Diretor das mais elogiadas minisséries da Globo, José Luiz Villamarim estreia nos cinemas nesta quinta, dia 9/02, com ”Redemoinho”
Mineiro "come quieto" é uma boa maneira de descrever José Luiz Villamarim. Com 25 anos de carreira na Rede Globo e inúmeras novelas de sucesso, como O rei do gado e Avenida Brasil, ele só começou a aparecer com força na mídia a partir de 2013, com a minissérie O canto da sereia, na qual Isis Valverde faz uma cantora de axé que é assassinada. "Sempre fui um cara discreto. Ficava escondidinho, não gostava de dar entrevistas. Mas, com o tempo, percebi que era necessário", conta o diretor nascido em Três Marias, no interior de Minas Gerais.
Aos 50 anos, Villamarim estreia nos cinemas no dia 9/02 com o longa Redemoinho, inspirado no livro de Luiz Ruffato, O mundo inimigo – Inferno provisório – Vol. II (Record, 2005). O filme retrata dois amigos de infância que se reencontram, décadas depois, em Cataguazes. Luzimar (Irandhir Santos) ficou na cidade, casou-se com uma ex-prostituta (Dira Paes) e trabalha numa fábrica de tecidos; Gildo (Júlio Andrade) mudou-se para São Paulo e subiu na vida. O reencontro, aparentemente amigável, se revela aos poucos um acerto de contas com o passado trágico.
Como surgiu a ideia de fazer um filme sobre a classe operária? A obra do Luiz Ruffato lida com personagens que eu chamo de invisíveis e que eu quis trazer para o primeiro plano. São milhões de brasileiros que fazem parte dessa classe operária, que está acima da linha de pobreza, tem desejos e aspirações, mas muitas vezes está condenada a ficar no mesmo lugar. Ruffato conhece bem esse universo: é filho de uma lavadeira e um pipoqueiro e trabalhou como operário. São pessoas que vivem questões existencialistas, como a abordada no filme, e que, no fundo, é universal: quem fez a melhor escolha, o que ficou na cidadezinha ou o que foi embora?
Você dirigiu algumas das minisséries mais elogiadas dos últimos tempos, como Justiça (2016) e Amores roubados (2014). A que você credita esse sucesso? São projetos que resgatam histórias brasileiras, com uma maneira brasileira de filmar. Existe uma busca por criar algo mais artesanal, com o qual o público se encanta e se identifica. E são dramas de maior profundidade, esse horário das 23 horas exige isso. Uma série como Justiça atinge um público que vai do formador de opinião, que assiste à Netflix, à empregada doméstica, que só vê TV aberta. Cada capítulo foi visto por 30 milhões de pessoas. No cinema, uma comédia de muito sucesso tem 3 milhões de espectadores. Tropa de elite 2, que foi um fenômeno de bilheteria, teve 11 milhões.
LEIA TAMBÉM: José Luiz Villamarim escreve sobre Debora Bloch em Justiça
Como você vê o desafio da concorrência dos serviços de streaming? É mais difícil hoje manter a audiência no Brasil. Antigamente ela era inercial, hoje é muito mais arisca. Se a novela das 9 for ruim, o público muda de canal. Em termos globais, vivemos um momento dramatúrgico muito bom, que veio com a era de ouro das séries americanas e se espalhou por aí. Está todo mundo atrás de conteúdo. Quando a Amazon chama o Woody Allen para dirigir uma série ou quando o Martin Scorsese resolve fazer TV, a gente também precisa correr atrás de novos formatos e se reinventar. No fundo, essa concorrência é boa porque nos instiga a buscar o melhor.
“É mais difícil hoje manter a audiência no Brasil. Se a novela das 9 for ruim, o público muda de canal”
José Luiz Villamarim
O que falta para a Globo atingir o patamar das produtoras de grandes séries americanas? A primeira coisa é o inglês. A gente não fala inglês para disputar com eles. Outra coisa é o dinheiro: a Netflix investe muito mais do que a gente em seriados. Além disso, nosso produto de exportação para 180 países são as novelas. Com os seriados, a gente está começando a trabalhar nesse sentido. É uma formação tanto de público quanto internamente, mas hoje existe esse desejo dentro da Globo de investir nisso.
LEIA TAMBÉM: Debora Bloch fala sobre seu trabalho em Justiça
Em que projetos você está trabalhando agora? Numa série chamada Onde nascem os fortes, do autor George Moura, a ser rodado no sertão da Paraíba. Estou em pré-produção, começando a escalar o elenco. Deve ser exibida às 23h em abril de 2018. E tem vários outros projetos rolando, inclusive de filmes, mas ainda não posso divulgar.
Créditos
Imagem principal: Divulgação