Tpm

por Nina Lemos
Tpm #142

Nina Lemos: ’Eles tentaram me levar para o Rehab. E eu disse sim, sim, sim!’

Uma semana sem redes sociais: uma semana sem brigar, acompanhar polêmicas bobas, lendo mais livros. Mas, no fim, quem me salvou de um perigo real? O Twitter!

Quantas vezes, em um dia normal, eu checo rede social? Conto por alto: entro umas cem vezes no Twitter. Outras cem no Facebook. E mais umas 20 no Instagram. Sou viciada em redes sociais. Mais que isso, viciada em iPhone. Nas vezes em que roubaram o meu, fui correndo para a loja comprar outro.

“Quem topa fazer o detox digital?” Todo mundo na sala de reunião da Tpm e da Trip, que discutem o tema veneno este mês, disse não, ao mesmo tempo em que olhava para mim. Eu devia ser a mais viciada da sala. Eles me mandaram para o rehab e eu disse sim, sim, sim.

Comecei aos poucos. Me obriguei a não postar no Twitter nos primeiros dias. Só via, mas não dava opinião. Depois, tirei o feed do Facebook do meu celular. Eu ODEIO o Facebook, mas esse foi o vício mais difícil de largar e o nome disso é síndrome de Estocolmo: sou refém emocional do Mark Zuckerberg. Odeio as brigas no Facebook, odeio ver que as pessoas passam o dia inteiro ali (Narciso acha feio o que é espelho) e me odeio por não conseguir ficar longe daquilo.

Dica: se você também foi sequestrada pelo Mark, tire o Facebook do seu iPhone. Meus dias foram lindos sem ele. Li dois livros e, hospedada na casa da minha mãe, no Rio de Janeiro, olhava para ela com pena quando via que, pela manhã, ela fazia o que faço todo dia: “checava o Facebook”.

Ficar longe do Twitter fez mais falta. Sozinha, na praia, meio fóbica, sentia vontade de falar com meus amigos, porque, sim, eu tenho amigos de Twitter. Adotei a técnica de fazer Twitter mental. Eu inventava o tuíte, mas não publicava. Não esperava tanto sucesso. Lá pelo terceiro dia do detox simplesmente parei de olhar o Twitter e o Facebook. A solidão, na praia, ficou maior, sim. Porque, quando estou com o Twitter, posso narrar minha vida. E é isso o que fazemos na rede social, narramos. Estou na praia, mas, além de olhar o mar, quero contar que fui chamada de novo de Amy Winehouse por um passante.

Fiz meu rehab no feriado da Semana Santa. Fui muito à praia e fiz fotos, mas não postei nenhuma. E isso não fez falta. Ficar sem o Instagram é moleza. Não vi a felicidade dos outros (o que sempre me irrita) e não exibi a minha. Simples.

Quando voltei do rehab, descobri que tinha perdido várias polêmicas e dei graças a Deus por não ter participado de nenhuma. Eu teria, sim, por vício, me metido. E olhar de longe as pessoas que passaram o feriado no Facebook me fez achar, com ar de superioridade, que elas eram loucas, enquanto pegava meu romance do Roberto Bolaño.

No sétimo e último dia do desafio, totalmente adaptada à minha vida sem rede social, fui à praia com minhas amigas Jô e Dani. Estamos lá calmas até que a Jô entra no Twitter e descobre que DG, seu colega no programa Esquenta, do qual ela é roteirista, tinha sido assassinado. Ficamos comovidas, mas não entrei no Twitter. Só acompanhei o que ela me contava. Até que ela, celular na mão, diz: “IH, GENTE, ESTÃO QUEIMANDO TUDO AQUI EMBAIXO”. O aqui embaixo significava que aquele helicóptero que ouvíamos estava em cima da favela do Pavão Pavãozinho, onde moradores entravam em choque com a polícia, após a morte de DG. Estávamos AO LADO da zona de conflito. Ironia do destino, em pleno rehab, fui salva pelo Twitter da minha amiga. Claro, nessa hora meu detox acabou, por motivo de sobrevivência: depois de uma semana distante, entrei na rede e perguntei: “Está tendo problema em Copacabana?”, no que fui alertada de que sim, tinha, e eu devia cair fora o mais rápido possível.

Foi o que fiz. Ficar sem internet é ótimo. Mas o Twitter, bem, ele pode salvar a sua vida. Ah, pretendo voltar a fazer detox. Mas não mudei nada. Um dia depois já estou viciada de novo.

Foi bom, mas o Mark já me capturou para seu ninho. Droga!

Dia 1

Sem Facebook, recebo uma notificação de que me envolveram em uma polêmica, me chamando de “esquerdista de butique”. Não fui checar. Vi o Twitter, sem escrever. Fiz tuítes mentais. Viciei no reality- show sobre as Kardashians. E acabei de ler um romance.

Dia 2

Recaí. Entrei no Twitter e todos falavam de um jornalista dinamarquês. Não pude, mas quis participar de várias discussões. Me senti injustiçada em uma situação e quis MUITO entrar no Facebook para mandar uma indireta. Não fiz, mas pensei em várias.

Dia 3

Sem Facebook no celular. Não trapaceei entrando pelo site e também não entrei nenhuma vez no Twitter. Esqueci o Instagram. Sem tremores.

Dia 4

Fui à praia sozinha – e sem Twitter. A sensação de solidão foi horrível (porque o Twitter é uma companhia, sim). Achei que ia ter um ataque de pânico e tomei três gotas de Rivotril. Me concentrei no jornal, no livro do Bolaño e passou. Mas foi bem ruim.

Dia 5

Nenhuma vontade de entrar em nenhuma rede social. Fui almoçar com amigos e eles comentavam recentes polêmicas nas redes. Não me abalei. Fui a uma livraria. Tinha acabado o livro do Bolaño. Achei um que eu não tinha lido, do Phillip Roth.

Dia 6

Nenhuma falta das redes. Fui à praia e fiz fotos que não postei. Minha amiga Jô me contou algumas polêmicas e a Eva (diretora de mídias eletrônicas da Trip) me mandou o link de uma polêmica no Facebook, só pra me tentar. Olhei bem rápido e saí.

Dia 7

Estou na praia e no fim da tarde explodem bombas e a notícia do assassinato do dançarino DG, no Pavão Pavãozinho. Estou do lado. Sou salva pelo fato de a minha amiga estar no Twitter. Entro rápido também, em busca de informações. E elas ajudam!

fechar