E aí? Tudo bem? Na correria?

por Mariana Perroni

Já faz um tempo que tenho tido um certo bode de perguntar para as pessoas como elas estão.

Já faz um tempo que tenho tido um pouco de bode de perguntar para as pessoas como elas estão. Não para os meus pacientes, obviamente. Até porque essa pergunta é um dos meus instrumentos de trabalho... Mas para meus conhecidos, amigos e parentes.

Sou mal educada? Juro que não. Sempre uso "por favor" e "com licença", dou passagem para quem está na faixa de pedestres e até trocar os talheres de mão para comer (faca na direita para cortar e garfo na direita para levar à boca) eu sei.

Não tenho perguntado para meus conhecidos como eles estão por um motivo bem simples: porque a resposta é sempre a mesma. "Ai, só na correria/loucura/corre-corre/cansaço/bagunça". E eu não sou exceção.

Também vivo assim e já dei essa resposta incontáveis vezes. Nessa semana que passou, por exemplo, dei plantão na segunda e terça-feira à noite na UTI, viajei a trabalho para Salvador na quarta-feira para uma aula à noite e uma reunião na quinta de manhã, voltei para São Paulo e tive duas reuniões com chefes na sexta-feira. Sendo bem sincera, meu enfado não está na resposta sempre igual. Mas nos pensamentos que isso me traz, pois percebo que bobeamos. Feio.

Não demos conta de tudo hoje? Não somos os únicos, é verdade. Só que talvez nós mesmos sejamos os culpados. Primeiro porque perdemos o momento absurdo em que vinte e quatro horas passaram a ser pouco para dar conta das exigências da vida profissional e pessoal. O momento em que o fato de necessitarmos de oito horas de sono passou a ser mal visto, tornando-se sinônimo de fraqueza e/ou vagabundice. O momento em que o stress e a correria se tornaram norma. E, segundo, porque aceitamos tudo isso.

Se você não era um nerd da biologia no colégio nem trabalha na área de biológicas, acho difícil que lembre do que é um telômero. Mas não tem problema. Telômero é o nome da extremidade do cromossomos, o segmento que mantém a estabilidade estrutural deles.

Traduzindo: os telômeros garantem que o DNA da célula seja copiado sem erros quando ela se divide. Só que, ao longo da vida, com o avançar da idade e as sucessivas divisões de nossas células, eles vão se tornando cada vez menores e, consequentemente, cada vez menos capazes de evitar esses erros.

Por sua vez, esse acúmulo de erros resulta na progressão para doenças relacionadas ao envelhecimento e, inevitavelmente, para a morte. Extrapolando um pouco, há, inclusive, teorias de que a prevenção do encurtamento deles seja a chave para se viver 500 anos (a superlongevidade).

Estou falando de telômero num texto sobre correria do mundo moderno porque, na semana passada, o resultado de um estudo rodou jornais médicos estrangeiros e imagino que jajá o alarde chegue aqui. Pesquisadores finlandeses verificaram que os telômeros de indivíduos com empregos e rotinas estressantes são significativamente menores que os de pessoas com vidas mais calmas (sensatas?), digamos assim.

O significado disso é que as pessoas estressadas podem desenvolver Parkinson, Diabetes tipo II, eventos cardiovasculares (infartos, AVCs) e câncer mais cedo que aquelas que respeitam os limites do próprio corpo.

Em resumo, é verdadeira a crença popular de que o stress e tensão envelhecem as pessoas antes do tempo. Como se já não bastasse a vida em grandes centros ser prejudicial à saúde mental e a privação do sono comprometer a capacidade de julgamento.

Não estou sugerindo que haja pânico generalizado, que chutemos os computadores do escritório e mudemos para Pipa para ganhar a vida vendendo sanduíche natural com ingredientes vindos hortas sustentáveis atrás de nossas barracas. Na verdade, escrevi esse texto torcendo para que a divulgação dos resultados do estudo motive discussões relacionadas à produtividade e ao regime de trabalho tido como normal atualmente.

Certamente vai ter quem diga que já sabia disso tudo e que o estudo não acrescenta nada. Eu discordo. Acho que, ao elucidar esse mecanismo, saímos do empirismo e nosso poder de argumentação aumenta. Nem que seja para, quem sabe, buscarmos estratégias que nos possibilitem ter respostas diferentes quando alguém nos perguntar como estamos.

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