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por Natércia Pontes
Tpm #157

Prestes a estrear o primeiro longa, o ator tira a roupa e garante que a sensibilidade sempre foi seu trunfo

O muso dos videoclipes picantes do compositor Thiago Pethit chegou ao local marcado para a entrevista 45 minutos antes do combinado. É que seu Sol em Virgem não perdoa. O autodenominado caiçara de São Sebastião, município do litoral norte de São Paulo, é metódico, mas sem perder a doçura jamais. Seja na execução de uma canção folk nas velhas cordas de seu violão, seja no evidente desembaraço diante das lentes, enquanto posa para a câmera, Lucas Veríssimo Brilhante investe sensibilidade e intuição em tudo que faz. Talvez isso explique o currículo vasto e um tanto impressionante para os seus 23 anos de idade.

"Esse cara aqui tá dormindo, eu acredito nele", comenta se referindo a si mesmo, enquanto olha fotos feitas para este ensaio. Sobre sua forma de atuar, ele fala: "Eu me visto constantemente de outro, aí fica mais fácil abstrair na frente da câmera". Enquanto dá goles discretos em seu copo de água com gás, Lucas responde à torrente de perguntas se valendo da medida exata entre calma e intensidade. Seguro, ele garante que a estatura (1,68 metro) nunca foi motivo de complexo. Seu semblante angelical contrasta com os cabelos desgrenhados, que dão um charme cool, mas não esconde a rebeldia, ao que parece, presente desde que era um garotinho traquinas.

O filho de um investigador de polícia com uma mãe amorosa e adepta às novas tecnologias já soltou uma bomba no quintal da casa do prefeito e de alguns vereadores de sua cidade, lançou um maciço bloco de cimento na mesa dos jurados pentelhos durante uma apresentação da escola, se vestiu de mulher para pular no Bloco dos Sujos do Carnaval de São Sebastião e chorou escondido dos primos depois de ver a cena de um cavalo quebrando a pata em um filme da Sessão da tarde. A sensibilidade sempre foi seu trunfo. É por isso que se declara um pouco feminino e essencialmente feminista: "A mulher tem que cobrar com juros, sim".

Heterossexual assumido, Lucas não deixa por menos quando o assunto é identidade de gênero e causa gay: "Lamento profundamente a verticalização impositiva da sexualidade das pessoas e acredito que todas essas causas precisam ser uma questão até pararem de uma vez por todas de ser uma questão. Aí, o mundo vai ficar mais legal", enfatiza com o esmalte preto desgastado nas unhas e as mãos ornadas com dois anéis de prata fosca, assinados por ele mesmo. Sim, o dadivoso Lucas já desenhou joias durante seu primeiro ano de capital paulista e, pouco antes disso, passou um ano inteiro em seu quarto escuro vendo e revendo o filme Clube da luta e lendo os clássicos do Jack London. Depois desses intensos anos de formação, prestou vestibular para agronomia para em seguida abandonar o curso da faculdade de Lavras, "era rural demais pra mim".

Radicado há quatro anos em São Paulo e fã de Bob Dylan e Tom Waits, Lucas encontra tempo para cursar letras na USP, gerenciar a marca de roupas Singapura, discotecar todos os sábados ao lado da amiga Giovanna Rouvier na festa Amateur, do restaurante Chez Oscar, e mergulhar de cabeça em personagens de videoclipes, minisséries e e filmes, cujos convites não param de pipocar – tudo isso se locomovendo de skate. Em 2016, Lucas estreia em seu primeiro longa na comédia dramática Amores urbanos, dirigido pela cineasta Vera Egito (diretora dos curtas Elo e Espalhadas pelo ar e co-roteirista de Serra pelada). Vera é casada com o também cineasta Heitor Dhalia, diretor de filmes aclamados, como Serra pelada e O cheiro do ralo, e do videoclipe Moon, do compositor Thiago Pethit, em que Lucas interpreta um sensual garoto de programa, com cenas gays quentes.

Aliás, é o próprio Thiago quem dá a letra final sobre seu muso: "Lucas reflete um aspecto rebelde e espontâneo do nosso tempo. Além de ser um excelente ator, absurdamente instintivo, ele possui um carisma muito peculiar e icônico: algo que me faz lembrar de Joe Dallesandro nos filmes de Andy Warhol ou de River Phoenix nos anos 1990. Pra mim, ele é um descendente direto dessas personalidades jovens e estranhamente incompreendidas, como um James Dean contemporâneo".

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