por Kátia Lessa

A cantora Nina Becker, da Orquestra Imperial, falou com a gente sobre seu primeiro CD solo

Ela cursou faculdade de Desenho Industrial, cantou com Zeca Pagodinho, fez cenários para cinema e publicidade e até montou seu atelier de roupas. Mas foi na mistura fina da Orquestra Imperial que a cantora Nina Becker encontrou sua sintonia. Prestes a lançar seus primeiros trabalhos longe dos companheiros, ela fala com a Trip:


Você já cantava antes de fazer parte da Orquestra Imperial?
Em várias fases da vida estudei música. Houve até um período em que tranquei  a faculdade de desenho industrial para cantar com o Zeca Pagodinho, e cheguei a fazer um show abrindo para o Pedro Luís e a Parede no Humaitá Pra Peixe, mas comecei a trabalhar fazendo cenários para cinema e publicidade. Foi então que parei de cantar mais uma vez.

Como começou a cantar? Qual sua mais antiga memória musical?
Minha avó, que é filha de russos, cantava muito para mim quando criança. Algumas coisas ela cantava em russo e em ídiche, mas eu ficava vidrada mesmo nas músicas do Dorival Caymmi, que eram crônicas,historinhas, e eu ficava horas imaginando como seriam aqueles personagens.

Quando soube que era isso que queria fazer da vida?

Sempre amei cantar, mas nunca tive muita coragem de acreditar que seria possível viver de música. Por conta disso, dei mil voltas. E mesmo tendo, de certa forma, até fugido dessa profissão, hoje em dia sou cantora por causa de coisas que fui fazendo sem planejar muito. Hoje me vejo feliz e fazendo o
que eu sempre amei.

Poque decidiu fazer um projeto solo? Foi mais o desejo de trabalhar sozinha ou a incompatibilidade de estilo em relação ao que faz a Orquestra?

Com certeza não foi por incompatibilidade. Pelo contrário. Esses sete anos de Orquestra apenas me deram mais segurança para mostrar meu trabalho autoral, que vivia guardado a sete chaves, colados à minha timidez e a uma espécie de autocrítica boba que não me deixava mostrar as coisas que eu criava.

As composições também são suas?
Os discos são uma combinação de composições minhas com canções de autores novos, como o Rubinho Jacobina, o Domenico e o Romulo Fróes. A maioria dasmúsicas é inédita e só quem já foi ao meu show vai reconhecer.

Qual a pegada do álbum? O que você canta ali é classificável de alguma forma pra você?
Já aconteceu de colocar músicas que gravei nos settings do itunes e aparecer como 'latin', 'world', 'rock', 'jazz' e 'samba'. No fundo, essas categorias não adiantam, porque quem está interessado em música não vai procurar só pelo estilo, mas seguir pela rede vendo outras informações que são igualmente relevantes, como de onde são os artistas, quais os seus parceiros, onde já tocou...Mas finalmente acho que a pegada dos meus álbuns é mais MPB do que qualquer outra coisa.

Em quanto tempo e em qual circunstâncias seu trabalho solo foi elaborado?
Em 2007 e fiquei quase seis meses sem conseguir trabalhar direito por causa de uma lesão na coluna. Por conta disso fechei o meu ateliê de roupas e fiquei bastante triste. O Miranda, um dos produtores do meu disco, sacou e me chamou para gravar quatro faixas junto com o Maurício Tagliari. Comecei a ir para São Paulo de 20 em 20 dias para gravar. Cheguei a usar cadeira de rodas no aeroporto por causa das dores e, ao longo de um ano, fui  melhorando e as quatro faixas viraram doze, porque eu comecei a compor músicas novas e começamos a gostar tanto que resolvemos transformar tudo em um álbum. O segundo disco veio depois, quando acabou a turnê Cê do Caetano e eu consegui a minha banda de volta (o Marcelo, baterista e o Ricardo, baixista, foram tocar com ele). Resolvemos então matar a saudade e aproveitamos para gravar um álbum ao vivo com as coisas que não cabiam no minimalismo do outro álbum.

Qual o nome do CD?
Os CDs chamam-se Azul e Vermelho.

Você convidou alguém para participar dos discos?

O primeiro disco tem algumas participações especiais, como o Nelson Jacobina e o Kassin. O Nelson é parceiro do Jorge Mautner e eu gravei algumas músicas deles. Mas uma das participações de que mais gosto é a do Moreno. Ele ouviu uma cópia de monitor e reclamou: "Como você vai lançar esse disco sem que eu tenha tocado nele?!". Alguns dias depois, ele simplesmente viajou até São Paulo carregando um violoncello e fez uma sessão linda, de cortar o coração.

Se pudesse dividir o palco por uma noite com qualquer músico vivo ou morto, quem seria?
Graças à Orquestra, tive oportunidade de cantar ao lado de muitos ídolos. Me deixa nas nuvens pensar que já cantei com o João Donato, a Jane Birkin,o Erasmo Carlos! Mas se for para delirar, acho que escolheria a Rita Lee.

Você ainda cuida do seu figurino? Algo especial para essa nova fase?
Comecei a fazer roupas porque tinha certeza do que queria usar, mas não encontrava de jeito nenhum. Continuo cultivando esse hábito de imaginar as composições e estou sempre buscando novas inspirações, o que dá um pouco mais de trabalho, mas muito prazer. Quando comecei a usar vestidos longuíssimos, ninguém tinha coragem de usar, não estava na moda. Mas foi um recurso que usei para me dar segurança, pois me sentia totalmente destrambelhada no palco. Agora que todo mundo usa longo, estou menos atrapalhada e resolvi apostar nos curtíssimos.

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