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por Gaía Passarelli
Tpm #118

Guitarrista, VJ, roqueiro, 34 anos, ele mostra que um homem sexy não se faz só de músculos e ganha relato apaixonado da namorada

Uma das primeiras coisas que aprendi sobre o Chuck é que, como eu, ele nasceu em 1977. E que quem o conhece de verdade o chama pelo nome de batismo, Eduardo. Foi assim que ele se apresentou para a minha família quando chegou a hora. Mas, quando nos conhecemos, ele me olhou com aqueles olhos que podem ser verdes, azuis ou cinza – dependendo do dia – e disse: “Oi, eu sou o Chuck”. Meu coração pulou uma batida e, por isso, Chuck é o nome que uso até hoje. É um apelido charmoso, como se meu namorado fosse alguém saído de um filme dos anos 50, usando jeans velho e camiseta branca justa.

Nos vimos pela primeira vez na emissora onde o Eduardo virou Chuck, a MTV do fim dos anos 90, quando ele dirigia o Piores clipes do mundo com o Marcos Mion. A lenda diz que, ainda estagiário, alguém da produção começou a zoar com o cabelo pintado de vermelho que ele usava, igual ao brinquedo assassino, e o fato de ter detestado o apelido foi o suficiente para fazer pegar. A gente deve ter repartido elevador uma ou duas vezes, cada um olhando para os próprios pés, e hoje ele diz que queria me conhecer desde então. Eu saí da MTV, ele também, mas fiquei torcendo para o meu futuro reservar um namorado magrinho e tatuado usando Converses velhos.

A mudança grande chegou

Foi na mesma emissora que nos reencontramos, numa tarde chuvosa de sábado, no fim de 2010. Nos mais de dez anos que passaram antes desse dia eu comecei a escrever sobre música, viajei, casei, tive um filho, mudei de cidade, separei e voltei para a MTV para apresentar um programa musical. Nesse mesmo tempo ele levou a sério a banda (Forgotten Boys, a qual deixou em 2009), passou uma temporada nos EUA, voltou para o Brasil, casou, teve uma filha, morou no Rio de Janeiro, separou e voltou à MTV para apresentar um programa musical, o Big Audio. Quando, no penúltimo dia de 2010, sentamos para tomar uma cerveja e conversar direito pela primeira vez (eu que convidei, apesar de ele dizer o contrário), foi imediato: passamos o réveillon e os quatro primeiros dias do ano em casa, mostrando músicas um ao outro, felizes pelo encontro no momento certo e rindo das coisas em comum: achar que o New Adventures in HiFi é o melhor disco do R.E.M., odiar Carnaval e preferir gatos a cachorros.

Salto para 2012: logo no começo do ano montamos juntos uma casa cheia de discos, gatos, livros e brinquedos de criança. Eu tenho um filho de 7 anos, do meu casamento anterior. Ele tem uma filha de 3, doce herança do casamento com a atriz Débora Falabella, que durou seis anos. A pequena Nina é alegre e carrega os olhos claros da família do pai. Vive entre Rio e São Paulo, e Chuck é um pai preocupado em aproveitar ao máximo o pouco tempo que os dois têm juntos: prepara a comida que a filha gosta, coloca para dormir inventando histórias, encontra músicas que ela gosta de cantar e dançar.

 

“Nas horas de folga, a gente dá risada das situações em que o trabalho nos coloca todos os dias, enquanto abrimos uma cerveja na cozinha ou vamos para a cama mais cedo depois de um dia cansativo”

 

Entre as caixas e a bagunça da recém mudança e a nova rotina, nosso namoro segue baseado em música. Tanto que instalar o sistema de som e guardar os discos (os preferidos dele são O passo do lui, dos Paralamas, My aim is true, do ídolo Elvis Costello, Mermaid avenue, do Wilco com Billy Brag, e Uprising, do Bob Marley... Um cara eclético) foram as primeiras providências da casa. Importante pra mim, essencial pra ele. Não estou falando sobre tocar guitarra na sala nem sobre passar a eternidade trancado no estúdio, mas de uma saudável competição de um mostrar ao outro algo que ainda não conhece, ouvir, conversar, resgatar um disco antigo, seguir os links de Twitter e Facebook – ele é usuário doente.

Você me conta como foi seu dia

Para garotas que precisam de muita atenção, essa dedicação total à música pode ser frustrante. Mas é preciso deixar rolar e nunca vou poder culpá-lo por seus interesses exagerados (ele também é louco por peixes, hambúrgueres e, bem, equipamento de gravação de áudio), já que também tenho os meus. Chuck é um namorado atencioso, com tempo para tudo que me diz respeito. Tem essa mania de sempre achar algo positivo para falar, que alguns podem confundir com um desejo de querer agradar o tempo todo, mas que vejo como um jeito tranquilo de encarar a vida e guardar energia para o que importa. O que realmente importa, segundo ele, é o amor.

Tanto amor acrescenta algo irritante nessa fixação musical, sim, e é quando ele se apropria dos meus gostos e fica “dono” de uma banda ou artista que mostrei primeiro. Ou quando rouba minhas camisetas preferidas pra usar na TV e ganhar elogios com ela – tipo uma da Shakira que ele comprou de presente pra mim, durante a cobertura do Rock in Rio, mas é ele quem usa! Ser VJ mudou a vida dos dois. Nas horas de folga, a gente dá risada das situações em que o trabalho nos coloca todos os dias, enquanto abrimos uma cerveja na cozinha ou vamos para a cama mais cedo depois de um dia cansativo. Curtimos essa fase de trabalhar juntos, sabendo que a vida pode perfeitamente não ser assim amanhã. E tudo bem.

 

“Saímos da MTV, mas fiquei torcendo para o meu futuro reservar um namorado magrinho e tatuado usando Converses velhos”

 

Existe o assédio também, resultado apenas de ser quem é. Mas Chuck já estava acostumado a ser famoso com os Forgotten Boys – e durante o casamento com a Débora. Então, hoje em dia, quando qualquer ida a supermercado envolve um “e aí, Chuck”, ele não se acanha e tira algo de bom da experiência. Mantém o bom humor quando uma adolescente pede para tirar uma foto e atrapalha a gravação. O que é irritante, pra ele, são fãs que pegam no pé sem saber da sua música. Por isso, ele recebe com honesta satisfação quem curte os shows da Vespas Mandarinas, banda à qual se dedica nos últimos dois anos e faz (como ele gosta de dizer) pop rock nacional com letras em português. A banda, sem se apoiar no trabalho de Chuck na MTV, conquistou uma base de fãs e está para gravar seu primeiro álbum. É isso que realmente o deixa feliz. Ele promete lançar o CD e sair em turnê. Mas é para essa etapa que eu, a namorada do VJ gato guitarrista, não estou pronta. Para sentir a falta dele durante dias, deixar um monte de gente chegar perto do que quero só pra mim, lembrar como ele tira a camisa em casa quando está calor, como ele é nas fotos que você está vendo agora, cheio desse charme sujinho que Eduardo/Chuck carrega: meio bom moço, meio outsider, totalmente não dando a mínima.

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