Era a noite de uma quinta-feira de abril, de 1997. O fechamento do jornal chegava ao fim, na redação do Wall Street Journal, onde eu trabalhava, quando alguém falou a palavra mágica: festa! Era a despedida de um correspondente que morava em Londres e tinha passado uns dias aqui em Nova York. Fui. Chegando lá, não tinha quase ninguém: apenas o dono da casa, meus quatro amigos, e o tal correspondente.
Nos apresentamos e em dois minutos eu e ele descobrimos muito em comum: a mesma profissão, a mesma religião, a judaica, a curiosidade pelo exterior, por outras culturas, e a paixão por Paris, de onde eu tinha acabado de voltar. Foram horas de papo e dança (sim, ensinamos a ele um pouco de samba). Sempre ando com a minha câmera, mas só tiro foto de quem vou muito com a cara. E foi caso. Tirei uma foto dele, dançando, segurando um brinquedo de peixinhos que enfeitava a sala, aí acima. Trocamos cartão, nada demais. O endereço londrino era na Limeburner Lane e o email, danny.pearl@news.wsj.com. Mas perdemos contato.
Quatro anos mais tarde, eu já não mais no Wall Street Journal, estive em Israel, cobrindo diversos assuntos. Quando consegui o celular do assessor de Arafat para marcar uma entrevista, meus amigos israelenses não deixaram. Na época não entendi qual seria o problema, mas obedeci a contragosto. Meses depois, presenciei e cobri exaustivamente os ataques de 11 de setembro, aqui em Nova York. Danny era o chefe do escritório do jornal no sudeste asiático e logo no dia 12 voou para Karachi para investigar as origens daquela loucura. Ele estava casado, e sua esposa Mariane, que ele conheceu em, voilà, Paris, estava grávida.
Na véspera do Natal do mesmo ano, um dia antes de eu embarcar para o Brasil, um terrorista tentou explodir um vôo translatântico com uma bomba no sapato (sim, é por isso que temos que tirar o sapato no aeroporto). Infeliz. Passei a noite chorando, morrendo de medo de embarcar. Mas embarquei. Danny foi atrás dessa história. Queria saber de onde vinha o tal sujeito, hoje preso em Guantánamo Bay. Conseguiu uma entrevista que acabou sendo uma armadilha. O final da história todo mundo sabe: o doce Danny sumiu por um mês e foi decapitado por terroristas - simplesmente por ser americano e judeu. Os idiotas filmaram tudo. Achavam que o Danny era da CIA, do FBI, do Mossad. Ignorância causada por miséria não tem limite – tornam os homens vítimas de si mesmos. Basta ver o que acontece nas nossas favelas ou em qualquer lugar onde escola não é prioridade.
O mês de incessante busca por Danny foi contado no livro A Mighty Heart, escrito por Mariane. Li em 2004. Ele acaba de se transformar num excelente filme de mesmo nome, produzido por Brad Pitt (que procurou Mariane depois de ler o livro) e protagonizado por Angelina Jolie, escolhida pela própria Mariane, que hoje vive na França com Adam, o filho do casal. Ela nos faz entender um pouco da cultura alheia e também por quê meus amigos não me deixaram marcar aquela entrevista com Arafat. Ainda assim, tudo me parece inexplicável. A boa notícia é que sua família criou a Daniel Pearl Foundation, que promove diálogo por meio de jornalismo e música (já que ele tocava violino). Maneira linda de perpetuar uma vida ainda mais linda.
Nos apresentamos e em dois minutos eu e ele descobrimos muito em comum: a mesma profissão, a mesma religião, a judaica, a curiosidade pelo exterior, por outras culturas, e a paixão por Paris, de onde eu tinha acabado de voltar. Foram horas de papo e dança (sim, ensinamos a ele um pouco de samba). Sempre ando com a minha câmera, mas só tiro foto de quem vou muito com a cara. E foi caso. Tirei uma foto dele, dançando, segurando um brinquedo de peixinhos que enfeitava a sala, aí acima. Trocamos cartão, nada demais. O endereço londrino era na Limeburner Lane e o email, danny.pearl@news.wsj.com. Mas perdemos contato.
Quatro anos mais tarde, eu já não mais no Wall Street Journal, estive em Israel, cobrindo diversos assuntos. Quando consegui o celular do assessor de Arafat para marcar uma entrevista, meus amigos israelenses não deixaram. Na época não entendi qual seria o problema, mas obedeci a contragosto. Meses depois, presenciei e cobri exaustivamente os ataques de 11 de setembro, aqui em Nova York. Danny era o chefe do escritório do jornal no sudeste asiático e logo no dia 12 voou para Karachi para investigar as origens daquela loucura. Ele estava casado, e sua esposa Mariane, que ele conheceu em, voilà, Paris, estava grávida.
Na véspera do Natal do mesmo ano, um dia antes de eu embarcar para o Brasil, um terrorista tentou explodir um vôo translatântico com uma bomba no sapato (sim, é por isso que temos que tirar o sapato no aeroporto). Infeliz. Passei a noite chorando, morrendo de medo de embarcar. Mas embarquei. Danny foi atrás dessa história. Queria saber de onde vinha o tal sujeito, hoje preso em Guantánamo Bay. Conseguiu uma entrevista que acabou sendo uma armadilha. O final da história todo mundo sabe: o doce Danny sumiu por um mês e foi decapitado por terroristas - simplesmente por ser americano e judeu. Os idiotas filmaram tudo. Achavam que o Danny era da CIA, do FBI, do Mossad. Ignorância causada por miséria não tem limite – tornam os homens vítimas de si mesmos. Basta ver o que acontece nas nossas favelas ou em qualquer lugar onde escola não é prioridade.
O mês de incessante busca por Danny foi contado no livro A Mighty Heart, escrito por Mariane. Li em 2004. Ele acaba de se transformar num excelente filme de mesmo nome, produzido por Brad Pitt (que procurou Mariane depois de ler o livro) e protagonizado por Angelina Jolie, escolhida pela própria Mariane, que hoje vive na França com Adam, o filho do casal. Ela nos faz entender um pouco da cultura alheia e também por quê meus amigos não me deixaram marcar aquela entrevista com Arafat. Ainda assim, tudo me parece inexplicável. A boa notícia é que sua família criou a Daniel Pearl Foundation, que promove diálogo por meio de jornalismo e música (já que ele tocava violino). Maneira linda de perpetuar uma vida ainda mais linda.