O amor liberta, por Luiz Mendes

por Luiz Alberto Mendes

Não vou conseguir amar as pessoas como elas merecem ser amadas, mas me esforçarei ao máximo

Na medida em que envelheço, estudo menos e apreendo muito mais. Não sei se pela paciência com os saberes, por uma maior capacidade de assimilar ou ainda pela densidade desenvolvida em todos esses meus 64 anos. Percebi ontem quanto tempo perdi me dispersando por aprendizados múltiplos quando, na verdade, não são os conhecimentos que realmente importam. Eu me desperdicei. Não vivi o que a vida me permitiu e eu me prometera. Trágico, quase uma derrota. Mas, de qualquer modo, cuidei de mim e me fiz inteiro em minhas buscas. Caso caminhar seja tão importante quanto para onde ir, como dizem, pelo menos fiz a primeira parte.

Percebi que deveria ter me dedicado a desenvolver minha capacidade de ser terno, doce e possuir profundas emoções afetivas. Não são os conhecimentos que valem, ou se valem é porque nos levam a constatar esse fato. Gostar das pessoas e ter dentro de si valores e sentimentos que causam satisfação, alegria e prazer a elas é mais importante do que qualquer outra coisa. São os outros que dão sentido à nossa existência.

Emoções são fonte de crise em nossa vida — e nós não sabemos gerir crises emocionais, não existe uma receita de bolo de como fazê-lo. Mas é mais nessa parte da vida que devemos aplicar a maior soma de nossa atenção e cuidados.

Estamos corroídos pela futilidade e pelo consumismo. Deixamos nossas almas aos cacos, nossos afetos murcham pela precariedade de nossos sentimentos. Vivemos entre o disparo e o alvo; voláteis como um segundo que se escoa dentro de nossas horas. Só enxergamos o que vemos com o que somos, e somos toscos, tão mal acabados por nós mesmos... Porém, somos seres de pertencimento. Pertencemos ao mundo, à terra, aos outros, a uma doce canção murmurada ao longo do silêncio. Vivemos correndo atrás de algo que nos comova ou que nos apaixone, que devia, mas não está a revolver escombros que deixamos para reconstruir o que não somos.

Enchi meus olhos d'água ao olhar amigos e amá-los ontem, quando nos reunimos. Eles me recebiam com sorrisos tão verdadeiros que me senti inteiramente acolhido e pertencente ao coração deles. O bem estar, a paz e a alegria que me invadiram o peito é mais importante que qualquer outra coisa nesse mundo. Eu me senti vulcânico, espremendo-me como uma esponja encharcada por cima deles, amando-os, comovido e único. Naquele instante, agradeci fervorosamente sei lá ao que ou a quem em oração e chorei reconhecido. Como é bom viver, como é superior a oportunidade de amar, de gostar das pessoas e ser por elas querido e aguardado!

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Aquele momento estava valendo por tudo o que fui obrigado a ultrapassar para chegar até ali. Misérias, fome, frio, indiferenças, preconceitos, torturas, dezenas de anos de prisões, celas fortes, espancamentos, solidão, tristezas, sofrimentos, desamores, dores e tumores cancerígenos. Enxuguei os olhos, poucos perceberam a vastidão dos sentimentos que me avassalavam a alma. Mas eu sabia. Havia, mais uma vez, vivido o suprassumo da existência e estava extremamente feliz.

Ah, sim! Doravante darei toda atenção e cuidado que for capaz para desenvolver o que há em mim de terno, doce e verdadeiramente emocionante para as pessoas. Hei de me dedicar a elas como jamais fui capaz. Claro que não vou conseguir amá-las como elas merecem ser amadas, mas me esforçarei ao máximo. Não perderei mais tempo, sinto-me renascido e cada passo há de ser mais significativo, quero ser denso. Finalmente sinto-me liberto!

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