Quem tem medo das mulheres no audiovisual?

por Lia Hama

Participação feminina na TV e no cinema é tema de três dias de debates no MIS em São Paulo e em Campinas

Dos 128 filmes brasileiros lançados em 2015, apenas 19 – o equivalente a 14,8% - foram dirigidos exclusivamente por mulheres. Os homens dirigiram 77,3% das obras e os 7,8% restantes tiveram direção mista, segundo dados da Ancine (Agência Nacional do Cinema). Para discutir esses e outros dados relacionados à desigualdade na representação e na participação das mulheres no cinema, na televisão e nos vídeos para internet, um coletivo formado por diretoras e roteiristas organizou o seminário “Quem tem medo das mulheres no audiovisual?”, que começa hoje, dia 17.

Durante três dias, 27 cineastas, realizadoras e ativistas vão participar de seis mesas de debates, que incluem temas como a mulher negra no audiovisual brasileiro e os estereótipos de gênero nos programas infantis de TV. Entre as participantes estão a cineasta Tata Amaral e a jornalista Laura Capriglione. O evento será realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som) de Campinas e de São Paulo.

Tpm conversou com uma das integrantes do Coletivo VERMELHA, Caru Alves de Souza, diretora do filme De menor, premiado no Festival do Rio de 2013.

Qual é o objetivo do seminário? Ele surgiu da necessidade de ampliar as discussões do nosso coletivo para um evento maior e aberto ao público. A ideia é fazer um diálogo entre profissionais do audiovisual e mulheres que não são do meio, mas têm uma atuação como pesquisadoras, teóricas ou ativistas do feminismo.

Quem são as mulheres do coletivo? Somos cinco: eu, a Manoela Ziggiatti (diretora e montadora), a Lillah Halla (roteirista e diretora), a Iana Cossoy Paro (roteirista) e a Moara Passoni (diretora). O coletivo surgiu em 2014 em São Paulo. Nossa inspiração veio da Film Fatales, uma rede global de cineastas mulheres com sede em Nova York que se reúnem para criar projetos e discutir a participação feminina no mercado cinematográfico.

Que propostas existem para aumentar a participação de mulheres no audiovisual brasileiro? Existem bons exemplos de outros países? Tem o exemplo muito impressionante da Suécia. Há alguns anos, o Instituto Sueco de Cinema é dirigido por uma mulher chamada Anna Serner. Ela conseguiu promover a igualdade de gênero nos financiamentos públicos para cinema, colocando a Suécia como o primeiro país a atingir esse feito. Todas as decisões do instituto foram tomadas com o objetivo de alcançar essa meta, incluindo a criação de um site para dar visibilidade às cineastas mulheres, cursos de capacitação e empoderamento das cineastas.

Houve algum avanço nessa área no Brasil? A Ancine pela primeira vez tem uma diretoria colegiada com o mesmo número de homens e mulheres. Hoje há duas mulheres na diretoria: a Débora Ivanov, que vai participar de uma das mesas do seminário no sábado, e a Rosana Alcântara. Tem outras coisas acontecendo pelo país, como o Fincar, festival de realizadoras mulheres de Pernambuco, e o Cabíria, que premia roteiros de mulheres ou que tenham mulheres como protagonistas.

Que outros eventos vocês pretendem organizar? Esse é o nosso primeiro evento público, ainda não temos planos de novas ações. Mas muita coisa deve surgir desses três dias de debates, inclusive uma das mesas, chamada “Perspectivas de transformação: políticas públicas, mídia e sociedade civil”, pretende trazer propostas concretas para o setor.

Veja a programação completa: coletivovermelha.com.br

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