A paixão dos chineses pelos esportes extremos
Decidida a se tornar a maior potência esportiva do século 21, a China se prepara não apenas para dominar as Olimpíadas de Beijing, em 2008, mas também para fazer implodir a paixão de adolescentes por esportes extremos. Para tanto, e para provar que os chineses levam mesmo tudo a sério, acaba de criar a associação dos esportes extremos, apoiada e financiada pelo governo.
Uma das primeiras iniciativas da associação, em conjunto com uma produtora americana, vai ser fazer com que o skatista americano Danny Way execute um salto histórico sobre a Muralha da China, como reportou o "L.A. Times" em matéria extensa. Outra iniciativa prevê a criação do maior parque de skate do mundo, em Shangai, em 2006.
A introdução deve mesmo começar a acontecer pelos pés de Danny Way, 30, um dos nomes mais fortes do skate mundial. Californiano, casado, pai de dois garotos, Way já foi por duas vezes "o skatista do ano" nos EUA e detém os recordes de distância (23 m) e altura (7 m) voando com a pranchinha nos pés.
Para se ter idéia da magnitude do feito de Way, o último que tentou um salto desse tipo na famosa muralha de 2.000 anos, um corajoso chinês e sua bicicleta voadora, morreu na queda. Isso, em 2002.
Três anos depois, Way está amparado por um minucioso planejamento. Duas rampas, desenhadas pelo próprio skatista, serão colocadas em cada um dos lados da muralha: uma será usada para o lançamento, e a outra, para o pouso. A altura da muralha é de 13 metros e a rampa de lançamento terá uma altura de 16,5 metros. Para que o salto seja bem-sucedido, Way terá que atingir a velocidade de 80 quilômetros por hora antes de cruzar a muralha.
O salto está marcado para acontecer em julho e será televisionado ao vivo para todo o território chinês. É a prova de que o governo daquele país realmente pretende promover o esporte e se abrir, não só para os negócios mas também para a cultura exterior.
O novo filão, um mercado de 1,3 bilhão de potenciais consumidores, já encanta a indústria do surfe/skatewear. A Quiksilver, por exemplo, pretende abrir, até o final do ano que vem, 20 lojas por lá. Isso talvez ajude a explicar por que Way não vai receber nada em dinheiro pelo salto, e a dizer que também não o faz pela exposição pessoal ou para obter mais um recorde. A Quiksilver é a principal acionista da DC Shoes, marca de tênis que tem como sócios o "D", de Danny Way, e o "C", Colin McKay.
Mas a conquista do novo território não será tão fácil quanto pode parecer. Embora adolescentes chineses tenham verdadeira adoração por esportes extremos, listando-os, em pesquisas, entre as cinco coisas mais legais para se fazer, a cultura local é tradicionalíssima. Crianças estudam em média 10 horas por dia e qualquer atividade recreacional sem fins de alta performance é malvista pela sociedade que se orgulha dos seus 5.000 anos de história. Afinal, a criança poderia estar estudando.
Mas Way está convencido de que seu salto pode começar a revolução e, como escreveu o "L.A. Times", a nova república do Half Pipe.
NOTAS
Mundial de skate
Começa hoje a etapa asiática do X-Games na Coréia do Sul, que é a segunda etapa do WCS. O bicampeão mundial Rodil Ferrugem, contundido, desfalca a equipe brasileira. Depois o tour segue para a Europa.
Everest no duro e no mole
Numa temporada particularmente difícil, enquanto as equipes aguardam uma janela de bom tempo para atacar o cume, um helicóptero da Eurocopter pousou e decolou pela primeira vez a 8.850 m.
Grande, frio e perigoso
O documentário "Maverick's surf contest", que mostra os bastidores e as baterias de uma das competições mais esperadas pelos big riders, será apresentado hoje no "Zona de Impacto" do SporTV.
