A alienação no passado e no futuro

por Luiz Alberto Mendes

Tempos

 

Estamos na vida singularmente, mas a vivemos no plural. Explico-me: Estamos de fato sozinhos no mundo. Por mais próximos, os outros são bastante distantes e diversos de nós. O outro não consegue nos bastar. Mas vivemos de modo a que estamos habitados por vários de nós ao mesmo tempo.

O passado não esta atrás e muito menos o futuro esta lá na frente. Não existem fora de nossa memória e expectativa. Ao tempo que estão em permanente presença a preencher todos os espaços do presente que permitirmos. Conheço pessoas que vivem no e do passado. Estão lá mais do que aqui e alimentam suas almas daquilo que há dentro delas. A maioria das pessoas vive para o futuro. Economizam, passam apertos e sofrem barbaridades (como 35 anos de trabalho ininterruptos para a aposentadoria, por exemplo) no presente para terem conforto, tranqüilidade e, pasmem; paz no futuro. Mas então já estão velhos, sem gás ou forças para viver o que a vida tem de melhor. Enfrentam essa falsa paz que os velhos aparentam, mas que é bicho-papão a apavorá-los por dentro.

A angústia de um velho é terrível, mortal. Eles nem falam, sabem que não serão compreendidos e não vai dar para esperar que os outros saibam, pois terão que ficar velhos também. Um velho pouco tem a dizer a outro velho. Eles se calam e morrem aos poucos, entre si, nos asilos por ai.

Talvez o maior esforço existencial que se pode empreender seja a luta contínua para viver o máximo que podemos dentro de nosso presente. O passado é memória e, portanto, importante como informação e experiência acumulada. O futuro realmente merece ser planejado para que possa ser melhor que o presente. Nascemos com esse desejo, faz parte da condição humana. A cultura humana nos leva a maximizar e exagerar essas dimensões existenciais. Esta seria uma espécie de fuga à realidade, a verdadeira alienação.

Mas o equilíbrio ainda é, e sempre foi, a melhor medida. O problema é que nem sempre conseguimos estar equilibrados. Principalmente quando deveríamos estar. A maioria só consegue equilíbrio para se manter viva e mais um pouco. De qualquer maneira quanto mais formos presente, mais estaremos equilibrados, conscientes de nosso tempo e, sem dúvida, menos seremos passado e futuro. A recíproca provou-se verdadeira desde sempre para nós.

                                      **

Luiz Mendes

13/08/2010.

fechar