Marisa Orth fala de atrizes-cantoras, dificuldades no amor e de seu show Romance Vol. II
Marisa Orth está de volta aos palcos musicais com o show Romance Vol. II. Mas não se preocupe, você não perdeu a primeira edição da debochada performance sobre o amor que a atriz montou, com músicas que acompanham todas as fases de relacionamento – do momento-poder em que você encontra alguém, como em “Fama de Mau”, até a tristeza de “Lama”. Ela conta que adicionou o numeral ao espetáculo porque achou que Romance era um nome grande demais: “Pensei: 'Putz, gente, romance é tão pretensioso, parece um show de uma cantorona estabelecida'”. Mesmo assim, tem quem comente que perdeu o primeiro volume – ao que ela responde, engraçada como sempre, “Eu também!”.
Conversamos com Marisa sobre a parte mais difícil de estar em um romance, como é sua nova performance e os verdadeiros tempos multimídia em que uma atriz era, sempre, também uma cantora.
Como surgiu o projeto do Romance?
É um show que há muito tempo venho preparando, dentro de mim! Mesmo enquanto estava com a banda Vexame, eu tinha vontade de fazer um show que fosse meu, mas não necessariamente de músicas bregas como era o Vexame. Ia juntando músicas e uns dois anos atrás, quando a banda deu uma aposentada – eu tenho dificuldade em dizer que acabou, porque pode voltar – fiquei com saudade de fazer um trabalho musical. Comecei a trabalhar com o Marcos Levy, tecladista bárbaro, o Carneiro, baterista, os dois do Vexame, e o Bira, contrabaixista, mas desisti, não achava bom o suficiente, não achava repertório, fiquei cozinhando. Aí um dia chamei a Natália, ex-Luni, para me ajudar a montar como diretora e a Andrea Frances, que é uma advogada de direito autoral super bem-sucedida mas que queria começar a produzir e é o entusiasmo em pessoa, e saiu.
E por que chama Romance Vol. II ?
Romance foi porque percebemos que as músicas todas tinham a ver com romance, então, de uma mania de simetria minha, de querer ter uma historinha, fomos organizando o repertório mais ou menos na ordem de uma relação. Começa com músicas de quando você está mais no poder, digamos mais masculina, de jogo, de conquista, depois músicas de problemas, de fundo de poço, mais femininas, e no fim músicas de retomada, “vamos lá, tentar de novo”. Então decidimos que ia chamar Romance. Mas pensei: “Putz, gente, Romance é tão pretensioso, parece um show de uma cantorona estabelecida”. Então o Carneiro falou: “Que tal se for o volume 2?”. Deu um ruído necessário e um tom de brincadeira. Mas o pessoal vem e me fala “Poxa, perdi o volume 1”, e eu falo “Eu também!”.
Como é sua performance?
Começo com um visual preto, meio smoking, calça, cartola, uma mulher meio Marlene Dietrich, cabaré masculino. Depois, realizei minha fantasia, quando eu vou trocar de roupa a banda fica cantando “Baby come back”! E eu falo para eles cantarem com bastante desespero! Aí volto, com um vestidão vermelho com fenda, bem Gilda. São os dois arquétipos. E aí são musicas brasileiras em sua maioria, algumas americanas, todas tendendo a um estilo mais setentão. Canto “Fama de Mau”, também tem uma versão de “Why don't you do it right” bem piranha, bem escrota, canto “Sofre”, um blues antigo do Tim Maia bem de corno. É um formato divertido, colocamos textos com aquelas pesquisas americanas que eu amo, como a “A cada 1.000 pessoas, quantos homens já traíram?” ou experiências feitas com galinhas que começam a ser feitas em seres humanos, naquela tentativa de quantificar essa coisa completamente descontrolada que é o romance e que mesmo assim o pessoal tenta quantificar. E eu só pego canções que dão para cantar legal, senão é melhor ouvir o original. Se eu pegar uma do Tim Maia, não vai ser “Primavera”, que é imbatível. A música fica mais adaptada a uma temática, mas eu canto bonitinho.
Você pensa em tocar canções inéditas?
Tem uma inédita, que eu acho que é o hit do show. É uma música muito boa, do Flávio de Souza e do André Abujamra, “Insanidade temporária". Podemos fazer uma parceria para ser o hino da revista! Porque fala de uma mulher que corta o pau do cara fora em uma crise de TPM! É muito legal, gravei para um curta do Luis Villaça e nunca mais ninguém ouviu, então agora estou tocando.
Não dá para te perguntar coisas como “você prefere cantar ou atuar?”, porque você sempre foi muito performática.
Sou de uma época que, graças a Deus, as coisas eram meio misturadas, uma época muito multimídia. Quando eu entrei no Luni, eu era atriz para tocar na banda, era uma coisa performática. Fui aprendendo a cantar durante a carreira, vivendo as coisas. Depois, com o Vexame já era mais música, mas era um personagem, a Maralu Menezes, fiquei 15 anos atuando como se eu fosse uma cantora, então aprendi a cantar melhor. Mas acho que esse é o mais corajoso dos projetos no sentido de que eu vou lá e canto, sou eu mesma.
Qual você acha que é a coisa mais dramática no romance?
Quando você descobre que não gostam de você e você ainda gosta. É duro. A decepção, apostar mil fichas numa história que não merece. O fim da ilusão. Brinco muito com isso, porque ilusão é uma coisa da mulher, como a gente se ilude, meu Deus do céu! Nós fazemos uma coisa muito feminina, já que foi criada por mulheres. Mas avacalhando um pouco, porque é uma coisa que paralisa, né, vai uma energia nessa história de romance!
Quais são seus próximos planos?
Lançar o disco. Já era pra ter saído, mas a gente teve uns “pobreminhas” de direito autoral porque “Fama de Mau” tem uma base do James Bond e o homem do James Bond não queria liberar! Mas já está liberado. Então lançar o disco e depois entrar em temporada no Tom Jazz toda quinta-feira a partir de 13 de agosto. Vai ser legal porque vou ter um convidado músico em cada uma das apresentações. Temos o Da Lua, o Edgar Scandurra, o Paulo Ricardo. A ideia é botar os caras para falar de si, perguntar que momento do show mais se adapta à vida deles, vai ser bem legal.
Confira a agenda de shows em www.marisaorth.com.br