Agora é que são elas

por Juliana Menz
Tpm #105

Bia, Marina, Lili e Dani: quatro brasileiras que vivem, trabalham e formam opinião na rede

As mulheres não são maioria na internet, mas exercem maior influência no mundo digital e passam mais tempo conectadas do que os homens. Conheça Bia, Marina, Lili e Dani, quatro brasileiras que vivem, trabalham e formam opinião na rede

No Brasil, o Twitter tem em média 11 milhões de usuários e o Facebook, 12 milhões. Diariamente, cerca de 6 milhões de posts são publicados só no Twitter – a maioria deles absolutamente irrelevante. “Hoje todos podem formar opinião. O problema é que a maioria das pessoas não tem o que dizer e não sabe estabelecer uma conversa. Quando alguém consegue fazer isso, invariavelmente, se destaca”, opina o professor da Escola de Comunicação e Artes da USP Luli Radfahrer, ph.D. em comunicação digital.

Qual é a delas?


De olho justamente nesses destaques, algumas empresas vêm buscando maneiras de medir a relevância nas redes sociais e o impacto disso em seus usuários. O Klout é o mais conhecido e utilizado no Brasil. O The Whuffie Bank, criado em 2010 na Argentina, pretende ser mais específico. O “banco” analisa o conteúdo das mensagens e o impacto delas para as pessoas ligadas ao usuário. A quantidade de whuffies representa a riqueza social na web. Para calcular sua reputação on-line, basta entrar nos sites www.thewhuffiebank.org ou www.klout.com e colocar seu nome de usuário do Twitter. A medição é feita não só pela quantidade de seguidores, mas por tudo que cada post carrega: comentários de blogs e informações de outras redes sociais. “A influência que temos sobre os outros está se tornando o nosso capital social”, explica Santiago Siri, um dos criadores do “banco”. O argentino garante que muitas empresas já utilizam esse tipo de ferramenta para avaliar profissionais.

O papel das mulheres é cada vez mais importante nessa história. Embora ainda não sejam maioria na rede – pesquisa do Ibope Nielsen Online revela que 53% dos usuários são homens –, elas ficam mais tempo conectadas e interagem mais, exercendo maior influência. Para Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site Overmundo, o público feminino pode se mostrar de forma muito mais rica e complexa do que em outros contextos. “É comum ver a mulher reduzida à sua aparência. A rede a enfatiza para muito além do corpo”, opina Ronaldo, e completa, destacando a importância desse valor: “As mulheres que entendem isso têm uma ferramenta poderosíssima, que lhes permite não só conseguir um emprego mais bacana, mas contribuir para inventar uma sociedade pós-gênero, em que ser homem ou mulher não interfere naquilo que cada pessoa pode ou não fazer”.

Tpm conversou com quatro mulheres que vivem, trabalham e formam opinião na rede: Marina Santa Helena, Bia Granja, Liliane Ferrari e Dani Arrais. Para o site Klout, que classifica a riqueza social em 16 categorias, Lili e Dani, por exemplo, são consideradas “líderes”. Isso porque seus seguidores, a maioria tão relevante quanto ambas, disseminam o conteúdo por elas publicado rapidamente. Já Bia e Marina são classificadas como “engajadas” por estarem sempre buscando novas formas de interagir, atraindo mais e mais pessoas a lerem o que têm a dizer. Saiba como essas mulheres conseguiram fazer amigos e, principalmente, influenciar pessoas na rede.

Bia Granja

Editora da revista e do site Pix, ambos sobre entretenimento digital, Bia Granja tem uma relação intensa com a internet. E parece conhecer os códigos para decifrá-la. Este ano, a paulistana de 29 anos foi eleita uma das dez mulheres mais influentes da web pelo portal iG. “Não acredito muito nessas listas dos ‘dez mais’. Acho que passo informação muito mais do que influencio”, diz.

Qual sua relação com o mundo virtual? Se eu fosse definir em uma palavra, seria exacerbada. Para você ter uma ideia, um assunto fica no trending topics do Twitter por 11 minutos. Piscou, perdeu. Isso gera muita ansiedade na minha vida. Já me dei conta de que entro em um site diferente a cada 2 minutos. É algo, no mínimo, aflitivo.

O que gera valor on-line? Conteúdo. Aumentar o número de seguidores no Twitter, por exemplo, pode ser feito com a ferramenta script. Mas isso não gera credibilidade, pelo contrário. Outra coisa importante é não usar a internet para falar mal das pessoas. Ou, melhor, não fazer on-line o que você não faria pessoalmente.

Como é a Bia desconectada? Consigo tranquilamente passar quatro dias totalmente off, por exemplo, na minha casa em Ilhabela, sem crise. Lá não tem TV nem telefone e mal pega celular. Não tenho essa noia de ficar me policiando em relação ao tempo que tenho que ficar na rede, pra mais ou pra menos.

Vai lá: http://mypix.com.br/

 

Marina Santa Helena

Ela tem 26 anos e há 14 está ligada à rede. Natural de Belém, no Pará, e formada em arquitetura, teve sua vida transformada em função da internet. Há quatro anos, conheceu o marido pela web. Namoraram seis meses virtualmente, 20 dias pessoalmente e casaram. Foi quando mudou para São Paulo e iniciou o blog Chiqueiro Chique. O sucesso virtual lhe rendeu um convite para apresentar o Fiz, na MTV, no início de 2010. O blog foi para o site da emissora e não é mais o foco das atenções de Marina, embora ela continue hipnotizada pela tela do computador.

Reputação virtual é valor? Mudei de cidade, de profissão e me casei em função da internet. Acho que é até mais do que riqueza. Quem tem mais alcance e mais audiência acaba tendo mais valor de mercado e as coisas começam a fluir em todas as áreas da vida.

O que gera esse valor na rede?
Bom-senso. Fazer-se interessante.

Você já chegou a questionar essa dependência que adquiriu do mundo virtual?
Quando tinha uns 13 anos, costumava passar os sábados à noite na frente do computador, falando com os amigos no mIRC (um dos primeiros chats online, criado em 1995). Uma vez , cansada, acabei pegando no sono. Acordei no meio da madrugada com ódio do mundo. Foi como se tivesse perdido uma festa. Depois desse dia e de muita conversa com a minha mãe, comecei a refletir sobre essa dependência e como ela poderia afetar a minha vida. Hoje, com internet no celular, não há uma distinção muito clara entre estar “on-line” ou “off-line”. É só cuidar pra não ficar tuitando o tempo todo, principalmente em situações em que o melhor é socializar pessoalmente.

Vai lá: http://santahelena.mtv.uol.com.br/

 

Liliane Ferrari

Assim como Bia Granja, Liliane Ferrari, 35 anos, foi eleita uma das dez mulheres mais influentes da internet pelo iG. Para ela, esse prêmio tem a ver com o que ela sempre fez fora da rede. “Não existia internet e eu já gostava de divulgar o trabalho dos outros, passar informações que eu considerava valiosas ao maior número de pessoas possível”, conta. Comunicativa até dizer chega, a blogueira tem uma relação intensa com quase todas as redes sociais disponíveis.

Reputação na rede é valor? Reputação na vida é riqueza. Não separo mais os dois. O mundo virtual também é real. Mas isso não tem nada a ver com número de seguidores. Não importa quantos retuítes você teve, mas sim quem se mobilizou em função de seus posts. Riqueza, nesse caso, tem a ver com um viés muito mais qualitativo do que quantitativo.

Você já chegou a se sentir dependente do mundo virtual?
Não. É claro que num dia de trabalho eu surto sem internet, mas vivo superbem off-line. Não sou do “mobile na veia”, acho que na mesa do bar você tem que conversar e não tuitar. Mas é válido, depois do boteco, postar as melhores tiradas, as fotos, adicionar novos amigos, acho bacana.

Como é a sua vida sem a tela do computador ou do celular? É tudo: filha, marido, amigos, casa, viagens, passeios, compras... O que vai para o on-line é aquilo que quero compartilhar, disseminar, guardar como memória. Sem experiências off-line ninguém é interessante no on-line.

Vai lá: http://lilianeferrari.com/

 

Dani Arrais

Jornalista, esta pernambucana já foi repórter de tecnologia da Folha de S.Paulo. Aos 27 anos, Daniela admite ser viciada no mundo virtual, mas garante que ele enriquece sua vida real. Seu blog, Don’t Touch My Moleskine, existe desde 2007 e já virou até festa mensal numa casa noturna paulistana. “Adoro extrapolar para o off-line. E, quando você faz algo com verdade, isso sempre acontece”, comemora Dani, que já mora em São Paulo há quatro anos.

Reputação é valor? Sim. Mas a moeda, nesse caso, é de outro tipo. Por exemplo, por causa do meu blog eu conheci muita gente bacana. Seu network da vida real vai se tornando muito rico em função do seu trabalho virtual. Esses dias uma leitora do blog escreveu dizendo que estava lançando um livro e que queria que eu escrevesse alguma coisa sobre ele na contracapa. Me senti super-honrada. Faço meu blog por puro prazer e esse tipo de coisa, para mim, é a maior riqueza.

Qual a linguagem de web que garante credibilidade? Como sou viciada na internet, sempre acabava encontrando coisas bacanas. Coisas que achava que meus amigos também iriam gostar. Não queria ficar enchendo a caixa de e-mail dos outros, por isso resolvi fazer o blog. Isto é importante: não dá para ser chato! O que faço é uma espécie de curadoria de conteúdo.

Você tem vida off-line? Tenho. Muita. E até acho que me exponho menos do que muita gente que nem navega tanto quanto eu. Às vezes os leitores me xingam porque eu não respondi alguma coisa, mas não fazem ideia do que eu estou vivendo no momento, na vida real. Não sabem por que eu não posto. Adoro internet. Mas não sou um robô. E, sim, tenho vida.

Vai lá: http://donttouchmymoleskine.com/

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