Conheça quatro iniciativas de jovens que querem mudar a maneira como nos relacionamos com a política para as eleições
Buscando dar visibilidade a pautas e demandas pouco representadas na política brasileira, grupos encabeçados por jovens têm se unido para criar plataformas de mobilização, lidar com as dificuldades das candidaturas e incentivar a aproximação com a população. A Trip selecionou quatro iniciativas de gente que quer romper a bolha da política tradicional e, aproveitando as eleições de outubro, transformar as câmaras municipais do Brasil em lugares mais diversos e com mais representatividade.
Vote LGBT
Criado em 2014, tem como objetivo identificar candidaturas ao Legislativo com propostas pró-LGBT. Para as eleições municipais, em parceria com outros grupos do país, como a Rede Feminista de Juristas e as redes locais de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre do projeto Nossas Cidades, a proposta se expandiu para incluir também pautas de igualdade de gênero e raça e de inclusão social, em um novo projeto batizado de #MeRepresenta. (Para ser voluntário no trabalho, é só se inscrever no site do projeto.)
O grupo quer também conscientizar e mobilizar cidadãos desenganados com a política, combatendo votos nulos e brancos que, segundo a iniciativa, poderiam ser usados para apoiar a causa LGBT e outras minorias. O trabalho é feito basicamente no Facebook, com posts do tipo “20 motivos pra votar LGBT” e vídeos com a participação de artistas que abraçam a causa. “Por um lado, pensamos na importância de termos políticos LGBTs, contribuindo para que o poder Legislativo espelhe a diversidade da população. Por outro, pensamos na representatividade de demandas específicas da comunidade LGBT, que podem ser pautadas igualmente por políticos heterossexuais ou cisssexuais”, diz Marcos Visnadi, um dos membros do grupo. “O que une essas duas dimensões é a ideia de que a população LGBT não pode estar excluída da política.”
Bancada Ativista
Por conta de uma discussão iniciada num post de Facebook sobre a “bancada dos sonhos para SP”, que acabou catalisando conversas e reuniões, um grupo de eleitores da capital paulista fundou a Bancada Ativista, que se propõe “um movimento suprapartidário para ajudar a eleger ativistas e ocupar a política”. A Bancada congrega oito candidaturas de ativistas de diferentes causas que desejam chegar à Câmara de Vereadores de São Paulo (os candidatos são do PSOL e da Rede e nunca tiveram mandatos).
Essas candidaturas foram escolhidas com base em um conjunto de princípios e práticas listados no site da iniciativa, com pontos como “Nós somos irredutíveis em relação à garantia e promoção dos direitos humanos” e “Nós acreditamos que o combate às desigualdades sociais e econômicas deve orientar as políticas públicas nas cidades”. A idade dos integrantes do movimento varia entre 25 e 40 anos e eles tentam se aproximar do eleitor jovem ao promover debates públicos com os candidatos (que geralmente terminam em bar, momento batizado de “Boteco Ativista”) e dialogando pelas redes sociais.
Cidade que queremos
Em Belo Horizonte, o surgimento de várias iniciativas populares ao longo dos últimos cinco anos fez com que as requisições de diferentes grupos de ativistas se cruzassem e acabassem se tornando o Cidade que queremos, que une causas como feminismo, movimento negro, luta por mobilidade urbana, moradia, diversidade de gênero e preservação de áreas verdes. A ideia de representatividade na política também é um ponto importante. "Belo Horizonte tem 41 vereadores atualmente. 40 homens e uma mulher — que é delegada. Negros devem ser uma meia dúzia", diz Roberto Andrés, urbanista e professor universitário que faz parte do movimento.
O movimento apresenta um grupo de 12 candidatos advindos de movimentos sociais, dos quais somente um já foi concorreu a cargo público anteriormente (incluindo a primeira candidata indígena e a primeira candidata transgênero da história da cidade), que buscam criar uma câmara mais diversa na capital mineira. Os candidatos, todos filiados ao PSOL, compartilham entre si um escritório, advogados, contadores e até o dinheiro arrecadado, que é dividido igualmente entre todas as campanhas. "É muito burocrático e difícil para se candidatar, um processo muito hostil. Se não fizéssemos isso nossos candidatos iam ficar o tempo todo no TSE e não conseguiriam fazer campanha", diz Andrés.
Fast Food da Política
Júlia Carvalho tem 22 anos e se define como gamer, hacker e ativista. E foi a partir dessa junção de interesses que nasceu o Fast Food da Política, uma organização que quer ensinar sobre as regras do sistema político brasileiro através de jogos. “Em um dado momento, eu passei a compreender que a dificuldade de transformação social vem, em muito, do fato de que nós não sabemos nada sobre como o sistema política funciona”, diz Julia, que trabalha no projeto com outras cinco jovens mulheres que compartilham dos ideais de cultura hacker, autonomia e feminismo. Com ajuda de um financiamento coletivo, o grupo disponibiliza para download o material gráfico de cada jogo e também um manual de como montar seu kit usando peças encontradas em papelaria, além de promovê-los em grandes manifestações, escolas, locais de passagem nas cidades e eventos como a Virada Política.