Exposição do fotógrafo mineiro Gui Mohallem traz o resultado de sua estada no Líbano, terra natal de seus pais
No próximo 6 de junho, o fotógrafo mineiro Gui Mohallem, 34, apresenta na cidade de São Paulo a exposição individual "Tcharafna", na qual traz 13 obras, entre vídeos, fotografias e objetos. Os trabalhos são fruto da estada de seis semanas de Gui no Líbano, terra-natal de seus pais.
A viagem que resultou a série aconteceu há cerca de um ano, entre maio e julho de 2012, e foi sua primeira vez no país. Durante a experiência, o mineiro se dividiu entre Beirute, que era a base de sua residência, e o vilarejo de Fakiha, no nordeste do Líbano, onde seu pai nasceu e onde seu tio fica no verão. Nas obras, ao mesmo tempo, questões relativas a conflitos históricos e fortes traços de uma cultura local. De maneira intrínseca e complexa, nelas coexistem a beleza e o horror. “Nessa etapa de minha pesquisa, busco uma relação não idealizada com o outro”, diz.
Gui explica que o título da mostra é um termo de cumprimento libanês similar a quando dizemos “Prazer em conhecê-lo”. "A palavra 'tcharafna', contudo, está relacionada à honra, sendo que a tradução literal seria 'Estamos honrados'".
"A palavra 'tcharafna' está relacionada à honra, sendo que a tradução literal seria 'Estamos honrados'"
“Tcharafna” dá sequência à “Welcome Home”, série anterior dele. Foi a partir dela que o fotógrafo se viu pronto para uma nova busca. “Após a experiência em ‘Welcome Home’, procurei encontrar um caminho novo, mais complexo, em que o lugar de pertencimento não é visto como um paraíso. Depois de encontrar um lugar para chamar de casa num santuário pagão, conquistei o chão para tomar o passo mais importante: o de investigar as raízes culturais da minha família.”
Tpm. Sua família é libanesa, certo? Alguém ainda vive por lá?
Gui. Sim. Toda a minha origem é libanesa, tanto por parte de mãe quanto de pai. A maior parte emigrou, muitos para o Brasil. Mas tem um irmão do meu pai lá, e os filhos e netos dele – primos que eu nunca tinha visto. A única irmã viva do meu pai está lá também. Ela tem 101 anos.
A carta de apresentação da mostra diz: "A presença de sentimentos profundos dentro de um universo cotidiano e corriqueiro se reflete nesses trabalhos de Mohallem, marcados pelo sangue, símbolo, ao mesmo tempo, dos laços familiares e da violência." Pode me contar mais disso? Como foi sentir e ver esse passado?
Foi uma experiência muito forte, muito transformadora. Tem a ver com entender a raiz e encontrar o que não se espera. Fui posto em contato com pedaços de mim que nem sabia existirem.
E como surgiu a vontade de olhar pra sua origem? Faz tempo que pensava em visitar essa história?
Desde a primeira vez que meu tio veio ao Brasil, em 1998, me deu vontade de conhecer o Líbano. Mas a coragem mesmo foi depois da série “Welcome Home”. O insight aconteceu na última visita ao santuário, para encerrar o trabalho. Depois de encontrar um lugar de pertencimento longe de qualquer laço familiar, tive o chão para tomar o passo mais importante, que era olhar para a origem.
O que mais te comoveu na produção da série?
Do que se abre mão quando se emigra.
Vai lá: “Tcharafna”, de Gui Mohallem
Onde? Galeria Emma Thomas - Rua Estados Unidos, 2205, Jardins – São Paulo
Quando? Abertura: 06 de junho, às 18h - Período expositivo: 07 de junho a 18 de julho - Segunda a sexta das 11h às 19h, sábados das 11h às 17h
Quanto? entrada gratuita
Informações: contato@emmathomas.com.br