Chegue na hora. Saia na hora

por Tania Menai
Tpm #140

Em Manhattan, com exceção das festas íntimas, os eventos começam cedo e acabam cedo

Quando recebi meu primeiro convite de festa – já não lembro qual – em Nova York tive um dos meus primeiros choques culturais. Como assim? Hora para começar e hora para acabar? Quer dizer que, quando bater 11 da noite, as luzes irão se apagar, alguém vai sair varrendo e a carruagem vai virar abóbora? Isso mesmo. É assim que funcionam os eventos nesta cultura e hoje eu posso garantir: adoro. Tudo começa cedo, acaba cedo, as pessoas chegam na hora e vão embora um pouco depois da hora marcada. Claro que, quando o evento é íntimo, na casa de alguém, as pessoas ficam sem hora para ir embora. E ainda ajudam a dar uma geral pós-festa. Hoje, posso garantir: esse modus operandi é a glória.

Por mais estranho que pareça, um evento com hora para acabar facilita a vida de todo mundo. Digamos que se trata de um coquetel para um lançamento de livro: quem vai direto do trabalho e sabe que vai se atrasar pode calcular até que horas vale a pena chegar. Se o evento durar apenas 2 horas, talvez seja melhor nem ir. Para quem está sendo pago para trabalhar na organização, sabe-se a hora de começar a limpar e a desmontar. E, para quem está recebendo os convidados, há sempre tempo de esticar num jantar com as pessoas mais íntimas. Festas infantis, então, são uma maravilha. Duram 2 horas, no máximo 3. Como diz uma amiga, nem dá tempo de as crianças pedirem para ir ao banheiro ou criar intrigas. É o tempo perfeito para chegar, se divertir e ir embora sem excesso de cansaço. 

Bola fora

Nem todos sabem que, em Roma, o ideal é fazer como os romanos. Nem mesmo autoridades do mundo da política. Em dois eventos oficiais em que estive, aqui em Nova York, o então presidente Lula deu vexame. O primeiro seria um discurso dele, seguido por um show de Paulinho da Viola com seu pai, Cesar Faria. Lula chegou tão atrasado, que Paulinho só pôde cantar duas músicas naquele que seria o último show de seu pai. O segundo evento, anos depois, aconteceria das 9 às 11 da manhã, apresentando a Embratel para a indústria do turismo local. Lula chegou “pontualmente” às 11 da manhã. Novamente, deixou todos os convidados mofando. Fica a dica: pega mal.

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, e do blog Só em Nova York, no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com

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