Perguntas
Aqui e agora quero fazer seis perguntas que não sei ainda como responderei. Tentarei fazer o melhor, porque acredito nessas perguntas. São dessas que revolvem por dentro, fazem pensar, imaginar e ir longe. Vamos a elas sem mais conversa fiada:
1) O que nos poderia fazer sentir que a vida é boa, bela e digna de ser vivida?
R. R.: Acho que nem todo mundo pode dizer isso de sua própria vida. E mesmo não creio que a vida possa ser boa, bela e digna para nós o tempo todo. Ou ainda então: a vida em si é boa e bela, nós é que não sabemos aproveitá-la. Mas o sentimento que desenvolvemos em relação às pessoas, aos animais, às plantas e ao que nos rodeia, creio preenche a vida de significados. Acho que a nossa única chance esta na expansão, em preencher nossa existência de motivos diários, a cada hora e minuto. Talvez desse modo consigamos sentir que a vida é boa, bela e merece ser vivida.
2) A vida que queremos depende do que a gente faz?
R.: Acredito que em uma elevada proporção as coisas se dêem assim mesmo. A nossa vida vai dependendo do que a gente faz de nós. Mas existem as contingências e as convergências. Nem sempre aquele que mais se esforça é o que mais recebe e nossas escolhas nem sempre foram as mais nobres.
3) Qual o melhor conselho que você já recebeu em sua vida?
R.: O de ler e estudar. Quando jovem rejeitei agressivamente. Acabou dando no que deu: a ignorância me levou a mais absoluta estupidez e a conseqüência foi mais de 30 anos aprisionado. Perdi a juventude e, de quebra, ganhei a velhice. Só então pude entender o conselho e segui-lo. Lendo e estudando o que lia, fui adquirindo outros valores, conhecendo novos mundos, costumes, culturas e percebendo a diversidade humana e que eu não era o centro do mundo. Daí a dar o salto triplo mortal para uma vida mais coerente e objetiva, foi rápido. Sempre foi só me ensinar o caminho que eu tenho pernas para andar.
4) De todos os lugares onde esteve, qual o que mais te agradou?
R.: Sem dúvida o lado de fora das muralhas da prisão. Depois um paraíso que o mundo todo admira: as praias do Rio de Janeiro. Faço um passeio (estarei por lá dia 3 de dezembro fazendo palestra na Defensoria Pública) por lá há 5 anos que é a maior delícia. Entro na Praia no Leme, junto às pedras. De lá venho caminhando com os pés dentro da água. Passo Copacabana toda, subo na pedra do Arpoador, tomo banho na praia do Arpoador (a mais limpa) e sigo Ipanema, Leblon até o fim da praia e começo do morro. São cerca de 3 a 4 horas de caminhada. É o lazer que mais me causa prazer. O único problema é que o Rio é caro, inda mais em temporada e eu ando tão duro...
5) De todo os momentos felizes que você viveu, qual o que mais te impressionou?
R.: Já contei em texto anterior. “Lembranças Boas”. É só procurar no Blog. Mas adianto que foi quando, ao cabo de 1 ano trancado em uma cela-forte, fui liberado para o convívio dentro da cadeia. Foi uma liberdade que nem a liberdade mesma foi tão profundamente ansiada. De fato foi impressionante poder respirar o mesmo ar que todos respiravam, sentir-me parte da coletividade humana mais uma vez. Mesmo sendo a comunidade humana aprisionada.
6) Como alguém pode nos fazer mal?
R.: Acho que essa é a pergunta mais fácil de responder. Simples, através nossos defeitos, fraquezas e deficiências. Não somos atacados em nossas fortalezas jamais. Como evitar? Mais fácil ainda: Sendo sinceros conosco mesmos e construindo uma boa capacidade de auto-crítica. Essa faculdade nos levará a enxergar o que somos de verdade e quando estamos errados em qualquer situação. Enxergando nossos defeitos e fraquezas, seremos muito mais capazes de nos defender de qualquer mal que nos queiram causar.
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Luiz Mendes
10/11/2009.