Entrevistamos o fotógrafo que registrou a carreira do Joy Division e está lançando livro
Manchester ficou famosa por ser o berço de muitas bandas importantes. No início dos anos 80, uma cena independente se formou em torno do selo Factory, administrado por Tony Wilson de maneira amadora. As bandas não tinham contratos formais e não havia muito dinheiro para investir na produção dos álbuns. Restava confiar no talento das bandas, o que se mostrou uma boa estratégia. Da cena de “Madchester” (como foi apelidada), saíram bandas como Happy Mondays e a hoje clássica Joy Division.
O fotógrafo inglês Kevin Cummins acaba de lançar nos Estados Unidos um livro com mais de 200 imagens retratando o início da carreira do Joy Division de Ian Curtis (que cometeu suicídio em maio de 1980). Retratos dos integrantes, além de manuscritos e objetos pessoais de Curtis contam a trajetória de um dos principais nomes do pós-punk. Bernard Sumner, membro da banda e um dos fundadores do New Order, contribuiu com o livro.
Cummins era um garoto de vinte e poucos anos nessa época. Ainda amador, andava na mesma turma das bandas e por isso pôde acompanhar o começo de tudo: “Quando os Sex Pistols foram [a Manchester] em junho de 1976, tudo mudou. Aquilo parecia algo que qualquer um podia fazer”. Foi assim que começaram a pipocar grupos e pequenos shows, frequentados por “umas 152 pessoas que você via regularmente, era uma cena pequena”, conta Cummins.
Hoje, se Ian Curtis e o Joy Division são adorados e citados como influências importantes, na época era bem diferente: “Não gostavam muito deles no começo”, diz. E ele não imaginava que estava fotografando uma das bandas mais mitificadas dos últimos 30 anos: “Eles eram só garotos aprendendo”. “Se eles ainda existissem, será que teríamos interesse neles ainda?”, pergunta. Segundo Cummins, “nós criamos esse mito porque talvez gostemos de uma morte trágica”.
Nada disso diminui o choque causado pela memória do momento em que se ficou sabendo da morte de Ian Curtis: “Nós não tínhamos ideia de que isso ia acontecer, ficamos chocados”. A tragédia não causou grande impacto no resto da cidade porque “ninguém sabia quem era o Joy Division, eles ficaram enormes com o passar dos anos”.
Se fazer fotos do Joy Division foi um de seus primeiros trabalhos, não foi o único, e Kevin Cummins segue fotografando músicos para veículos importantes como a New Musical Express (NME), Rolling Stone e para as extintas Melody Maker e The Face. Os tempos mudaram, as bandas também e com o impacto das imagens não poderia ser diferente: “Eu estava limitado pelo filme; só podia comprar uma certa quantidade, cada foto contava”. “Hoje, todos tiram fotos de cada segundo de sua vida, a mística se foi”.
Joy Division
Editora: Rizzoli
Preço: 45 dólares (somente importado)
www.kevincummins.co.uk