ele disse: "Esse episódio foi criado em sua homenagem. Chamava 'Toma que o Filho É Teu'. A Louise Cardoso fazia a mãe do meu filho, e o menino chamava Filipe, que é o nome do meu filho. Aí ele falou: "Fabinho, no fim vocês se reúnem na sala e você canta uma estrofe da música". E ele deixou gravando tudo, tem mais de 5 minutos a música. Nós quatro na sala, começou uma choradeira, e foi para o ar. O GC [gerador de caracteres] passando, os quatro na sala do apartamento chorando... imagina isso em 78.
Um punk sentimental.
Eu era aquilo: sandália de plástico, brinco com pingente... sou isso até hoje. Minha alma ainda está de chinelo de plástico. Mas não preciso andar assim mais, sou punk, mas uso outras roupas. Uso lavanda Johnson, R$ 9.
Minha impressão é a de que a caretice ainda predomina, embora você estivesse usando brinco em rede nacional de TV há 33 anos.
A sociedade ainda é careta pra caramba. Pra caramba. Até mais do que era na época. Hoje neguinho fuma, cheira e não tá nem aí. Antes, havia valores embutidos, era para se manifestar contra coisas. Hoje, neguinho serve na bandeja, pede pelo telefone, compra na esquina. Porra! Antes tinha contexto.
Te incomoda tanta caretice?
Claro, mas só não quero fazer disso uma coisa panfletária. Odeio esse troço. Porra, eu aqui com 50 anos com esse papo [imposta a voz e endireita as costas]: "Mas acho que o problema das drogas...". Vou usar sandália de plástico de novo? Ou usar brinco com pingente? Ou fazer o Ciranda? Não, né?
O que incomoda é a falta de interesse?
É isso. Agora é um foda-se. O planeta está sendo destruído, o ser humano está perdendo a capacidade de cuidar do próprio destino. Chávez [presidente da Venezuela] foi agora premiado por uma faculdade de jornalismo. Um ditador filho da puta. “Ah, deixa isso pra lá, vamos para a balada.”
A rebeldia daquela época foi em vão?
Não foi em vão nada. Dos anos 50 a 2000 aconteceu tudo. Telefone, televisão, celular, internet. Mas, espiritualmente, esses valores estão onde? Isso me irrita. Digo para os meus filhos: sejam generosos, sejam corretos, sejam íntegros.
Minha mãe fala até hoje do seu sorriso…
Mas esse sorriso foi a vida que me deu. Porque todo mundo tem motivo para fazer escolhas. Você escolhe. Você poderia escolher ver minha cara cansada, todas as dores que passei... a gente era classe média bem baixa, era duro.
"A sociedade ainda é careta. Hoje neguinho fuma, cheira e não tá nem aí. Antes, havia valores, era para se manifestar contra coisas. Hoje, neguinho serve na bandeja, pede pelo telefone, compra na esquina"
Você trabalhava com seu pai na banca de jornais?
Eu e meus irmãos. A gente acordava três, três e meia da manhã e ia para a distribuidora de revistas e jornais, no centro da cidade. Aí voltava e abria a banca às seis. Eu pegava a lista de pessoas para quem tinha que entregar os jornais e saía andando, ia a pé entregar um por um. Ficava vendo as revistas com foto de artistas e pensava: "Porra, hoje tô levando esses artistas para a casa das pessoas. Um dia, vou estar nessas revistas e alguém vai levar a revista com a minha foto para a casa de outras pessoas". Se fechar os olhos agora lembro perfeitamente desses momentos.
Você compôs a música para o seu pai?
Meu pai morava sozinho num hotelzinho aqui em São Paulo quando compus a música, ele e minha mãe se separaram cedo. Lembro dos Natais, que eram tristes, ele brigando com a minha mãe. Eu não via a hora de acabar a ceia para ir para a casa de amigos. Como chamava aquele hotelzinho mesmo... onde era? Não lembro. Perto da Raposo [Tavares] acho... Jardim Bonfiglioli... não sei. Mas ele estava sozinho e eu tinha acabado de fazer a música. Entrei com meu violão e toquei. Foi uma choradeira nós dois. Ele foi um cara muito importante para mim. Muito.
Muito diferente da sua mãe?
Ele era um cara: "E, aí, belê?", e minha mãe era mais rigorosa, sargentona. Eram muito diferentes. Tentei pegar um pouco das coisas boas de cada um. Como pai, assumo o meu jeito de ser para os meus filhos. Por isso aquilo de meus filhos estarem me libertando: "Tô com 50 e cacetada, porra, não vem agora me encher, entende?".
Já fez terapia?
Os terapeutas queriam sempre me enquadrar em alguma coisa: "Será que você é isso ou aquilo?". Aí mostrava minhas letras porque o que sou está nelas, e eles ficavam meus amigos, queriam falar dos problemas que tinham com a mulher, aí eu me mandava.
Você se vê mais no seu pai?
Meu pai era assim também. Porra, dei certo assim, meio destrambelhado, meio criança, meio infantil, meio punk... E, se eu mudar amanhã e resolver que vou virar budista, viro budista. A opinião dos outros me importa. Muito. Mas só até a página três [risos]. O que cansa um pouco é passar a vida inteira tentando provar para algumas pessoas da família que sou tão punk ou mais punk do que meu pai e que dei certo assim. Então agora sou o bacaninha, né? Punto e basta. [Ergue o copo de whisky e brinda comigo dizendo outra vez: "Amém, amor".]
A situação de conflito em sua casa deixava você inquieto?
Sou o único caso de homem que casa para sair de casa. Queria sair de casa, porra, levar minha vida, ganhar meu dinheiro, isso com 11, 12 anos. Mas saí só com 23, e para casar.
Casou só pra sair?
Casei porque estava apaixonado, primeiro. E, segundo, porque era a oportunidade de sair fora e levar a vida do meu jeito. Certo ou errado, mas do meu jeito. Naquela época, senti a mesma sensação que tenho hoje, de liberdade. Meus filhos me libertaram.
Quando seu pai morreu?
Ele morreu em abril de 82. E o sonho dele era conhecer alguém que viesse de mim, um filho, uma filha. Sempre fui muito próximo dele. Ele morreu em abril e a Cleo nasceu em outubro.
O ano de 82 foi importante então.
Uma vez encontrei com o J. J. Benitez e ele falou: "No ano de 82 aconteceu alguma coisa importante na sua vida?". E eu: "No me recuerdo...". Quando ele voltou para a Espanha eu disse: "Puta que o pariu, como não aconteceu nada? Meu pai, minha filha, meu primeiro especial na Globo...".
Você é um cara feliz?
Ser feliz é simples. É que a gente estabelece a felicidade como um lugar para chegar, um objetivo, acho que não é isso. A felicidade está aqui, agora. Agora! Já! Não é: "Se eu ganhar mais R$ 10 mil serei um cara feliz". Ou: "Se meu filho fizer medicina...". Aí você tá fodido, a vida não é isso.
O que te faz feliz?
Papel, caneta, violão, meu uisquinho, um cigarrinho, o incenso, meu gravadorzinho com fita cassete... Converso muito comigo mesmo, falo alto, digo: "Porra, onde é que tá pegando?". Vou acabar esta entrevista e falar: "Ela me disse coisas bacanas". Aí você sai daqui e eu faço uma música. É agora, não tem depois.
Era mais fácil criar quando você era duro?
Não existe isso: "Ah, tô fodido, sem grana, então faço uma música bacana". Nada a ver. Fiz tanta música triste ano passado, e tô bacana da vida. Tenho que ralar, não posso parar de trabalhar, mas o que me interessa é o verbo ser e não o ter.
"Ser feliz é simples. É que a gente estabelece a felicidade como um objetivo e acho que não é isso. A felicidade está aqui, agora. Não é: ‘Se eu ganhar mais R$ 10 mil serei feliz’. Aí você tá fodido, a vida não é isso"
Existe criação possível sem fossa?
Fossa por causa de mulher? Porra, posso estar com US$ 1 milhão e morando em Dubai, vai sair a música, não tem jeito.
Já sofreu muito por amor?
Mulheres já me fizeram sofrer um bocadinho [risos]. Mas da dor vai restar o quê? Se você se enfiar em um buraco... não, não! Vamos transformar isso aí. Já fiz letras brabas, sou uma bandeira mesmo.
Mas não tem outro jeito, tem?
Sofrer faz parte da jornada. Eu falo isso. O Filipe passou por um momento difícil agora e falei: "Filhote, não finge que não tá doendo, não faz isso, pelo amor de Deus". Ele falou: "Papito, você promete para mim que vai passar?" [faz uma pausa e chora antes de continuar, agora com a voz embargada]. Eu disse: "Prometo que vai passar, mas deixa doer". Você não pode se fechar para aquele sentimento, você vai sentir aquilo outra vez. E ele já virou a página. Yes!
Você é um cara que gosta de casar, é isso?
Teve uma namorada que me disse: "Você não gosta de casar, você gosta é de separar" [risos]. Eu gosto de ter para quem voltar. É legal.
Por que essa inquietude?
Sou meio intenso, então a fila anda. Quero chegar em casa e ver que a fila dela também andou. Eu gosto da paixão. E tem umas mulheres que conseguem deixar isso vivo. Se for só para trepar não me interessa. Aí paga e acabou. Eu quero mais, eu quero confiar, abrir minha alma, meu coração, e com todas foi assim, todas me conhecem bem. Digo aos meus filhos: "Não economizem a alma".
Casaria outra vez?
Agora? Não. Bom, também não sei. Agora não, mas amanhã pode ser [risos]. Mas prometi para os meus filhos que até o fim deste mês não caso mais. Preciso cumprir essa promessa.
Dá para ficar amigo de ex?
Só consegui ficar amigo de uma. Hoje estou morando na casa dos meus filhos, da Tainá, da Kika, do Filipe... é a casa da Cristina. Porque estou arrumando esta casa aqui. Moro com o Filipe há sete anos. Mas agora estamos lá. E olha que a gente se separou faz 20 anos, mas viramos amigos. Isso é uma experiência nova na minha vida. E tá muito legal.
Por quê?
Ah, tô com meus filhos direto. O Zaion vai toda terça e quarta para ficar comigo, estou tomando um banho de amor que você não faz ideia. Fui muito ausente durante um período: show e novela, show e novela. Hoje, o Filipe chega em casa e diz: "Oi, família!". Ele nunca teve isso. Com 13 anos ele veio morar comigo, então ele não teve isso. É muito bacana.
Que tipo de pai você é?
Fui um pai rigoroso. Para tomar banho eu dizia: "Vou contar até três". Separei quando eles eram muito pequenos, a Kika com 5, a Tainá com 6, o Filipe com 2. Virei o sargento que era a minha mãe. Agora, tô aprendendo a perder isso. Meu lado punk tá vingando. Mas tive que ser rigoroso.
Mas essa coisa de ser pai aconteceu ou você sempre quis?
Ver o primeiro filho nascer, nossa. Sempre quis ser pai e sempre quis adotar, mas nenhuma delas quis. Queria ter e adotar. Vi todos nascerem, vi o parto. Estava na sala quando o médico tirou a Cleo da barriga e eu disse: "Me dá. Eu levo para a mãe ver". Fiz isso com os cinco. Não abro mão disso: palco, filho e amizade. E uma mulher bacana [risos].
O que as mulheres querem?
Puta, você vai me arrumar uma confusão... [dá um gole no whisky e pensa]. Fêmea quer macho. Já namorei as mais loucas, as mais caretas, mas chega uma hora que não tem jeito, elas dizem: "Resolve isso?". "Resolvo." Homem da casa só tem um. E pode ser casal homossexual, é igual. Alguém é a pessoa que resolve. E sou um cara que resolve. E acho legal assim. Pode ser que amanhã eu mude de ideia, mas a fêmea quer um macho. Sei lá o que é isso, mas eu gosto desse trem.
Mulher muito magra te atrai?
Puta, mulher magérrima, tô fora. Gosto de mulher [faz sinal para mostrar as curvas do corpo feminino]. Peito, bunda, encorpada, essas magrelas...
Tipo modelo, então, não?
É uma ditadura esse troço, e não pode. A mulher tem 1,70 de altura, pesa 48 quilos e parece que vai quebrar. Não! Quero estar na cama com uma mulher de verdade. Essas magrelas não me dão tesão. [Pensa um pouco]... Bom, é segunda-feira, tá chovendo, quem sabe [risos].
Você e o Fiuk são parceiros?
A gente conversa direto. Eu digo: "Filhote, você tá legal pra caralho". Ele tem uma cabeça bacana e um coração lindo, que é o que importa. E ele tem 20 anos, não pode esquecer disso. Falo para ele: "Eu tô entendendo o que você tá falando, mas eu tenho 57 anos e enxergo um pouco mais. Não tô falando para te reprimir, só quero que tome cuidado, preste atenção nas escolhas porque daqui a 15 minutos você vai ter 25. Mais 15 e você tem 30".
Com as meninas é a mesma coisa?
Mesma coisa. Só que elas vão reagir como mulheres. Eu falo: "Filhota, xaveco é assim". E elas dizem: "Mas eu gosto dele, pai". Ah, então mete bronca. E, na hora que você der com a cara no muro, tô aqui. É simples, mas o simples é difícil. A gente perde o respeito pelo simples e quer sempre mais.
"Não tenho esse talento para ser fiel [risos]. É legal ter alguém, mas esse alguém te enchendo o saco... Deixa livre que a pessoa vem"
A Cleo, que não mora aqui, frequenta essa cena família?
Claro. Ela já veio aqui com o namorado, vem brincar com o Zaion, ela adora o moleque... São todos amigos, todos se curtem e se respeitam, e isso me deixa muito feliz.
Teve uma época que você, muito jovem, tinha grana, fama e deu uma pirada?
A grana nunca me pirou. Até atrapalhou um pouco. É óbvio que um monte de gente vai se aproximar de você porque agora você é famoso e tem grana. Falo isso para o Filipe, isso é óbvio, mas sem drama, sabe? "Ai, que chato, tô fazendo sucesso." "Ai, que chato, tô ganhando dinheiro." Tá com dinheiro? Então compra uma ilha e sai desse drama.
Você é um cara que gosta de varar a madrugada num bom papo?
Isso tô vivendo agora com meus filhos. Não é comum a televisão estar ligada, e sou fanático por televisão, mas a gente conversa muito, às vezes até quatro, cinco da manhã. Tinha uma avó da Guilhermina [Guinle], a vó Antonia, e a gente ia para a fazenda, lá no Sul, chegava à noitinha, ela toda arrumadinha, senhorinha da década de 40, babado na manga, sabe? E ela vinha com uma bandeja com uma garrafa de whisky, dois copos, um baldinho de gelo e falava assim: "Fábio, vamos tomar a nossa ração?". E a gente ferrava no papo.
Conversar com mulher é melhor?
Não é melhor, tenho meu clube do bolinha e isso é ótimo, mas o papo com mulher é essencial. Gosto da opinião da mulher, preciso da opinião de uma mulher, quero o olhar do feminino sobre as coisas.
É mais fácil satisfazer uma mulher hoje do que era há 30 anos?
Cada mulher é diferente da outra. Não sei o que vão querer de mim, o que vão esperar de mim. Não estou mais apto a agradar uma mulher hoje do que era antes. Tem mulheres velhas com 25 anos.
Você é ciumento?
Muito. E acho legal aquele ciuminho que acaba na cama. Mas gosto até um limite. O ciúme barraqueiro não acho legal. E conheço esse ciúme barraqueiro. Não gosto mesmo.
É fiel?
Acho que não tenho esse talento para ser fiel [risos]. Mas isso de: "Onde você tava?", "Por que não me ligou?", "Mas você disse que ia chegar tal hora e não chegou". Ah, porra. É legal ter alguém, mas esse alguém te enchendo o saco... Deixa livre que a pessoa vem. Às vezes, fico quietinho, sem fazer nada, e chegam pra mim: "Está quieto demais. Você conheceu alguém? Ah, conheceu! Conheceu sim!".
"Gosto da paixão. Se for só para trepar não me interessa. Aí paga e acabou. Quero confiar, abrir minha alma, meu coração, e com todas foi assim. Digo aos meus filhos: 'Não economizem a alma'"
Você sai muito à noite? Já fui putanheiro e baladeiro, não parava em casa, mas hoje no máximo vou à casa de um casal amigo aqui dentro do condomínio mesmo. Aliás, se pudesse fazer o show aqui em casa... “Ah, vem todo mundo pra cá, pode ser?” [Risos].
Cansa fazer show?
O que enche o saco é aeroporto. O palco é um tesão. É minha vida, eu amo. Você não sabe o que é. Não sei explicar, não dá. É o lugar que estou mais exposto, mas é o lugar que me sinto mais seguro. Nunca vou desistir, vou estar com 112 anos no palco. Mas fico nervoso até hoje, não tem ideia. Neguinho fala: "Fábio, não é possível, fica nervoso até hoje?". E, se não tiver alguém comigo no camarim, aí é pior. Eu entro tremendo. Começo a relaxar na terceira, quarta, quinta música.
Já entrou mal no palco?
Cansei de entrar no palco com 40 graus de febre. Ou estou separando, mal pra caramba, destruído, acabadaço, quase deitado no camarim e tenho que ir me arrastando para o palco. Aí entro e tudo muda.
Você acredita que não estamos sozinhos aqui?
Não é acreditar porque isso parece coisa de religião, de ter fé ou não. A gente tem mais de 100 milhões de galáxias, e só nós somos os reis da cocada preta? Ah, é muita arrogância, muita pretensão, muito ego... Já vi muita coisa, e não só em livros, em filmes, eu vi, e meus filhos viram comigo. É que neguinho ainda acha que esse papo é de maluco. Em 2011! É só lógico pensar assim. Mas não basta olhar para o céu, tem que olhar para o lado, ver as pessoas que te cercam, ver o que você faz de coração, tentar dimensionar as coisas bacanas, fazer o que é bacana. O simples resolve tuuuuudo, como cantou Renato Teixeira.