Selecionamos as imagens, reportagens e personagens que refletem nossa visão sobre a diversidade de vida, filosofias, raças, opiniões, expressões, valores e vivências
Neste ano, em que celebramos o 32º aniversário da Trip, decidimos selecionar imagens, ideias, reportagens e personagens que, ao longo dessas décadas, traduzem com graça nossos temas de interesse e nos ajudam a clarear o olhar da revista para o mundo.
São 12 os pilares que fundamentam nosso projeto editorial: Corpo, Alimentação, Trabalho, Sono, Teto, Saber, Liberdade, Biosfera, Conexão, Diversidade, Acolhimento e Desprendimento. Foi um mergulho prazeroso e profundo em nossa história.
Todo este conteúdo foi acrescido de informações e novas entrevistas com personagens que protagonizaram passagens importantes da trajetória da Trip. Seguimos sempre em frente.
2011
#204 | tema: diversidade sexual
Entre tubos e tabus
Texto Sara Stopazzolli | Foto Caio Cézar
O mundo do surf é muito mais diverso do que os estereótipos nos fazem crer – como prova a gaysurfers.net. Criada em 2010 pelo australiano Thomas C. Green, a comunidade virtual já conta com mais de 3 mil surfistas gays de 81 países; o Brasil representa cerca de 15% do total de inscritos, ou 450 membros, segundo seu fundador.
A reportagem da Trip entrou em contato com cerca de 50 brasileiros inscritos no site de Green. Apenas três toparam dar entrevista e dois aceitaram ser fotografados. “Se eu não falar, ninguém fala”, diz o carioca Lucas Messeder, estudante de geologia de 18 anos. Ele conhece alguns surfistas gays não assumidos e já se relacionou afetivamente com um deles. “Fora o medo da sociedade, tem o medo de não conseguir patrocínio”, explica.
Se nas praias a intolerância começa a se dissipar, no surf profissional a situação ainda é nebulosa. Até hoje [2011], apenas dois surfistas famosos assumiram a homossexualidade: o tatuado punk Matt Branson e Peter Drouyn, que só se revelaram depois de largarem as competições. O australiano Drouyn, inclusive, chocou o mundo do surf ao aparecer como a loira Westerly Windina (foto ao lado), há três anos, contando que se preparava para a cirurgia de redesignação sexual (tema de reportagem da Trip em 2009).
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E agora?
O gaysurfers.net passou a formar grupos de outras modalidades, como windsurf, kitesurf e bodyboard, e hoje conta com mais de 6 mil membros. O número de brasileiros também aumentou exponencialmente: de 50 passou para 1,2 mil.
Em 2014, Green e o australiano David Wakefield (surfista homossexual que chegou a ser campeão estadual e passou 20 anos sem revelar sua orientação sexual) lançaram o documentário Out in the Line-up, em que reuniram depoimentos de surfistas gays que sofreram com a homofobia, da Califórnia à Austrália. Os americanos Cori Schumacher, tricampeã mundial de longboard, e Robbins Thompson, surfista dos anos 90 que abandonou as competições depois de encontrar a palavra “bicha” pichada em seu carro, estão entre os entrevistados. O documentário também aborda o trágico caso de Ben Roper, surfista australiano que se suicidou, em 2013.
Já Windina se submeteu à cirurgia de redesignação sexual em 2012, na Tailândia. No ano passado, ganhou biografia escrita por Jamie Brisick, que também prepara documentário sobre a surfista, com estreia prevista para 2019.