Campus do Cérebro, em Macaíba, quer tornar realidade o impossível, diz Miguel Nicolelis
Em Macaíba, região metropolitana de Natal (RN), de cada 10 mil crianças que nascem, 80 morrem antes de completar 5 anos de vida – para se ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera aceitáveis 10 mortes a cada 10 mil nascidos vivos. É nesse lugar abandonado pelo Brasil que o cientista Miguel Nicolelis está erguendo um grande sonho, seu e de muitos brasileiros: o Campus do Cérebro, que quando concluído será o maior centro educacional de ensino fundamental e ciência da América Latina. Receberá crianças desde o nascimento para fazer ciência aplicada ao desenvolvimento humano. “É possível fazer neurociência em qualquer lugar do mundo, mas fazer uso da neurociência para educar crianças e aplicá-la a problemas tão fundamentais como educação, isso ainda não existe em nenhum lugar”, diz Nicolelis.
Vencedor do prêmio Trip Transformadores de 2011, o cientista paulistano quer comprovar sua tese de que talento humano está em todo lugar. Ele aposta que de Macaíba sairão muitos homens e mulheres de grande autonomia e criatividade. “Do ponto de vista geográfico, o talento é distribuído. Mas as pessoas não querem que ninguém saiba disso. Ninguém queria que as crianças de Macaíba soubessem que elas podem tomar nas mãos o destino de suas vidas e mudar o próprio mundo”, afirma.
Em 2012, será inaugurado o primeiro prédio do Campus do Cérebro, a escola, com 14 mil metros quadrados. É o que Nicolelis chama de escola para toda a vida. Do ponto de vista arquitetônico, o prédio tem o formato de uma jangada, com a parte central servindo de “quilha” e os pavilhões, de “velas”. Também está no projeto aproveitar ao máximo a luz natural e o vento, a fim de poupar energia elétrica. De início, a escola receberá 1.200 crianças, do berçário ao ensino fundamental, mas a meta é alcançar 5 mil alunos. Os quase 300 funcionários são moradores da região, estão construindo a escola dos próprios filhos.
Quando concluído, o complexo terá também parque olímpico, planetário, observatório astronômico, teatro para 500 pessoas e um grande auditório, que poderá abrigar desde uma orquestra sinfônica até um grande evento de cunho científico.
A obra foi possível graças a muita negociação. Foram seis anos para o governo do Estado e a Prefeitura construírem a estrada de 2 km que liga o centro urbano de Macaíba ao Campus do Cérebro. Depois, foi preciso erguer uma ponte sobre o Rio Jundiaí, demanda resolvida com a ajuda da Petrobras, que possui uma transmissora de gás ali. O governo federal cedeu à Associação Alberto Santos Dumont de Apoio à Pesquisa (ASSDAP) os 100 hectares de terra para erguer o centro e parcerias foram feitas com Ministério da Educação e com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Quando o complexo estiver terminado, será uma das maiores escolas do país. E de lá devem sair grandes transformadores. Em um mundo em que o centro não existe mais, a ciência promete ser made in Macaíba.