Tarja preta: remédio ou veneno?

por Redação
Tpm #142

Com a palavra, duas adeptas e suas razões

Pergunte qual o melhor amigo de uma mulher hoje: é bem possível que a resposta passe por nomes como Rivotril, Prozac, Lexotan, Frontal, Effexor... Oito por cento das brasileiras dizem consumir regularmente antidepressivos e ansiolíticos, segundo o estudo “Saúde, Medicalização e Qualidade de Vida”, realizado peloInstituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos, em 2013. A tarja preta no rótulo de todos eles sinaliza que é preciso cautela, mas o uso indiscriminado tem gerado cada vez mais dependência. Com a palavra, duas adeptas e suas razões

“Tarja preta é um tipo de escolha incontornável na vida. Vicia e não sara. Tenho certeza de que cronifica as doenças. A neurose contemporânea é assim: um Prozac pra acordar, um Viagra pra trepar, um Lexotan pra dormir. Eu tarjo há anos, não vivo sem meus comprimidos. Já tentei largar e fiquei zumbificada. Vi muita gente enlouquecer pra sempre... No fim, tenho certeza de que é veneno.”

Juliana Frank, 29 anos,escritora e roteirista

“Dores éticas são problemas da consciência, só o tempo cura dores de cotovelo, e dores existenciais não têm solução. Restam as dores físicas – e para essas, existem os remédios. Falo de alopatia, tarjas preta, antibióticos e outras coisinhas pequenininhas e coloridas que salvam nossa vida de maneira tão banal que esquecemos de ajoelhar e agradecer. Remédio é tipo Deus, verdadeiro e milagreiro. Existem os salvadores do corpo e os remédios para as dores “da alma”, que de alma não têm nada: são dores imobilizantes, que uma ressonância não mapeia, mas que a ciência tirou da categoria mimimi ao descobrir que são desequilíbrios químicos do cérebro. Ansiedade, depressão, insônia, TOC. É sabido que às vezes remédios fazem mal, podem até matar. Tem que respeitar. Mas se você olhar o mundo e sua história vai ver que Deus, caso exista (e caso você tenha um), se mal dosado, faz bem mal também.”

Pinky Wainer, 58 anos, é artista plástica

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