Com que roupa?
A moda é atraente a ponto de fazer você passar mais tempo do que gostaria na frente do espelho?
Créditos: Acervo Pessoal Bruna Boop
em 5 de junho de 2012
No colégio, eu era da turma que usava tênis Bamba, regata Hering e o jeans que melhor vestisse. Olhava a turma de Keds, moletom Ralph Lauren e calça Levi’s e virava e mexia me pegava querendo aquelas roupas. É nisso que dá estudar em escola que não obriga o uso do uniforme: você acaba criando o desejo de ter o que não pode. Como a moda (e a marca da vez) pode ser tão atraente a ponto de fazer você passar mais tempo do que gostaria na frente do espelho – e do armário?
Vestir-se bem é sedutor. E muito. Repara quantos minutos extras você leva para se arrumar no dia daquela reunião. Até quando chega o delivery você se troca correndo para não ir à portaria com aquela calça de cinco anos atrás. E, quando aparece um convite de casamento, toca ir à procura de um vestido exclusivo – e novo. Essa preocupação toda tem fundamento, afinal, é inevitável ser julgado pela aparência. Julgar os outros é mesmo tentador, não? E o preconceito que vem aí embutido, ainda por cima, existe por quem se veste mal e também por quem se exibe impecável demais. Veja só, até a boa aparência é condenável.
Quando se trata de uma modelo, então, a “discriminação” chega com peso maior. Fomos procurar entender a história da top que vive inserida no mundo da moda desde os 16 anos (hoje, aos 32, comanda um programa sobre o tema na MTV). Descobrimos uma Carol Ribeiro com uma visão crítica que pouca gente tem. Veterana no mundinho, em vez de confirmar os rótulos que poderiam caber a ela nesse campo minado, Carol se distancia daquela caricatura da modelo bonita e burra e opina, com propriedade, sobre o que viu e o que viveu. “Viramos consumistas, estamos com poder e sem cultura. Daqui para a frente, quem não tiver educação vai ficar para trás.”
E quem só correr atrás das últimas tendências (e não são poucas) para estar em dia com o espelho dos outros vai ver o armário cada vez mais cheio e a individualidade cada vez mais distante. “Ser vítima da moda é querer ser uma mulher que você não é”, resume Regina Guerreiro, a editora mais importante do país, nas Páginas Vermelhas. Aos 72 anos, há muitos está cansada da banalização da moda e do corpo da mulher, das roupas todas iguais, das pessoas “sem contraste”.
Falando em estereótipo, lembro que na edição passada saiu o Manifesto Tpm “contra os novos clichês femininos e os velhos estereótipos, contra qualquer tentativa de enquadrar a mulher em um padrão, cercar seu desejo e diminuir suas possibilidades” (Se deixou passar, veja na íntegra no revistatpm.uol.com.br/manifesto).
Se liberdade é ser a mulher que você quer ser, diz aí: você é livre? Mesmo? Até para se vestir?
Carol Sganzerla, diretora de redação
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