Escolas sucateadas, professores mal pagos e desestimulados, igrejas interferindo no ensino de conhecimentos científicos. Com quantos gênios poderemos contar para desenvolver o futuro do nosso país?
Uma das teorias de Darwin nos fala sobre a mutação como condição de sobrevivência dos mais aptos. Se de mil galinhas nascerem algumas com o bico mais forte, essas terão mais condições de sobrevivência do que as outras. Exatamente porque, com o bico mais resistente, se alimentarão mais, se defenderão com mais eficácia e passarão essa mutação para suas descendências.
Pepe Mujica, esse homem que encantou a todos, conta que é preciso conhecer Confúcio para entender a China e os chineses, pois esse grande filósofo está ainda hoje presente na mente daquele povo. Até Mao Tsé-Tung reconhecia que o seu pensamento era menos de um minuto na filosofia milenar de seu país.
O ex-presidente do Uruguai segue contando que a China chegou ao patamar que está hoje (maior economia mundial) porque investe muito na educação e na ciência do país. Eles formam meio milhão de engenheiros civis por ano, por exemplo. Voltando à teoria das mutações de Darwin, desses 500 mil engenheiros, quantos terão o “bico” mais reforçado? Quantos desses engenheiros serão geniais? Quinhentos, mil, 5 mil? Não há como afirmar a quantidade de gênios que eles estão produzindo. O futuro pertence aos gênios.
Em seu livro A república, Platão já previa: os nossos líderes serão os mais inteligentes e mais capazes. E vejam nosso país com suas escolas sucateadas, nossos gênios vilipendiados (vide Paulo Freire), nossos professores mal pagos e desestimulados, as tais “igrejas” interferindo e impedindo o ensino de conhecimentos científicos internacionalmente reconhecidos. A evasão escolar novamente atingindo patamares assustadores.
As verbas destinadas à educação não chegam aos alunos. Gestores empossados não pela capacidade pedagógica e sim por questões políticas. As salas de aula virando um pandemônio incontrolável e as escolas particulares (juntamente com as tais “igrejas”) se transformando nos melhores setores de investimento. Os planos de financiamento para a faculdade dos menos favorecidos sendo cada vez mais dificultados. Com quantos gênios poderemos contar para desenvolver o futuro de nosso país?
Gênios do crime
No Brasil existem 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai em seus registros de nascimento. Essa é uma questão sociocultural, mas também educacional. Darcy Ribeiro já dizia há décadas que a educação que temos no Brasil é projeto.
Estamos, presentemente, com 622 mil homens encarcerados. Apenas um em cada dez desses prisioneiros exerce atividades educacionais, são cerca de 62 mil presos estudando. E os outros 560 mil, aprendem o quê? Desses homens, 16% trabalham. Ou seja: somente 106 mil, de 622 mil, trabalham. O que fazem os demais 516 mil? Constroem e difundem a cultura do crime, evidentemente, embora escola e trabalho sejam direitos deles, garantidos por lei. Como diria Getúlio Vargas: “A lei? Oras a lei...”.
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O índice de reincidência chega a assustadores 80%, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). E sabem como eles vão reincidir? Atacando a população, bancos, carros-fortes, condomínios, prédios, e cada vez com mais periculosidade, pois é o que aprendem nas prisões. Apenas 22% das prisões possuem oficinas de trabalho, embora as prisões possuam espaço para tais construções, segundo levantamento nacional de informações penitenciárias. Quantos gênios serão produzidos nas prisões? Os chineses exportam engenheiros geniais, nós, provavelmente, exportaremos gênios do crime.
Estamos extremamente egoístas (ou sempre fomos), cometemos essas irresponsabilidades há séculos. Foi assim que destruímos as matas, poluímos as águas e vamos esgotando os recursos naturais do nosso país. E cada vez com mais pressa, seduzidos pelos apelos do momento. Será que não deixaremos nada para as futuras gerações, senão crime, corrupção e falta de condições de sobrevivência?
Créditos
Imagem principal: Daaniel Araujo Ataque do tubarão