Para fazer esta edição sobre trabalho, abandonamos a Trip e fomos para casa
Para fazer esta edição sobre trabalho, abandonamos a Trip e fomos para casa conferir se a labuta a distância é mito ou se realmente dá para embarcar na onda do trabalho descentralizado do século 21 fotos renata mein
No meio da reunião para decidir a pauta desta edição, veio a idéia: e se nós fizéssemos a próxima Trip toda longe da Redação? Já num primeiro momento dava para ver que não seria fácil. Enquanto metade das pessoas que fazem a revista ficou animada na hora, a outra metade não conseguiu disfarçar o medo. Dá para fazer a revista de casa, do clube ou de uma lan house sem perder a qualidade e sem enlouquecer?
Quando decidimos fazer isso, não tínhamos a menor idéia. Agora dá para dizer, sim, é possível e até interessante. Com Skype, Messenger, celular, acesso remoto aos servidores e todas essas maravilhas contemporâneas, foi possível pautar, escrever, editar e desenhar a revista. Trabalhou-se sem horários, de forma menos rígida, mas trabalhou-se muito. E, no meio do processo, foi preciso aprender o duro equilíbrio entre estar conectado e desconectado. E também saber quando trabalhar em grupo, quando ficar sozinho e quando fazer reunião com presença física.
Ao longo de três semanas fora da revista, aprendemos muito com essa experiência. Principalmente o quanto é importante estar junto para tomar algumas decisões que acabam ficando mais frias quando discutidas em e-mails, mensagens instantâneas ou mesmo por telefone. Fazer revista requer uma vida, uma pulsação que só se tem ao lado das pessoas, trocando idéias e tomando decisões no meio do processo. Decidir só sobre o trabalho final dá certo, mas talvez não seja o melhor dos métodos. Ou talvez funcione melhor numa experiência mais alongada no tempo.
Disso tudo, uma coisa é certa. Tão bom quanto ir para casa foi voltar para a Redação. E, como para cada pessoa que faz a Trip a experiência foi diferente, reunimos alguns relatos de como foi esse tempo trabalhando "de férias".
1. "A luz do sol vinda da janela, o conforto do apartamento em que se instalou a arte da Trip e as deliciosas refeições que preparamos durante o período fora da Redação influenciaram de algum modo esses dias. Tudo isso temperou a criatividade de forma inspiradora e diferente da rotina. Diferente, mas não necessariamente melhor do que a interação que temos com toda a equipe no dia-a-dia na Redação, que, na volta, se mostrou mais prática e eficiente por estarmos lado a lado." Eliane Testone, designer
02. "Num primeiro momento, sair da Redação pareceu libertador. Metade da primeira semana passei nos Estados Unidos, resolvendo as coisas por e-mail. No resto do tempo, a Redação foi minha casa mesmo. Até que não posso reclamar. Consegui a privacidade necessária para escrever e editar os textos desta edição. Embora tenhamos conseguido formar uma boa rede, usando computador, mensagens instantâneas, muito celular e Skype com webcam, senti falta da vida de Redação. Falta aquele momento de olhar por cima do ombro de um e dar um palpite sobre um trabalho ainda no meio do caminho. Ou aquele tempo das breves reuniões em que mais cabeças pensam melhor. Para mim ficou claro que o melhor modelo ainda é o velho, com todo mundo lado a lado. Ou então um híbrido, com mais liberdade nos momentos de preparação da edição e todos juntos quando a coisa esquenta no fechamento. Jornalismo é um esporte coletivo, e trabalhar a distância é, mal comparando, jogar um Fifa no Playstation em vez de uma pelada com os amigos." Guilherme Werneck, diretor de redação
03. "O primeiro pensamento que me veio à cabeça, quando soubemos que esta edição seria feita em casa, foi a falta que as relações interpessoais iriam me fazer nessas semanas de isolamento. Por mais que a tecnologia permita que as pessoas fiquem em contato direto, através de e-mails e MSN não conseguimos expressar nossas emoções e sentimos a necessidade de usar esses meios para assuntos urgentes e rápidos, com frases abreviadas que podem ser subentendidas. Além disso, em casa cada um faz seus horários, e acompanhar todos da Redação é muito mais trabalhoso e estressante, a cabeça não pára nunca, 24 horas no ar. E tem ainda a sensação de estar desempregada, o dia todo em casa, de pijama. Não recomendo." Adriana Verani, coordenadora de produção
04. "Estamos os três do ‘departamento' aqui em casa. tudo mais colorido e calmo. Música sem fones e pausas para Os Simpsons. Trabalhar em casa requer uma disciplina ainda maior para saber aproveitar as vantagens. É preciso separar bem as coisas, justamente para não ficar a sensação de que sempre estou trabalhando e que sempre tem algo a ser feito. Não ser obrigado a cumprir horário comercial resolve a falta de tempo para as pendências pessoais do dia-a-dia. Finalmente consegui colocar as cortinas e uma rede na varanda. Reuniões de equipe também são necessárias para não me sentir tão isolada, principalmente quando se trata de uma obra coletiva. Então, já que metade por cento de mim prefere a casa e a outra prefere a Redação, e já que insisto sempre em querer tudo, a total alegria só será possível com uma semana lá e uma cá. Pode?" Renata Meinschimiedt, chefe de arte
05. "Tive que levar o monstrengo do meu computador para passear fora da Redação. Acho que numa situação em que as pessoas trabalham longe umas das outras a tecnologia é fundamental. Senti muita falta de um computador portátil que me acompanhasse para onde eu fosse. Tirando esse inconveniente, a experiência de trabalhar fora da Redação foi ótima. O ambiente corporativo nos gruda na cadeira até quando não temos o que fazer e o horário imposto nem sempre é o mais produtivo. A grande vantagem de estar fora é essa flexibilidade para organizar nosso tempo criativo." Elohim Barros, diretor de arte
06. "Não sei como seria trabalhar todos os dias em casa. A experiência foi por apenas algumas semanas, e o novo sempre tem um gostinho especial, o diferente é sempre bem-vindo. A tendência é cada um ter seu laptop na mão e cuidar da sua vida onde quer que seja. O bom resultado é o que importa. Acho que ganharemos mais liberdade e mais tempo. Ao mesmo tempo, tenho um pouco de medo desse isolamento. Acho triste perdermos o contato com as pessoas no trabalho." Marina Manzoli, produtora
07. "Que mãe o cacete. Trabalhar em trânsito é padecer no paraíso. Estou há um mês viajando sem parar: Basel, Orlando, Los Angeles, Oregon, Havaí. Maravilha plena? Seria se o caso fosse apenas apurar, ficar na rua, correr atrás de gente e história. Mas foram horas por dia gastas em intermináveis e-mails e mensagens para a chefia que, na Redação, uma conversinha de 5 minutos daria conta. É um cenário de férias onde você não consegue relaxar. Mas essa é a parte do padecer. Porque agora vou dar uma caminhada em Sunset Beach, North Shore da ilha de Oahu. Moleza? Nada! Apuração." Bruno Torturra Nogueira, repórter especial
08. "Uma dor nas costas, que me atormentava há meses, sumiu misteriosamente depois de duas semanas longe da cadeira na qual fico sentada 12 horas por dia. Como se não bastasse, consegui fazer atividade física quatro vezes por semana, troquei minhas horas no trânsito por cinema no fim da tarde e meu sono, estudo e leituras estão em dia. Nunca me envolvi tanto com minhas reportagens. Descobri que escrevo melhor quando estou descalça, e confirmei minha teoria de que entrevistas por telefone deveriam ser proibidas. Percebi que trabalhar só em casa não é a saída, mas que a obrigatoriedade de bater ponto na Redação consome horas preciosas da minha vida particular, afeta minha saúde e, com certeza, prejudica minha produção." Kátia Lessa, repórter
09. "Porra, aos 22 anos você atingiu o ponto que todo trabalhador busca a vida inteira." Quando ouvi de um amigo meu essa observação sobre os planos da Trip de trabalhar longe da Redação, parei pra pensar. Será que ter a liberdade de trabalhar em casa ou em qualquer outro lugar sem horários estabelecidos significa o ápice de uma vida profissional? Talvez. É impossível negar que escrever um texto em uma praça ou na praia traz muito mais inspiração do que ficar em um ambiente fechado. Sabendo se organizar, o dia rende muito mais. Mas não posso negar que mantive com a experiência uma relação de estranhamento. Me senti como um jornalista desempregado fazendo alguns frilas pra revista Trip." Caio Ferretti, assistente de redação
10. "Nem aqui nem acolá. O caminho do meio, tão pregado pelos orientais, se mostrou uma ferramenta eficaz na busca pelo equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. A possibi-lidade de trabalhar em casa nesta edição revelou que meus anseios por cumprir certas tarefas profissionais no escritório domiciliar não são tão absurdas. É possível, sim, labutar em casa algumas horas do dia, aproveitando os intervalos pra lamber as crias, sem comprometer o desempenho profissional. Desde que a equipe se encontre em determinados momentos, fugir um pouquinho da Redação faz bem para a pele. Recomendo." Fernanda Danelon, editora
11. "O grande problema colocado pela experiência de trabalhar em casa foi saber separar o pessoal do profissional, o espaço do trabalho e o do não-trabalho. Não é uma equação simples, e o tempo fora não foi suficiente para chegar a uma resposta definitiva. A impressão que fica é a de que é mais difícil se desconectar do trabalho em casa. Já as principais vantagens foram ambientais (menos papel gasto, menos gasolina consumida), de saúde (menos estresse nos deslocamentos, mais silêncio à minha volta) e afetivas (passar mais tempo com a minha família). O ideal seria um meio-termo entre as duas situações, como três dias no escritório e dois em casa - de preferência sexta e segunda. Eu quero isso para o futuro. Eu e a torcida do Flamengo." Ricardo Calil, redator-chefe