por Luiz Filipe Tavares

Vereador e ex-Secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo avalia: ”Uma das maiores preocupações hoje é com a mobilidade”

Floriano Pesaro, sociólogo, é vereador em SP - mas nunca foi de ficar fechado em um gabinete: "Quando você é dirigente público tem uma tendência, criada pelo próprio instituto burocrático, de ficar refém de seu gabinete. E você pouco a pouco vai perdendo a sensibilidade, vai criando uma crosta que te isola da sociedade."

E essa sensibilidade ele, que é formado em filosofia pela USP, nunca perdeu. Ex-secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Floriano há muito rompeu as barreiras da desigualdade - e da burocracia - para criar oportunidades aos moradores de rua de São Paulo. Se envolveu em dezenas de operações de verdadeiros resgates sociais, trabalhando ao lado das ONGs da cidade para enfrentar cada problema relacionado ao abandono e à justiça individual, defendendo os direitos de moradores de rua, usuários de drogas e vítimas de violência.

Com 18 anos de serviços públicos no currículo, o vereador trabalhou nas três grandes esferas do poder público. Foi subchefe para assuntos parlamentares da Casa Civil da Presidência da República no governo FHC, secretário do Programa Nacional da Bolsa Escola em 2002, passou dois anos como Secretário Adjunto da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo e tornou-se Secretario Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, de onde saiu para tornar-se vereador pela primeira vez em 2009.

Hoje candidato à reeleição depois de quatro anos ocupando cargo no poder legislativo de São Paulo, Floriano foi avaliado como o segundo melhor vereador da Câmara de São Paulo pela organização Voto Consciente

Transição

Quando mudou do poder executivo para o legistlativo, Floriano passou a enfrentar um tipo diferente de burocracia. “Na Câmara a palavra de ordem é diálogo. É ali que nascem os projetos mais importantes, mas também é onde se gastam horas de discussão em cima de cada problema. A luta na câmara é convencer aliados e opositores sobre a importância de cada emenda. Apesar das dificuldades de negociação, você vê seu trabalho tomando forma a cada voto registrado nas assembleias.”

Em 2007, Pesaro trouxe ao Trip FM números sobre as populações de rua que assustavam, mas não pelo seu valor absoluto. “É impressionante o quanto já se gastou de dinheiro desde os anos 70 para tentar solucionar o problema do abandono infantil. Aqui em São Paulo, contamos com aproximandamente três mil crianças trabalhando nas ruas de São Paulo. E não é possível que uma cidade rica como São Paulo, com 13 milhões de habitantes, não dê conta de tirar três mil crianças na rua." Anos depois, ele vê a situação melhorar em São Paulo nesse sentido, que ainda depende de muito trabalho para ser revertida.

“Trabalhando no executivo eu estive na rua com essas pessoas, trabalhei por elas e me aliei às ONGs da cidade que há anos já lutavam pelos desabrigados. Hoje os programas sociais do Estado ajudaram a diminuir os números, mas ainda há muito o que fazer em todos os setores da sociedade para erradicar de vez essas questões. Ao perceberem que podiam contar com a mesma renda obtida nas ruas, que é em média R$ 150 mensais, muitos aderiram aos programas espontanea­mente, sem precisar de imposição, fiscalização nem o policiamento do prende-e-arrebenta.”

“Precisamos descobrir como trabalharmos juntos para que as pessoas em necessidade possam dividir e compartilhar conosco tudo aquilo que a gente produz.”

Para o futuro

Além de continuar em busca de uma maior humanização das políticas da cidade, Floriano se preocupa também em melhorar a mobilidade no município. “Hoje, uma das maiores preocupações é com a mobilidade. Um dos meus projetos propõe que todos os estabelecimentos comerciais de São Paulo tenham bicicletários à disposição de seus clientes. Gostaria de fazer a expansão de ciclovias segregadas, como a prefeitura acabou de fazer na Faria Lima, baseando-se a uma emenda parlamentar minha. E captar mais recursos do orçamento para a construção de ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas em toda a cidade, além de propor a inclusão de racks na frente e atrás dos ônibus, para que as pessoas que andam de bicicleta possam usar o sistema de transporte da cidade de uma forma complementar a seu trajeto.”

Segundo ele, para trabalhar com isso e ajudar verdadeiramente as pessoas, tem que ter muita disposição e gostar do que faz: "Não é fácil cruzar as margens dos rios, ir pro Grajaú, Parelheiros, Campo Limpo e ver as condições em que as pessoas estão vivendo, no meio de ratos, com as crianças doentes por brincarem nos córregos contaminados. Mas eu sou uma pessoa feliz. Tudo isso que eu fiz durante esses anos, fiz com muito tesão, muita garra. Eu amo o que eu faço"

Saiba mais:

No Olho da rua (Trip#167 - mai/2008)
Ex-secretário de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo coloca as mãos na massa
https://revistatrip.uol.com.br/revista/167/especial/no-olho-da-rua.html 

Floriano Pesaro
https://revistatrip.uol.com.br/trip-fm/floriano-pesaro.html
www.florianopesaro.com.br

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