”As pessoas negras têm uma história que vai além das opressões”
O Afrofuturismo é um movimento estético, cultural e político que se manifesta nas artes, utilizando elementos da ficção científica. Nessas narrativas, mulheres e homens negros estão no centro, como protagonistas de suas próprias histórias, e habitam futuros tecnológicos onde a vivência negra não é marcada pela opressão racial.
Mesmo sem ter esse nome, o Afrofuturismo já existia antes mesmo dos anos 90. Na década de 50, Sun Ra, gigante do jazz mundial, ostentava uma estética que misturava figuras ancestrais egípcias e intergalácticas, em uma celebração dos novos mundos. Na década seguinte, Samuel R. Delany e Octavia Butler foram pioneiros em narrativas de ficção científica afrocentradas na literatura norte-americana. Ao mesmo tempo, na música, George Clinton levava o afrofuturismo ao grande público, com seu álbum MotherShip Connection, lançado em 1975.
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As raízes do afrofuturismo estão no período entre 1950 e 1960, mas o reconhecimento só aconteceu no final da década de 90. A atual geração de artistas negros é a que vem produzindo maior volume de obras, seja em livros, filmes, HQ’s, músicas e até festivais. São artistas com grande bagagem cultural e política que olham para o passado do povo africano diaspórico para encontrar sua identidade e projetar no presente modelos de futuros para o povo negro, para além das violências.
Nomes internacionais como Erykah Badu, Janelle Monáe, Beyoncé e Rihanna fizeram uma retomada do afrofuturismo na música, tanto estética como conceitualmente. O filme Pantera Negra também ajudou muito a popularizar o conceito, que, para além do entretenimento, fala sobre a resistência da negritude e leva à reflexão das condições sociais atuais. No Brasil, o Afrofuturismo também é uma expressão muito presente, temos o romance O caçador cibernético da rua 13, de Fábio Kabral, que mescla crenças do candomblé em um planeta tecnologicamente avançado. Músicas de Xênia França, Baiana System e Larissa Luz.
Mas por que o Afrofuturismo é tão importante em pleno século XXI? A invisibilização de pessoas pretas, infelizmente, ainda se faz presente em nossa sociedade, o genocídio também. No Brasil, por exemplo, um jovem negro é morto a cada 23 minutos. Daí a importância da existência de histórias afrocentradas.
Essas manifestações artísticas funcionam como uma ferramenta antirracista, que conscientiza a sociedade através de narrativas que unem tecnologia e saberes ancestrais africanos ou diaspóricos no intuito de mostrar ao mundo que as pessoas negras tem uma história que vai além das opressões.
Créditos
Imagem principal: Caio Lírio (@caiolirio)