por Layse Moraes

A escritora fala sobre novo livro, ”Cidade grande no escuro”, e relança seus primeiros trabalhos

Final da década de 90. Clara Averbuck escrevia para o famoso mailzine CardosOnline, que lançou vários escritores - como Daniel Galera e Daniel Pellizzari. Muita coisa iria rolar para ela a partir daí.

Clara sempre escreveu, só não sabia que queria ser escritora. Queria outra coisa, ser cantora, ter banda. De lá pra cá, mudou-se de Porto Alegre para São Paulo e estreou na literatura em 2002, com o romance Máquina de Pinball. Depois dele, publicou outros três livros: Das coisas esquecidas atrás da estante (2003), Vida de Gato (2004) e Nossa senhora da pequena morte (2008).

Nesta quarta-feira, 28, seus três primeiros livros serão relançados junto com o inédito Cidade grande no escuro, que traz crônicas e outros textos. As ilustrações das capas são de Eva Uviedo.

Clara conversou com a Tpm sobre sua escrita e reforçou: ela não é os personagens que escreve. “Todos os personagens são falsos, inclusive nós.”

Tpm. A mudança de Porto Alegre pra São Paulo foi como um empurrão pra escrita do seu primeiro livro. O que te fez continuar escrevendo? Você sempre soube que queria ser escritora?
Clara.
Eu sempre escrevi, mas não sabia que queria ser escritora.  Escrever era natural, algo que eu simplesmente fazia. Eu queria mesmo era ser cantora, ter banda. Mas lá pelos 20 anos eu fui tomada pelo delírio do escritor, que eu curto chamar de síndrome de Bandini, o personagem do John Fante que era apaixonado pelo ofício. Escrevo desde tão cedo que resolvi publicar no ano que vem uma historinha que escrevi aos 9 anos, chamada O gato xadrez, que está sendo ilustrada por um artista e grafiteiro chamado Piá. O livrinho está ficando bem lindo. Eu não saberia dizer o que me faz continuar escrevendo. Mas sei também que não saberia parar. 

Quando saiu Máquina de Pinball, todo mundo ligava a personagem Camila a você, como se escritor e personagem fossem a mesma pessoa. Como você lida com a vida vivida em relação a sua literatura? Acha que as duas coisas realmente se confundem ou uma coisa é só ponto de partida para outra? Eu uso a vida como matéria-prima, e é só isso que precisam saber. A partir do momento em que está escrito, vira outra vida, outra história, ficção. Essa fixação da galera com a "verdade" é muito limitada. E sim, é um saco as pessoas achando que me conhecem porque leram minhas obras de ficção. Quando lancei o Máquina de Pinball, não sabia que essa encheção se estenderia para minha vida, então brincava bastante com isso em entrevistas e tudo mais. Vale falar agora: eu não sou a Camila! E, como escrevi em várias dedicatórias: "Todos os personagens são falsos, inclusive nós".

Como é o seu processo de escrita? A escritora Juliana Frank disse recentemente que no quesito ritmo você é a rainha da bateria. Essa literatura tão fluida é resultado de algum tipo de preparação ou você deixa acontecer? Deixo acontecer. Eu penso bastante antes de escrever, às vezes anoto umas ideias na rua, chego em casa e continuo dali. Mas preciso anotar, senão a ideia vai embora. Aprendi isso com o tempo. Antes, pra não esquecer, eu andava com um caderno e escrevia onde estivesse, no bar, no sofá da balada, onde fosse. Agora eu meio que edito na cabeça antes de escrever.
 
Seus três primeiros livros vão ser relançados agora junto com Cidade grande no escuro, que é inédito. Conta um pouco sobre ele? É um livro de contos e crônicas? Quando esses textos foram escritos? É de crônicas e uns outros textos. Está dividido em "cabeça" e "coração". São os meus preferidos ao longo dos anos que venho publicando. Tem texto de 2003 até 2012, publicados em jornais, revistas, blogs, enfim, por aí. Teve uma época que eu parei de escrever, entre 2009 e 2010, voltando aos poucos em 2011 e retomando de vez em 2012. Então tem coisa de várias fases misturadas.

Você vê diferença entre escrever romances e narrativas mais curtas? Tem preferência por algum gênero? Eu gosto de escrever. É diferente, claro, mas é escrever. Eu gosto de tudo.  

Você anunciou esses dias que já começou a escrever um novo livro, que vai se chamar Toureando o diabo.  Dá pra contar um pouco de como ele vai ser? É a história da Ira, uma moça que tinha uma relação conturbada e abusiva com um namorado babaca e resolve cair fora daquilo tudo. Então é a Ira se reconstruindo, se despedaçando, conhecendo outros e lidando com o ex-namorado maluco que insiste em persegui-la. Ainda não sei o resto, acabei de começar, por enquanto é isso.

Entre todos os seus livros, tem algum que você goste mais? O Vida de gato. Eu entrei em um transe criativo naquela época, não fazia nada, não saía de casa, só escrevia escrevia escrevia. Gosto muito do resultado.  

O que você tem lido (e gostado) ultimamente? E o que lê sempre e não deixa nunca de gostar? Fante eu vou ler pra sempre e gostar cada vez mais, assim como João Antônio e Carmen da Silva. Eu leio bastante quadrinhos, o último que li foi Are You My Mother, da Alison Bechdel, que é genial. Gostei muito mesmo do Bandidos Cósmicos, do Allan Weisbecker, um livro maluco sobre traficantes, física quântica e um cachorro chamado Galalau. 

Por que você escreve? O que te motiva? Leminski responde por mim:

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Vai lá: Lançamento de Cidade grande no escuro e relançamento de Máquina de Pinball, Das coisas esquecidas atrás da estante e Vida de Gato (Editora 7 letras)
Quando: 28/11 - quarta-feira, às 19h
Onde: Livraria da Vila do Shopping Higienópolis - Av. Higienópolis, 618 - São Paulo/SP
Fanpage: www.facebook.com/caverbuck 

(*) Layse Moraes é uma jornalista apaixonada por livros e mantém o blog Coração Nonsense

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