A personalidade ariana da educadora Tia Dag sempre a fez superar os próprios limites. Hoje, ela empodera milhares de crianças e adolescentes a fazerem o mesmo: voar com as próprias asas
Gostaria de compartilhar com vocês um ponto de vista que trago desde os meus tempos de estudante na USP até a minha formação como educadora: os limites. A ideia de que existem fronteiras, uma linha ou aviso que sugere impedimento (do tipo "Não ultrapasse" ou coisa assim) sempre exerceu um efeito contrário na minha personalidade ariana. Eu sempre tive essa necessidade de expansão, de ir além do absoluto (aquilo que é) para encontrar o mistério daquilo que ainda não era conhecido, o novo, o não feito. É claro que tamanha curiosidade não me afastou de arrumar um problema ali e outro acolá durante a minha fase de exploradora, mas até mesmo essas experiências serviram para que eu pudesse compreender que posso ir muito mais distante do que a minha zona de conforto.
Ter uma ONG, um projeto social reconhecido mundialmente e um modelo próprio de pedagogia não vieram apenas da curiosidade: surgiram pela necessidade do conhecimento maior, de saber e entender mais sobre a minha pessoa e quem me acompanha.
Ao longo desse caminho, percebi que não basta fornecer todas as ferramentas, toda a educação necessária para formar um ser humano consciente socialmente e conhecedor de si mesmo. Se assim fosse, teríamos vários Einsteins, Paulos Freires, Mozarts e muitos outros gênios pipocando por aí. E isso seria maravilhoso! Mas o fator de toda transformação, no final das contas, é o indivíduo. A Casa do Zezinho busca preencher todas as lacunas deixadas pelo descaso social, pelas tantas "faltas" que vemos diariamente em todos os setores que incluem não só a educação, como também a saúde pública, habitacional, urbana e por aí vai. Nós fornecemos conhecimento em sua totalidade para que a pessoa, em seu crescimento, busque a sabedoria.
Uma criança aprende a tocar um instrumento, que leva a um filme sobre música, que leva à literatura, que leva à expansão do vocabulário, que leva... e leva e leva. Caminhamos de mãos dadas com cada Zezinho até que chega o momento em que ele mesmo percebe que já pode andar sozinho. Ou melhor, pode voar em direção ao seu destino e à realização dos seus sonhos, como muitos dos educadores aqui da Casa fizeram; como eu já fiz um dia ao começar este projeto, que já tem 20 anos. Isso não é saudosismo, não, é uma constatação feliz por toda essa estrada percorrida e o que vem pela frente.
É por isso que considero como o meu maior educador, meu mais antigo e sábio pedagogo, o próprio Universo. Ele me ensinou onde atravessar os limites, lutar pelo que considero justo, conhecer novas línguas, jeitos e maneiras de ensinar e aprender. Nessa exploração sem fim, eu aprendi sobre educação, pedagogia, plantas, pedras, planetas e pessoas. Eu aprendi a mudar, muitas vezes com a resistência de uma ignorante (aquela que ainda não conhece), outras, com a sabedoria de um pássaro que reconhece a direção do vento. Quem convive comigo sabe que estou sempre mudando tudo de lugar, transformando, reciclando, combinando sempre novos talentos com antigos conhecimentos em um processo evolutivo constante. Quem fica parado é poste, e eu ainda tenho muito pra fazer.
Seja você estudante, empresário, dona de casa ou alguém que acredita que pode oferecer algo mais ao mundo, ao seu bairro, sua comunidade ou família, não se abale e siga em frente. Sempre vai ter alguma coisa pra melhorar, algo para crescer e fazer de você alguém melhor. A tradição japonesa acredita (e eu também) que toda crise esconde uma oportunidade. Eu tenho mil histórias de crise aqui na Casa do Zezinho. E mais mil de superação. E quer saber? Nos dois casos, são as mesmas pessoas.
Eu escolho a oportunidade de fazer a diferença. Sempre. E você?
Fui.
Tia Dag foi homenageada pelo Trip Transformadores de 2007.
Acompanhe semanalmente textos de grandes pensadores da sociedade brasileira, que já pisaram no palco do Trip Transformadores.
Créditos
Imagem principal: Bruno Miranda