Comer fora em tempos de inflação

por Ana Manfrinatto

Inflação galopante muda o comportamento em restaurantes argentinos

Não vou saber falar de taxas nem nada do estilo, mas que existe uma inflação galopante aqui em Buenos Aires, ô se existe! Outro dia eu paguei quatro pesos em UM pêssego e também já paguei dez pesos em uma garrafa de 1,5 litros de Coca-Cola.

Daí que a minha queridíssima revista Planeta Joy fez uma matéria sobre o impacto da inflação no comportamento das pessoas que frequentam restaurantes. Eles dizem que o preço do plano de saúde, do condomínio e da tevê a cabo sobem pelo elevador enquanto o do salário vai pela escada. O que é uma grande verdade.

E que, paradoxalmente, os restaurantes continuam trabalhando a todo vapor mesmo em tempos de inflação. A explicação dos empresários do ramo é que as pessoas não deixaram de sair para comer fora mas que, no entanto, o fazem de uma forma diferente: gastando com mais parcimônia.

É aí que entra o top five da revista com as tendências mais relevantes observadas nos restaurantes de Buenos Aires. E também a dica pra quem anda com o orçamento curto, quer economizar porque sim ou porque, como o meu tio Matraquinha, diz que o dinheiro é como pé de cobra. “Quem vê morre”!

Os descontos definem as saídas
Há dois anos, quem tirava um cupom de desconto da carteira corria o sério risco de ser chamado de pão-duro. Mas agora, se ele pegar um cartão de desconto do banco, ele é tido como um consumidor inteligente. Em tempos de inflação, as pessoas são muito mais permeáveis às promoções. Tanto é que antes de realizar uma compra, a pergunta é “com qual cartão eu tenho desconto?”. Segundo Jorge Ramallo da consultora Food Service Group, esta é uma regra que vale pra todo mundo exceto para o segmento mais alto da pirâmide.

Privilegia-se a segunda-feira como dia de comer fora
Porque este é o dia que os restaurantes oferecem os melhores descontos (que podem chegar a até 50%). Tanto é que é difícil encontrar mesa neste dia: às dez da noite tem gente fazendo fila na porta de bares e restaurantes.

Cada vez mais as pessoas levam o próprio vinho ao restaurante
Há alguns anos, era raríssimo que um restaurante tivesse serviço de descorche (tipo, cada pessoa leva sua própria garrafa de vinho e o estabelecimento cobra o valor do vinho mais barato do cardápio ou um preço fixo ao redor de 30 pesos). O descorche era um consolo para os bons bebedores em restaurantes com uma carta de vinhos meia-boca. Mas agora é mais uma boa opção para diminuir o valor final da conta. A tendência explica o aumento do número de restaurantes com descorche. Segundo a consultora Moebius Marketing, o número aumentou 27% e já atinge cerca de 650 estabelecimentos.

Prato para dividir
Uma das formas mais óbvias de diminuir o preço da conta é pedir um prato barato. No entanto, não é o que acontece nos restaurantes. Os pratos mais elaborados e sofisticados (que geralmente são os mais caros)continuam sendo os preferidos... mas agora são divididos! Empresários gastronômicos consultados disseram que os consumidores preferem gastar na bebida e ajustar os gastos na bebida: quem pedia um vinho de 150 pesos agora pede um de 60. A consequência deste fenômeno é que, cada vez mais, os restaurantes cobram um preço extra para quem divide os pratos.

As pessoas pedem para embrulhar o que sobrou
Antes, se sobrava comida no prato, o cliente deixava os restos, pagava a conta e ia embora. Mas agora os argentinos adotaram este costume de pedir para que o garçom embrulhe a sobra para levar para casa, uma modalidade conhecida nos Estados Unidos como “doggy bag” (sacolinha para o cachorro). Antigamente os garçons olhavam feio para quem fazia o pedido mas, agora, os restaurantes estão preparados e tem até bandejinhas de alumínio.

fechar