Dinossauro apavorado

Dois nomes de sucesso mostram como o jeito de enriquecer está mudando

Caro Paulo,

 

A sociedade de consumo fez muitas fortunas até hoje. Mas o jeito de enriquecer nessa sociedade está mudando. Dois personagens de sucesso, envolvidos em números astronômicos, falam sobre essa mudança.

Um deles é Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil e um dos 20 maiores bilionários do mundo; e o outro é Larry Fink, CEO da BlackRock, gestora de fundos de investimento com mais US$ 6,5 trilhões sob sua responsabilidade. Lemann participou recentemente de um painel no Milken Institute (dá uma olhada no Google para conhecer a biografia do Michael Milken, o cara que inventou o junk bond, quebrou a mais antiga corretora dos EUA, foi preso, teve câncer e se reinventou de maneira absolutamente surpreendente, a ponto de atrair figuras incríveis como o JP Lemann para participar das iniciativas de seu instituto).

Neste evento, em maio, Lemann se confessou como um “dinossauro apavorado” diante da nova sociedade de consumo. Seus negócios – Burger King, Ambev etc. – não estavam mais indo bem e isso fez com que ele, inteligente que é, questionasse as premissas que fizeram seu sucesso até hoje.

Algumas delas eram a eficiência na produção de grandes volumes e marcas fortes para gerar consumo. Segundo a imprensa, suas conclusões estão levando Lemann a liderar a mudança em seus negócios com foco em inovação e desenvolvimento de pessoas. Ele acredita que serão principalmente estas duas providências que recuperarão a performance perdida.

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Na minha opinião, ele entendeu que marcas fortes não se fazem mais apenas com propaganda e promoção, mas com experiências concretas cada vez mais encantadoras e significativas para o consumidor. E que essas experiências não se resumem apenas ao consumo em si, mas a toda a inserção da empresa em sua cadeia e na sociedade como um todo.

É aí que entra o Larry Fink, com a carta que escreveu aos CEOs de todas as empresas investidas pela BlackRock. Ele diz algo assim: “A maneira como conduzimos o capitalismo até hoje não produziu uma sociedade saudável e segura. Isso não é bom. Precisamos que nossas empresas se responsabilizem por gerar uma sociedade saudável e segura. Assim, dentro de três meses, todas as empresas investidas pela BlackRock devem nos apresentar o impacto positivo que provocam ou que pretendem provocar na sociedade. A empresa que não atender a esse pedido, será desinvestida pela BlackRock e retirada do nosso portfólio”.

Esses depoimentos são importantes porque são de duas pessoas geniais e que sabem fazer dinheiro. Portanto, devem estar certos quanto aos rumos que a sociedade contemporânea está tomando.

O consumidor está cada vez mais bem informado. A ciência e a tecnologia estão viabilizando produção e consumo cada vez mais inteligentes e eficientes. Estamos deixando de ser consumidores para sermos usuários: as novas gerações buscam a experiência que as coisas proporcionam, e não mais apenas as coisas. É uma evolução cultural, sim, que eliminará os dinossauros do mercado, sejam eles produtores, vendedores ou consumidores.

A sensibilidade de Lemann está afiadíssima. Mais que isso, sua coragem de admitir-se um dinossauro apavorado num painel de CEOs e para a imprensa internacional justifica o sucesso que teve até hoje. 

A conferir, com muita curiosidade e otimismo, os próximos capítulos.

 

Abraço do amigo Ricardo.

Créditos

Imagem principal: Barbara Krueger

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