por Filipe Luna

Festival traz ao Brasil MC Solaar e outros nomes da música francesa

Por Filipe Luna

Depois de passar por Porto Alegre no último sábado (27), o Motomix, festival de música, arte e tecnologia, chega nesta quinta, 1, ao Rio de Janeiro e sábado, 3, a São Paulo. A proposta do evento, que promete engrossar o calendário anual de festivais brasileiros, é ter como tema um país diferente a cada edição. Desta vez os escolhidos foram os franceses, e o Motomix traz ao Brasil importantes nomes das pistas eletrônicas do país – Alex Kid, The Youngsters e o projeto Super Discount 2 – além de MC Solaar, estrela do rap francês e a atração mais aguardada do festival. Solaar vem ao Brasil acompanhado de sua banda, em formação completa. "Estou muito contente de vir ao Brasil", disse ele durante a coletiva de imprensa, realizada nesta quarta no Rio de Janeiro. "E muito ansioso para conhecer a música e a cultura brasileira." Seu estilo de rimar é o que o diferencia de outros rappers. Solaar é muito mais lírico, poético, as temáticas de suas letras são bastante variadas, incluindo rimas até sobre amor, assunto raro entre MCs.

Durante a coletiva, integrantes da ONG Viva Rio apresentaram aos artistas do evento sua campanha em prol do desarmamento, além de falarem sobre o referendo que acontecerá em 23 de outubro [a edição de setembro da Trip traz um especial sobre o assunto]. Todos os artistas abraçaram a causa. "Vejo que isso é um problema no Brasil, já que é tão fácil comprar uma arma por aqui", afirmou Solaar. "Acho uma iniciativa extraordinária." Leia abaixo a entrevista que Solaar deu a Trip sobre o hip-hop francês:

Como é a cena hip-hop na França? Dizem que é a segunda maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. É verdade?
Bem, todo mundo diz que a França é o segundo maior mercado do mundo. Na produção, o país deve ser. Há uns dois ou três anos, havia pelo menos cinco lançamentos nas lojas, toda semana. Você via discos para vender em todos os lugares, havia bastante shows. Agora estão diminuindo um pouco. O rap internacional, principalmente o americano – 50 Cent, Eminen, The Game –, voltou com força...

Como o rap começou na França? Foi como nos Estados Unidos, um movimento social com festas nas ruas?
Sim, havia festas nas ruas. Tudo começou em 1983, bem no princípio do hip-hop, quando a Zulu Nation [entidade que promove a inclusão social de jovens carentes através dos quatro elementos do hip-hop] chegou à Europa e à França. Eles nos mostraram o grafite e nomes como Afrika Bambaataa. Falavam sobre uma nova forma de viver, sem violência, sem drogas, fazendo as coisas de uma forma criativa. Todo mundo ficou muito feliz por se dar conta de que era capaz de fazer alguma coisa. Nessa época, imigrantes árabes e africanos, que viviam nos subúrbios, entraram de cabeça no movimento hip-hop, na dança, no rap. O resto da população gostava de Michael Jackson e outras coisas pop. Depois de um tempo isso mudou, todo mundo passou a gostar. O hip-hop francês dominou a cena e tornou-se multicultural. O mais engraçado é que a gente não notava que pessoas que não eram negras, nem árabes, também gostavam do som. Eles escutavam os mesmos programas de rádio que nós.

Quais eram os principais temas das músicas no começo?
Normalemente, eram temas sociais. Bem, não no começo. Para falar de tópicos socias, as pessoas têm que ser bastante espertas. Primeiro, era uma coisa meio arrogante – "eu sou o melhor", "eu ganho de você". Quem começou a abordar tópicos políticos ou sociais foi um MC chamado Ayan de Marselha. Quero me comunicar com todos, atingir diferentes platéias. Acredito que temos que falar para todo mundo. O que as pessoas fazem normalmente é falar para outras que pensam igual a elas. Quando estão diante de uma platéia negra, falam: "Vamos lutar contra o racismo".

O que você acha do hip-hop hoje em dia? Você acha que há na França alguma semelhança com esse estilo gangsta de 50 Cent e The Game?
Algums pessoas, quando começaram no rap, se interessaram por esse estilo, mas fizemos ele deixar de ser atrativo. Na França, nós começamos a ridicularizar o estilo de uma maneira que não os ofendia, para que o público percebesse como era patético agir daquela maneira. Eles começaram a perceber que os grupos apenas copiavam o que se via nos clipes americanos, o quanto era ridículo fazer toda aquela pose, e logo se desinteressaram. Vários MCs abraçaram essa causa, de diminuir o gangsta, e vimos que é possível mudar as pessoas. Hoje em dia não há mais gangsta na França. As pessoas eram agressivas e sempre apareciam com armas. Hoje não. Mesmo quando se fala de violência, você não sente a mesma coisa de antigamente, não é sério.

Você pode nos recomendar alguns bons grupos de hip-hop da França?
Gosto de um cara chamado Booba. Ele tem um estilo meio violento, mas de uma boa maneira. Gosto da cadência dele, do jeito que ele rima. Também gosto de Sages Poétes de la Rue. Tem outro grupo que é meio jazzy chamado Hocus Pocus. Eles estão começando e não são muito populares ainda, mas estão num bom caminho. Vou lhe dar um exemplo típico da nova geração que está surgindo agora: Sinik, um jovem MC, muito bom. Outro grupo novo, muito bom também, é o Psy 4 de la Rime, de Marselha. Tem um deles que rima com uma levada parecida com a das orações dos mulçumanos [começa a imitar um mulçumano rezando]. Não é exatamente igual, mas é um estilo parecido.

Leia aqui mais sobre as atrações eletrônicas do festival

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