Busco e encontro sentido em tudo a que me proponho porque faço tudo com paixão e dedicação
Depois que me envolvi com os livros, encontrei sentido de existir em tudo o que fui fazendo na vida. Primeiro, foi a busca por conhecimento. Conhecia poucos metros quadrados da vida e estava condenado a mais de 100 anos de prisão. Saber, quando me apropriei da condição de ler, foi o motivo de viver. Depois meu esforço dirigiu-se a colocar em prática o que aprendia. Transformar a mim mesmo naquilo que os livros me ensinaram a ser. Empoderar-me, resistir aos empecilhos, desenvolver capacidade de análise e auto-análise e tornar a vontade imperiosa significaram a existência.
Em seguida, surgiu a possibilidade de frequentar aulas em uma faculdade. O esforço investido foi tamanho que fui o primeiro colocado nos exames vestibulares da PUC/SP. Ultrapassei barreiras e fui o primeiro preso em São Paulo a frequentar Universidade. Depois, surgiu a oportunidade de dar aulas. Fui jogado em uma sala de aulas sem nada saber. Em três meses aprendi técnicas e montava planos de aula. Em cinco, fui um dos principais professores da extinta Casa de Detenção de São Paulo. Tanto que, à falta de pessoas para dirigir a escola, fui convocado para o posto.
Então, a atriz Sophia Bisilliat entrou na prisão com projeto "Talentos Aprisionados", onde o escritor Fernando Bonassi fazia oficina de literatura. Logo nos tornamos amigos e promovemos um concurso. Apresentei a ele o esboço de um livro que havia escrito, ele gostou. Pediu que eu revisasse para encaminharmos às editoras. A Companhia das Letras acreditou e chamou para negociar. Tornei-me escritor e nunca mais parei de escrever. Estou com 6 livros publicados, coluna em revista, blogs na internet e ataco de freelancer.
Liberto, estava certo que faria a diferença. Havia estudado e observado muito; conhecia de didática, de presos e de prisão. Havia cumprido pena de 31 anos e 10 meses. Lá dentro não encontrei jacarés, porcos ou cães. Encontrei gente. Pessoas que erraram, mas que eram capazes de acertar também. O que não havia eram pessoas más ou perversas como afirmam os Datenas da vida em busca de sensacionalismo. Há, sim, os psicopatas, os psicóticos, como há também na população. Pessoas profundamente doentes que precisam de espaços seguros, para que possam receber tratamento especializado.
Fui fazendo palestras, mostrando o outro lado da moeda e oficinas de leitura e escrita nas prisões. Até que doze anos depois, conjuntamente com o psicólogo e coaching Maurício Cardenete, criamos o projeto Semeando Sonhos e Colhendo Realidades. Em 13 de maio deste ano, concluímos a aplicação do projeto piloto de 20 módulos com 25 presos, no Centro de Reintegração de Limeira. Estamos elaborando os indicadores do projeto. Falarei mais a respeito posteriormente. Busco e encontro sentido em tudo a que me proponho porque faço tudo com paixão e dedicação.