Saiba como é tomar uma maçaroca de 12 pés na cabeça em Sunset na crônica do e-book Alma Guerreira do surfista Octaviano Bueno, o Taiu
Você pode aprender as lições da vida na rua, na escola, na igreja, no trabalho ou em qualquer outro lugar. Eu aprendi muitas no mar, muitas vezes sendo experimentado e amassado pela mãe natureza. O Hawai foi a minha escola, e Sunset Beach (foto ao lado), o meu professor.Uma vez em Sunset pequeno, mais ou menos 8 pés, eu queria pegar a saideira e ir embora porque o mar estava muito crowd. Estava esperando alguma onda por mais de uma hora, resolvi remar para o point para pegar qualquer coisa porque o crowd no bowl estava nervoso.Peguei uma parede fechando e desci reto. Não sei o que aconteceu, mas caí na base da onda. Quando emergi, peguei a minha prancha e olhei para o fundo, a onda de trás quebrou com tudo na minha cabeça, com muito power. Eu fiquei entre o bowl e Sunset Point, numa bancada muito rasa, sendo amassado de costela nos corais. A onda me segurou lá embaixo e um pedaço de coral solto foi parar misteriosamente dentro da minha boca. Eu saí do mar com falta de ar, achando que havia quebrado uma costela.Numa outra ocasião em Sunset, depois de dropar uma onda gigante, eu voltei me achando para o pico. Fiquei vacilando e tomei uma maçaroca com 12 pés na cabeça. Eu estava bem embaixo do pico. Aquilo provocou a maior aventura submarina que já passei na vida. Foram muitas roladas debaixo d'água. Só fui levantar e respirar no inside. A viagem foi tamanha que cheguei a ficar preocupado lá embaixo-. Tentava subir, o ar não chegava nunca. Quando estava quase perto do ar, senti uma pressão extra de água por cima e quando vi estava nas profundezas de novo.Pensamentos na minha cabeça:Será que o ar vai acabar? Devo escalar a cordinha?Foi aí que percebi o perigo. Na falta de ar por muito tempo, em algum momento certamente acontece o blackout, nessas horas é que se morre afogado. Se alguém desmaiar debaixo d'água e não tiver ninguém para ajudar, adeus companheiro!Já nas últimas, consegui subir. Um cara do meu lado, que também tomou o caldo, pegou sua prancha e saiu remando para o fundo.Depois desse caldo, passei mal. Cheguei a ficar com enjôo e dei um tempo sentado no canal. Recuperado, voltei para o fundo. Sentei do lado do cara que tomou o caldo comigo e perguntei a ele se havia rodado tanto quanto eu... queria saber o que tinha acontecido. Era um australiano e ele me disse:- Você ficou duas ondas debaixo d'água.Ele tinha descido a onda detrás da que havia quebrado na minha cabeça e a minha prancha boiando atrapalhou o seu caminho, enquanto eu estava lá debaixo já tomando o caldo, ele caiu e só foi levantar comigo... Aqui no Brasil, o caldo também é violento. Em lugares como Saquarema, quebrando grande, são violentíssimos. O caldo em fundo de areia parece que demora mais para largar a gente. Em Maresias existe algo de especial no caldo. Ali a onda é tubular, mas o caldo é limpeza porque não segura tanto a gente lá embaixo. Passa rápido, como no Hawai.O pior caldo mesmo é aquele que acontece em água fria. Maverick's, no norte da Califórnia; Bell's Beach, na Austrália; Pico Alto, no Peru; ou Cape Town, na África do Sul são picos que chegam a quebrar com 20 pés e o fator água gelada acaba com a gente. Sinusite, esgotamento, dor de cabeça são as conseqüências desses caldos. No Hawai, apesar da violência extraordinária, os caldos tomados em água quente ainda são mais toleráveis.Nos caldos em ondas grandes e em águas frias, o long john pode abrir e encher de água. Nestes tem que estar na atividade...Leia também a primeira crônica publicada, Épocas e Manias, e a segunda, Desert PointNa próxima semana, publicaremos mais uma crônica do livro Alma Guerreira, de Octaviano Bueno, o Taiu, surfista profissional que sofreu um acidente nas ondas do litoral paulista e ficou tetraplégico. O e-book está à venda no site Klickescritores