ltrapassaremos o erro, conquistaremos o aprendizado através do acerto e venceremos a dor?
Duas Vidas
Antigamente dizia-se que era preciso conhecer os dois lados das coisas para poder julgar. Existe até a figura da mulher vendada (muito sensual, diga-se de passagem), com o fiel da balança na mão, simbolizando a Justiça. Nessa época conhecíamos somente masculino e feminino, também. Casado e solteiro; moça (virgem) e mulher; amor e desamor; parece que as coisas só aconteciam em dois sentidos opostos.
Hoje, nem dá para julgar mais nada. A complexidade é tamanha que os “lados”, transformados em alternativas, se multiplicam em progressão geométrica. Tudo o que já era enorme, ficou infinito de tão grande. Tudo o que era minúsculo perdeu-se no infinitesimal. E a vida então; com as promessas do sequenciamento do genoma, da nanotecnologia e da robótica, como dimensionar, mesmo usando termos ultramodernos?
Tudo isso para dizer que, depois de muito pensar, cheguei à conclusão que precisaríamos de duas vidas para cada um de nós. Uma para teorizar, planificar e ensaiar, e outra para viver. Como consequência, a espontaneidade estaria morta. Mas o que é a espontaneidade? Um vazamento, uma intervenção da liberdade? Mas como espontâneo se o que expressa é apenas do que nossa existência e emoção estão repletas, quase em ato falho freudiano? Se conseguirmos organizar tudo em uma existência, o que nos garante que na seguinte conseguiremos aplicar todo o planejado? E as circunstâncias, as convergências, as surpresas e os acidentes de percurso? Vão deixar de existir para nos ver passar incólumes?
O plano combate o erro. A espontaneidade, a liberdade e o viver são espaços de experimentações onde o erro é peça fundamental para se estabelecer o aprendizado. Erro e acerto tem sido metodologia universal de desenvolvimento humano. Superaremos essa didática visceral? Aprenderemos igualmente se deixarmos de errar? O acerto, assim como o erro, já se comprovou, pode levar a outros acertos também. O erro pode levar a outros erros. Não podemos esquecer que errar quase sempre faz sofrer. Ultrapassaremos o erro, conquistaremos o aprendizado através do acerto e venceremos a dor? Quando, quando, quando?
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Luiz Mendes
26/05/2010.