por Ricardo Guimarães

Tem mão que pensa tão rápido que parece que não pensa. É mão de artista, mão de empreendedor, mão de surfista que entra na onda sem saber como vai sair, mas entra com tudo

Tem mão que pensa tão rápido que parece que não pensa. É mão de artista, mão de empreendedor, mão de surfista que entra na onda sem saber como vai sair, mas entra com tudo

Caro Paulo,

Layoutmão.
Era assim que a criatividade cruel e inconsequente dos publicitários do século 20 rotulava os talentos da direção de arte que não pensavam no que faziam. Da mão para o papel, sem passar pela cabeça. (Layoutman era o profissional responsável pela estética das ideias. O trocadilho era uma sacanagem com aqueles que tinham talento para fazer bonito, mas não pensavam para fazer.)
Meus colegas faziam um gesto silencioso para rotular o layoutmão: apontavam do punho para a mão e daí para o papel como se não existisse uma pessoa antes da mão. “Esse aí é layoutmão.” Sentenciavam o coitado com um salário menor e prestígio idem. Só ação, só fazer, sem pensamento nem reflexão. Eram tratados como se fossem robôs, uma sub-raça. Simples assim.
Era assim e o pior é que ainda é.
Ainda neste atual século 21 existem publicitários que rotulam comportamentos e se surpreendem com a sociedade que não aceita mais brincar com estereótipos em nome da criatividade. Na minha opinião, é uso pobre de artifícios pobres para garantir mais impacto do que a ideia em si teria condição de causar. Criatividade datada.
Mas deixa pra lá. Essas pessoas são vítimas, e não vilãs. E não farão a menor diferença no futuro da sociedade, nem do planeta. Talvez elas nem saibam o que é “futuro do planeta e da sociedade”. Never mind.
Pensamento e ação são inseparáveis, mas era possível separar sem correr o risco de viver uma ficção idealizada, romantizada.
Hoje, no tempo real da vida em rede, quem separar pensamento e ação está em risco de ser eliminado pela transparência do cenário. Transparência, isto é, zero tempo entre o fato e o conhecimento do fato. Tudo ao vivo e a cores para todo mundo ao mesmo tempo.

Nothing is sacred
Em outras palavras, zero tempo entre pensamento e ação sob o risco de você chegar atrasado e a cena acontecer sem você, que ficou de fora.
Velocidade e consistência! Zero tempo entre ética (pensamento) e estética (ação). Essa é a nova regra do jogo se você quer se manter vivo e confiável num cenário em que não existem combinados nem contratos de bastidor.
Não há hierarquia nem lei que segure uma realidade que não é sustentada pela própria realidade. Pena de quem acredita nos podres poderes... Publicitários ingênuos, Lula, Temer e Trump que se cuidem porque suas estratégias de poder não contam com a realidade, mas com a possibilidade de sua manipulação por meio de palavras e oratória prostituídas. Quousque tandem? A história dirá.
Muito cruel? Sim, e bem mais cruel do que a ingênua genialidade do brilho fácil das sacadas de oportunidade.
Como se diz: papo reto! Ou tem graça ou cai em desgraça, sem piedade.
Mão/ação é tudo no aqui-agora do tempo real. Intenção é ficção, e fica em outra prateleira que eu, pessoalmente, cansei de frequentar. Por exemplo, os valores que Joesley diz que tem, mas não pratica, não me interessam.
Respeito toda mão que não pensa e presto muita atenção porque tem mão que pensa tão rápido que parece que não pensa. É mão de artista, mão de empreendedor, mão de surfista que entra na onda sem saber como vai sair, mas entra com tudo… Mãos que são movidas pela alma, por isso parece que não pensam... Essas mãos me encantam e me fazem acreditar que estamos no caminho certo.
Essa é a viagem que me interessa. Essa é a nossa Trip e é por isso que estamos juntos.

Abraço carinhoso do amigo,
Ricardo

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