por Luiz Alberto Mendes

                    GENTE

 

Um mar de gente estende-se por toda minha volta, como se no mundo só existisse gente entre o Céu e a Terra e mais nada. E o tempo a me tomar delas, quando nunca quis abrir mão de nenhuma delas. Gente é hoje; o tempo todo da existência. Mensagem que remetemos para o endereço certo: o fundo de nossos corações. Atmosfera onde respiram nossos sentimentos, gente é pressão da mão que se estende e sorriso capaz de iluminar rosto inteiro.

Gente são olhos que falam, que gritam, mesmo que parados, vítreos, urrando a alma que lhes vai por dentro. Gente que tributa honras e glórias a inimigos e assassina, barbaramente, os amigos. Gente que não tem dúvida sobre sua própria pessoa e tem sensação exagerada de sua importância. Gente é crédito em aberto, gasto ininterrupto, sorvedouro infinito de vida. Jogo em que a sorte foi lançada e, em transe, todos aguardam o resultado. Gente é suspense, em ultima análise, o tempo todo.

Gente é coragem, inclusive de concretizar necessidades subjacentes de transgredir. Estrangeiro em toda parte, capaz do impensável, fogo e substância criativa. Gente que se oculta, nitroglicerina pura escondida, com medo de viver. Gente aos pés do sucesso ou na garganta do fracasso. Gente que odiamos amar. Gente que nos surpreende com atitudes elegantes e faz com que acreditemos que, de fato, há seres humanos maravilhosos e talvez nós, sejamos os piores.

Ao tempo em que é a chance, a possibilidade, o motivo da nossa existência; gente é deboche. Gente é a única saída nobre que a vida oferece. Gente é conteúdo e fluição, como um gole de água bebido na concha da mão. Às vezes espelhos que apenas refletem e nada guardam, vidas apagadas, sem alma. Gente que escapa, que grita sem ruído, incompletos, inacabado e sem história. Gente que nos permeia de ausências ao negar o hoje para sonhar amanhãs.

Gente que ama, odeia e vive de paixão. Gente que devora a vida desesperadamente em busca não se sabe de que. Voraz, sempre querendo mais do que consegue. Gente que não cabe na vida que tem e sobra, angustiado. Perdido, atrás de algo que devia estar, mas que nunca esteve. Gente que atravessa infernos para conquistar outros céus e depois faz boas piadas disso. Afinal, tudo o que se quer é acreditar no que se deseja acreditar e um sorriso de 32 dentes.

Composto por Luiz Mendes em 24/07/2007.     

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