Não é de viagra que os homens precisam, é de duas aspirinas e cama
Sexo já foi mais previsível. Os homens diziam “sim” e as mulheres falavam “não” – até mesmo, ou especialmente, quando queriam dizer “sim”, o que até hoje gera uma quantidade incrível de mal-entendidos.
Mas era assim que a coisa funcionava, salvo aquelas exceções que confirmam a regra, como a rapariga cantada por Chico Buarque em seu “Folhetim”: “Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim”.
Hoje, não.
Hoje, as mulheres enfim são livres para dizer “sim” sempre que quiserem. Ninguém mais se espanta com isso. Ninguém, a não ser os homens. E talvez se trate mais de pavor que propriamente de espanto, como revela a reportagem “Hoje não, querida, tô com dor de cabeça” (o título é autoexplicativo), lá na página 52.
Exagero? Olha o caso da Dora, 31 anos, casada há dois. Resumindo uma longa história, ela queria mais sexo do que ele. Dava uma indireta aqui, outra ali, e nada. Sutileza às vezes atrapalha. Decidiu ser um pouco mais, hum, explícita e enviou no meio da tarde um SMS: “Hoje quero pau”.
Ficou claro? Alguma dúvida do que Dora queria dizer? Calma, não se precipita. Às vezes, você sabe, uma frase pode dar margem a várias interpretações. Hermenêutica nunca é demais, atenção ao subtexto. Deixa aflorar o Champollion que existe dentro de você. Isso. Pois bem, tudo leva a crer que, na realidade, ela queria dizer, veja só, exatamente o que escreveu.
Mas, surpresa. Fosse um jogo de batalha-naval, a resposta ao torpedo de Dora seria “água”. Pois é. O marido fingiu que não entendeu, mudou de assunto, fugiu à responsabilidade, esquivou-se. Por quê?
Aqui é a vez de as mulheres surtarem na interpretação de texto ou na leitura dos sinais. Em vez de entender, óbvio e ululante, que o problema é com ele, baixa aquela sensação de culpa. “Será que estou feia? Será que sou oferecida? Será que minha unha está malfeita?”
O psicanalista Nelson da Silva Junior dá uma pista mais concreta do que está por trás dessa súbita epidemia de dor de cabeça masculina: “Se as mulheres conquistaram o lugar de desejantes, os homens ocuparam o lugar de desejados. E não havia cartilhas culturais para isso”.
Não é de Viagra que os homens precisam, é de duas aspirinas. E cama.
Fernando Luna, diretor editorial