Se com amor tudo fica mais gostoso, imagine arrumar um namorado chef de cozinha?
Se com amor tudo fica mais gostoso, imagine arrumar um namorado chef de cozinha? E se você não é chegada a panelas, a dica é não se intimidar
Não sei por onde fisguei o Felipe, mas certamente não foi pelo estômago. Numa noite de janeiro, há mais de um ano, esse belo moço aproximou-se de mim e perguntou: “Você também é chef?”. A questão fazia sentido: estávamos num coquetel de gastronomia; e ele é a versão humana do ratinho de Ratatouille. E voilà minha resposta: “Só frito um ovo. Dois já fica complicado”. Não adiantava disfarçar – não tenho receita nem de arroz.
O segredo foi não me intimidar e aprender com ele. Antes de me ensinar a cozinhar, porém, ele tem me ensinado a comer: exigente, diz que o melhor prato é sempre o autêntico e para isso não precisa pagar caro. Talvez o melhor restaurante seja aquele pequenininho e honesto do seu bairro. Até porque muitos lugares considerados “chiques” enganam. Certa vez, no Rio de Janeiro, pedi um cherne. Serviram um namorado, peixe mais barato. O Felipe notou no ato, acrescentando que essas malandragens são supercomuns.
Mas a primeira coisa que ele fez, antes mesmo de morarmos juntos, foi abrir os armários da minha cozinha. Ai, que vergonha. Trocou todos os utensílios, comprou tudinho novo – ganhei até uma faca rosa bebê. Nas reuniões sociais é ele o centro da atenção: fulano revela receitas infalíveis, beltrano indaga sobre azeites internacionais e sicrano pede aulas. Até numa consulta médica testemunhei o doutor puxando papo-cozinha com ele. Por sinal, mais do que cozinhar, aprendi a ser enfermeira. Faço plantão todas as madrugadas, quando Felipe – depois de 12 horas de pé com a barriga no fogão – chega premiado com cortes, queimaduras e dor no músculo tal.
Mesa pra dois
Verdade é que essa profissão é muito menos glamorosa do que se pensa. Principalmente nos restaurantes cobiçados de NY, meio onde ele trabalha. Se por um lado é raro jantarmos juntos, por outro ele me faz adivinhar as misturas de seus sucos pela manhã. Certa vez, porém, apareci para jantar de surpresa em seu restaurante. Ao saber que eu estava lá, ele dispensou o garçom, deixou a cozinha e veio me servir. Gelei. Felipe nasceu para alimentar os outros, com capricho. Mas, para alimentar a minha alma, não precisa de nenhum condimento mirabolante: basta ele sorrir.
Tania Menai mora em Manhattan há 12 anos, é jornalista e autora de Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Trip (www.trip.com.br), e do site www.tania menai.com