A editora desta seção, que está em Berlim, tentou viver um dia mascarada
A editora desta seção, que está em Berlim, tentou viver um dia mascarada. Foi chamada de terrorista (em alemão), levou uma pastada no braço e acabou se sentindo tão ridícula quanto a Nana Gouvêa no furacão Sandy
Berlim é a cidade do Black Bloc. O movimento surgiu aqui, na década de 80, quando a polícia começou a esvaziar prédios ocupados por artistas, punks, anarquistas. Então, nada mais normal do que achar uma máscara de Black Bloc no chinês da esquina por 6 euros.
Berlim também é uma cidade onde todo mundo anda com a roupa que bem quer e ninguém olha. Quer sair de couro e de coleira? Beleza! Eu juntei essas duas coisas para ter uma das minhas ideias de autobullying: “Vou passar um dia de Black Bloc pra ver a reação das pessoas e o que, afinal, você sente ao sair na rua mascarada”. Poder, invisibilidade?
Coloquei a máscara e chamei um amigo para dar uma volta no bairro. Outro se afastou com medo de eu ser presa. “Imagina, em Berlim pode tudo”, respondi, mascarada, burra e abusada (será que foi a máscara?). Andei meio quarteirão. Passei em frente a uma construção e começaram a falar de mim em alemão. Não entendi.
Até que um dos caras gritou uma palavra que eu entendi muito bem: “TERRORIST!”. Medo. Apavorei. Tirei a máscara e só pensei: “Saí sem passaporte, e se eu for presa?”. Mas ninguém é preso em Berlim, oras. Insisti na máscara.
Um aviso: Black Bloc não enxerga muito bem. Você consegue olhar para a frente. E só. Atravessar a rua é um drama. Acertar um alvo com um pau deve ser pior ainda. Escapar da polícia? Para experts. É difícil ver de onde vem o ataque. E ele veio. Um senhor, sem eu perceber, me empurrou com sua pasta 007. Olhou feio e saiu pisando forte. Eu nunca tinha apanhado em Berlim. Nem nunca tinha tido medo.
E a idiota ainda pensou em colocar a máscara dentro do vagão do metrô. Levei uma bronca do amigo alemão. “Recomendo fortemente que você NÃO VÁ A BAIRROS DE DIREITA E NÃO ENTRE EM UM PRÉDIO PÚBLICO OU EM UM BANCO ASSIM.”
Pronto, me senti a Nana Gouvêa posando no furacão. Desculpem, alemães, eu só queria saber como eles se sentem. E acho que entendi. Sentem que assustam os outros e são agredidos. Eu não nasci para isso, não!