Polícia desesperada
O assassinato do empresário Ricardo Prudente de Aquino trás à pauta de discussão a letalidade da polícia paulista. Então vem à tona a informação de que para cada cinco homicídios ocorridos em São Paulo, um teve participação da polícia. Nos Estados Unidos, onde armas são liberadas, a tolerância é zero e existe um quarto da população prisional do mundo, a relação é de trinta e cinco casos para cada um que tenha tido envolvimento policial. Se a estatística se estende à Europa então perdemos de muito mais longe ainda. Parece que no exterior se prende e no nosso país se mata.
De repente eu, esse velho já experimentado da vida, senti medo de sair nas ruas. O índice de mortalidade por policiais esta muito fora do que seria aceitável em uma sociedade minimamente saudável. E eu os encontro por ai a todo o momento, vai que...
Caso o jovem não fosse empresário, não tivesse família e amigos e fosse mais uma das muitas vítimas anônimas da violência policial na periferia, haveria tamanha repercussão? O Governador seria tão prestimoso em acelerar indenização e exigir “apuração rigorosa dos fatos”? Alias, perdeu ótima ocasião para ficar calado; quanta insensibilidade, nessa hora ninguém esta pensando em dinheiro...
Em estudos efetuados na grande São Paulo se concluiu que para cada mil delitos praticados, apenas um chega a ter seu autor punido. A taxa de assassinatos no país para cada 100 mil habitantes é de 26,4. Somos um dos cinco países que mais mata no mundo. E o Brasil gasta cerca de 92 bilhões de reais para lidar com a violência, cerca de 4% do PIB. Onde vai todo esse dinheiro?
“Foi um erro”, desculpou-se o Secretário de Segurança Pública. “Foi legalmente inadequada”, a ação da polícia, afirmou o Comandante Geral da PM. A defesa dos policiais acusa o estresse, o “clima de tensão” que vivem os soldados nos últimos meses. Houve quem ironizasse: “a polícia se deixa matar por bandidos e reage matando inocentes?” Os três policiais foram presos em flagrante de homicídios e já estão soltos por medida judicial. Estão por ai...
Policia Militar é coisa da ditadura militar. Foram os generais que tomaram o poder em 1964 que instituíram essa polícia dando-lhe o status de “militar”. Foi através da militarização das polícias estaduais que os milicos conseguiram controlar o país por quase duas décadas.
Essa polícia de há muito perdeu a confiança da população, pois é sobre essa população que ela pratica suas arbitrariedades. Agora as pessoas de maior poder aquisitivo também recebem o mesmo tratamento.
Quem sabe diante da indignação geral alguém tome alguma atitude e nos devolva a tranquilidade de andar pelas ruas sem receio de sermos vítimas de “um erro”, uma atuação “legalmente inadequada”?
**
Luiz Mendes
26/07/2012.
