por Fernando Luna
Tpm #155

Também não adianta nada enfeitar seu avatar com as cores do arco-íris e se ofender quando 1) levar uma cantada gay ou 2) vir uma trans na cruz ou 3) cruzar com duas meninas se beijando no meio da rua

Amor não é o que você diz que sente: amor é o que você faz.

Então economiza a viagem à Índia, o tapetinho de ioga, o mantra mal pronunciado e a pulseirinha tibetana: melhora seu carma dando bom-dia ao porteiro.

Em vez de pensar com você mesma como seu pai é incrível, mesmo com os defeitos que você aguenta desde que nasceu (amar as qualidades dos outros é moleza, amar os defeitos é que são elas), pega esse aparelhinho mágico no seu bolso, digita o número dele, aperta a tecla verde e f-a-l-a isso pra ele.

Se reservar uma mesa para dois naquele restaurante estrelado que serve plantas alimentícias não convencionais, evita disparar um WhatsApp atrás do outro ou ficar checando quantas curtidas recebeu no Instagram e conversa com quem está jantando com você.

Também não adianta nada enfeitar seu avatar com as cores do arco-íris e se ofender quando 1) levar uma cantada gay ou 2) vir uma trans na cruz ou 3) cruzar com duas meninas se beijando no meio da rua (não, beijar não é desnecessário).

E será que faz sentido boicotar as marcas de roupa ou grifes de moda (a diferença está no preço da etiqueta) que usam mão de obra escrava e, ao mesmo tempo, fingir que tudo bem não assinar a carteira da empregada doméstica que trabalha na sua casa?

Aproveita o embalo para perdoar aquela mancada que seu amigo querido do coração deu com você. Não vale perdoar só aquelas vaciladas mais leves. Perdão existe justamente para ser aplicado ao que seria imperdoável – o resto é armazém de secos e molhados.

E não vale assumir o papel de ombudsman do Universo nas redes sociais, exercitar sua vocação de corregedor geral da humanidade apontando o dedo para os problemas do mundo, só para depois bloquear quem aponta de volta na sua direção.

Sim, pega bem postar fotos do seu filho. Mas incrível mesmo seria saber quem é o melhor amigo dele, se ele está gostando da escola, se jogou bola ontem – sem pedir cola pra babá.

Presta atenção: não é estranho vociferar contra a violência deste Brasil varonil e, na hora de parar o carro no sinal vermelho, nem sequer olhar na cara do mendigo que pede um trocado?

E, finalmente, não tem por que terminar com uma frase capaz de resumir todo este texto, três palavras curtas achadas no meio do romance Os infinitos, do John Banville, sem dar o crédito ao irlandês:

"Amor é ação".

fechar