O texto que era pra ser engraçado virou pesadelo e Tati Bernardi foi bombardeada com xoxotas
Recentemente escrevi um texto para o jornal Folha de S.Paulo intitulado Gata, eu não quero ver a sua xota. Meu texto não atacava o parto humanizado (e nem poderia, acho muito legal e admiro quem faz), mas ironizava a avalanche de fotos “oversharing” em minha timeline. Agora, boa parte das mulheres que decide ter seu bebê em casa, acha por bem fotografar o feito com requintes de mau gosto tais quais: zoom na placenta, enquadramento no colo do útero dilatado, flash na cara de dor, piscininha infantil cheia de sangue e grandes lábios mandando beijo pro mundo virtual.
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O texto era pra ser engraçado, mas virou um pesadelo para esta pobre autora. Fui ameaçada por feministas, professoras de ioga, zen-budistas, donas de restaurantes orgânicos, a mulher das maçãs da feirinha do Parque da Água Branca, hippies e doulas. Todas queriam me bater com couve-manteiga na cara, caso me encontrassem meditando na praça Pôr do Sol. Mas o pior não foi isso. Durante um mês inteiro recebi, quase diariamente, fotos de vaginas de desconhecidas. Elas vinham com recadinhos cabeludos do tipo “toma aqui minha buceta, sua travada, problemática, misógina, sexista, frígida”. Tenho uma pasta com 27 xoxotas no meu desktop (mentira, meu namorado que tem, mandei todas pra ele). Tá, vou falar a verdade: eu deletei todas. Levei o caso pro meu analista. Teria eu algum problema com a pepeca alheia? Seria eu uma lésbica enrustida, uma egocêntrica bizarra com ódio da vagina de outrem? Algum trauma teria me feito sacanear quem mostra o desenho dos pelos púbicos no Facebook? Depois de algumas sessões descobri que não. Estou, na verdade, fadada à perigosa e solitária vida de quem escreve humor. Sempre vai ter alguém me mandando tomar naquele lugar. Ou, em casos mais perturbadores, me mandando uma singela foto de xana.