Todos os grande episódios da humanidade merecem museus educativos assim
Todos os grande episódios da humanidade merecem museus educativos assim. Desligue o celular e agende uma visita
Quando fui chamada pela editora da revista Dufry (aqui da Trip!) para fazer uma nota sobre o museu de 11 de setembro que acaba de inaugurar, levei uns 4 minutos para responder (normalmente, respondo em um!). Desde o dia fatídico, há 13 anos, nunca tinha pisado ali. Não sou a única. Nenhum amigo que viveu de fato aquele dia – e os que se sucederam – que teve a coragem de voltar ao chamado Ground Zero. Turistas, sim. Eles tem curiosidade e um desapego emocional que nós aqui jamais teremos. Apesar de ver de longe os escombros, ainda em chamas, a limpeza, as obras, cobrir todos os aniversários dos atentados – pisar ali são outros quinhentos. Em 2001 e 2002, cobri intensamente o assunto, começando pelos pais, mães, filhos, tios, que não sabiam se seus familiares estavam vivos ou mortos. O “não-saber”, me deu uma nova visão da vida e da morte: o privilégio de poder enterrar alguém.
O World Trade Center abrigava diversas linhas de metrô. Por um ano e meio aquela era a estação onde eu ia e voltava do trabalho, localizado no complexo de prédios ao lado, o World Financial Center. Eu conhecia aquilo bem. As portas giratórias eram tão pesadas, que eu me jogava com o ombro para girá-las. Bonito ou charmoso os prédios não eram. Longe disso. Os primeiros andares eram – claro – tomado por lojas. Uma vez fui no lançamento do livro da dupla Ben & Jerry (do sorvete!) na finada Borders. Comprei um óculos-de-sol da Sunglass Hut. E tinha a deliciosa Crabtree and Evelyn, de velas e perfumes. As torres em si eram colossais, um exagero. Assustavam tanto, que durante o inverno, a policia fechava as ruas em volta, porque voavam placas de gelo do topo das torres, como se fossem vidros. Imaginem o perigo. Mas elas eram apenas torres.
De tudo que eu vi e vivi naqueles primeiros anos – incluindo entrevistas com Giuliani, Ken Jackson, maior historiador da cidade, e Lee Ielpi, bombeiro que perdeu o filho, também bombeiro - foi isso: dos quase 3 mil mortos, 343 eram bombeiros, incluindo 20 chefes de batalhões. O maior numero da história do pais em homens mortos em resgate. Imaginem 343 pessoas que não estavam lá na hora dos atentados, muitos deles até estavam fora da hora do trabalho – mas que correram para a morte. Trezentos e quarenta e três. Enquanto as pessoas desciam as escadas, eles subiam. É isso que me faz falar para quem perguntar: visite o museu.
Para quem ainda não esteve, os arquitetos fizeram o memorial da seguinte forma: nas “pegadas” onde ficavam as torres, estão aquelas duas “esculturas de água”, que levam o nome de todas as vitimas, divididas por onde estavam (empresa, aviões, divisão do corpo de bombeiro e policia). Ainda se plantou uma árvore para cada delas. Esta parte é aberta, linda e grátis. Entre estas duas “pegadas” está o novo museu, cujo ingresso é $ 24 – e que vale cada centavo. Este ingresso, separa o joio do trigo: lá fora, ficam os visitantes talvez menos interessados (uns até tirando selfie sorrindo, como se estivessem na Disney).
E dentro do museu, que ocupa o subsolo que exista entre as torres, rola um clima de respeito, sobriedade, e introspecção. Ninguém fica no celular mandando texto ou falando, ninguém fala alto. As visitas são com hora marcada, o que mantém o museu transitável. Quem não esteve aqui na época, tem a capacidade de sentir um pouco o caos vivido pela nossa cidade, podem ouvir diálogos entre policiais, secretárias eletrônicas das famílias, e até (um pavor) o áudio de um dos terroristas falando dentro do avião. Cada vitima tem uma foto, e um resumo de seus obituários num computador, incluindo o Ivan, a Sandra e a Anne-Marie, os três brasileiros que perdemos. Inclusive, visitei o museu no dia do aniversário do Ivan – mandei as fotos para a mãe dele. Imagine o coração desta mãe.
Com recursos incríveis de tecnologia para museus, aprende-se sobre a arquitetura das torres, vê-se um caminhão de bombeiros em pedaços, e até a agenda do então prefeito Giuliani, praquele dia. Sim, há uma parte explicando de onde surgiu o Talibã, que inclui os emails que os “camaradas” terroristas enviaram para as escolas de vôo nos EUA, onde estudaram. Se você nunca sentiu raiva, essa é a hora. Museus como esse tem de existir para que essas situações (espera-se) não se repitam. Todos os grande episódios da humanidade merecem museus educativos assim. Inclui-se aí as atrocidades da escravidão e matanças de indígenas no Brasil – além das mortes por homicídio por armas leves. Dedique de cinco a seis horas à visita, não venha com clima de sacolas da Century 21, desligue o celular e não traga crianças (no máximo, bebês de colo). Reserve antes. Boa visita.
Vai lá: http://www.911memorial.org/visit