O que precisa ser feito para deixarmos de ser o eterno país do futuro?

Escrevo esta coluna às vésperas de embarcar para Portugal. Segundo dados oficiais, há nada menos do que 115 mil brasileiros vivendo por lá. O curioso é que, durante séculos, Portugal encolheu. Mandou para o Brasil milhares e milhares de pessoas, inclusive um bocado de antepassados meus. A perda do Brasil em 1822, vaca leiteira que por tanto tempo sustentou a metrópole com ouro, açúcar, diamantes etc., parecia indicar a ruína definitiva do pequeno reino europeu. Em anos mais recentes, aquele país exportava mais gente do que bacalhau ou vinho, e os destinos preferenciais eram, além do Brasil, os Estados Unidos e outros países europeus. Meu padrasto esteve lá em 1974, como jornalista, para cobrir a Revolução dos Cravos, que encerrou 41 anos de uma ditadura colonialista e retrógrada. O Portugal que naquele momento inaugurava a democracia parecia, segundo ele contava, parafraseando Monteiro Lobato, o país em que tudo foi e nada é. Os velhos casarões estavam caindo aos pedaços, as pessoas se vestiam com roupas escuras, eram tristes e quase não havia jovens circulando pelas ruas.

E então, primeiro com a Revolução dos Cravos, depois com a entrada do país na União Europeia, em 1986, tudo mudou. Portugal iluminou-se: Angola e as demais colônias africanas se tornaram independentes e o país passou a ser admirado, invejado e almejado. O turismo explodiu. Embora o nível de industrialização seja baixo e a balança comercial esteja deficitária, o que conta, no fim das contas, é que hoje Portugal tem IDH elevadíssimo, um dos melhores sistemas de saúde e educação públicas do mundo, e está em 19º no ranking da ONU de países com melhor qualidade de vida, à frente, pasmem, de Alemanha e França. O Brasil, com todo o pré-sal, os infindáveis minérios, a abundância de água e a gigantesca área agricultável, está, em todos estes índices, lá embaixo.

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Não quero passar a impressão errada, então digo, de uma vez por todas, que não estou me mudando para Portugal. Mas muita gente está, inclusive pessoas próximas, e estou curioso para entender o que está acontecendo. Porque o que está acontecendo é nada menos que uma tragédia. Quando brasileiros bem-educados (e profissionalmente qualificados) começam a desejar ir embora de um dos países mais privilegiados do mundo em inúmeros aspectos, tendo como destino preferencial um país pequenino que, durante 500 anos, o que mais exportou foi gente, basicamente porque não conseguia sustentar os que lá nasciam, é sinal de que por aqui as coisas estão indo realmente de mal a pior. É muito triste que muita gente boa esteja achando que a melhor saída para o Brasil é o aeroporto.

FUI!

O contraste atual entre os dois países não é trivial. Afinal, somos, em boa parte, o resultado de um projeto português. Falamos a mesma língua. Durante a maior parte do nosso tempo de “nação brasileira”, nós fomos portugueses; quando ficamos independentes, nosso primeiro governante, Pedro I, era um monarca português; nossas primeiras leis tinham forte influência portuguesa porque nossos primeiros legisladores e juristas haviam estudado em Coimbra. E a presença portuguesa por aqui seguiu forte depois da República, a ponto de termos grandes times de futebol, como o Vasco da Gama e a Portuguesa, identificados com as colônias lusitanas.

Uma vez independentes, nós tínhamos predileção em menosprezar a antiga metrópole. Nosso potencial era infinito e nosso futuro, brilhante. Por décadas, fizemos piada e rimos dos portugueses. E quem está rindo agora? Se os portugueses acertaram o rumo, será que nós não conseguiremos? Eles deixaram de ser o país do passado. O que precisa ser feito para deixarmos de ser o eterno país do futuro?

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