Cartagena é uma cidade de ônibus-baladas e casas-hotéis, onde o povo dança sobre a mesa
A Colômbia fica aqui do lado, a seis horas de voo do Brasil, e mesmo assim é raro encontrar quem conheça esse país entremeado por cordilheiras e banhado por dois oceanos – o Pacífico e o Atlântico. Mas para começar um roteiro turístico eu sugiro Cartagena, uma cidade que mistura a bagagem de sua arquitetura histórica com o frescor de um mar azul, em pleno Caribe.
Cartagena das Índias é uma cidade de casarios assobradados, pátios internos e balcões de madeira torneada, herança dos espanhóis, que chegaram por lá em 1533. É também a cidade de Garcia Márquez (que tem casa lá) e de personagens bem distantes da ficção como os piratas caçadores de esmeraldas. Dividida em “dentro” – Ciudad Vieja – e “fora” do muro (construído no século 16 para protegê-la de ataques dos piratas), Cartagena é uma cidade refinada, que conserva seu centro histórico do lado de dentro da muralha, junto com o burburinho de restaurantes turísticos de suas praças, uma feira de artesanato, um lindo forte (Castillo de San Felipe de Barajas) e um porto, que convida o visitante a navegar para praias de mar azul transparente.
Melhor que hotel, alugue um quarto em uma das inúmeras casas na Ciudad Vieja. São acolhedoras e permitem que se viva o clima da cidade colonial. Você fica com uma chave para entrar e sair quando quiser e pode usar a cozinha para preparar coisas rápidas. As casas costumam ter muitas plantas, terraços e, em geral, são amplas. Fiquei numa que tinha dois andares, Jacuzzi e era decorada com ladrilhos hidráulicos. Escolha uma que inclua Jacuzzi a céu aberto e café da manhã com arepas (empada de farinha de milho), o prato imperdível da região.
Caminhar intramuros
Para começar, explore o centro histórico a pé. Além de visitar igrejas, mirantes, museus – como o museu histórico de Cartagena e o Palácio de la Inquisición – e monumentos da cidade murada, o percurso entre um lugar e outro já é um passeio. E pode durar mais de um dia. Olhe os pátios internos dos casarios que, quando funcionam como pousada, deixam as portas abertas. E, se puder, aprecie a cidade do alto. Você verá as cores e, logo após o muro, o mar azul.
É bem possível encontrar algum espetáculo de dança típica na rua. Se cruzar seu caminho, pare para ver. Vi mulheres dançando miudinho, com homens rebolando em volta, em uma dança muito sensual.
Se sair, vá de ônibus!
Sugiro andar a pé, mas se quiser sair dos muros minha sugestão é: ande de ônibus! Além de custar pouco (o equivalente a R$ 0,90), eles são lindos e superexcêntricos. Peguei um que tinha quadros de arte pendurados; outro inteiramente grafitado; e outro que à noite era iluminado por luz negra, com tapete no teto e música no alto-falante. Mas, o que para a gente é divertido, para os colombianos não tem tanta graça. Eles gostariam de um serviço padronizado, como o que está sendo implementado em Bogotá, capital da Colômbia, com ônibus iguais, nos quais você sabe exatamente o serviço que está consumindo.
O farto cardápio de restaurantes vai dos que servem frutos do mar até pizzarias. Se você gosta de uma alimentação saudável, fique atenta, pois os colombianos capricham nas frituras! Sente numa mesa com vista para as estrelas, mas fuja da praça de Santo Domingo, reduto dos turistas. Lá, você será bombardeado por convites como “Quer ver o menu?” e “Sente-se aqui”, vindos de todos os lados.
À noite, baile!
Os colombianos têm muito a ver conosco: ao mesmo tempo em que são sérios trabalhadores, são também alegres e festeiros. Dançam rumba, salsa, merengue e, principalmente, cúmbia típica colombiana! Nenhum deles é lambada nem forró, mas poderiam ser parentes próximos, só que menos rebolados.
Um passeio típico é andar de Chiva: um city tour numa espécie de caminhão, com bancos na boleia, onde ficam os passageiros, sentadinhos, tomando rum e ouvindo música ao vivo. Depois, o tour termina em uma balada megaturística: uma discoteca que tem vários andares, e cada um com um tipo de música. No último piso, ao ar livre, o ritmo é cubano.
Eu preferiria uma discoteca mais típica, sair para dançar cúmbia. É como dançar forró agarradinho no Nordeste... Neste caso, a melhor bebida é rum com tônica, para ficar mais leve e inspirar para dançar coladinho. Se estiver sozinha, não se preocupe: vão te pedir para dançar. O perigo é justamente esse. Os colombianos são atirados e gostam de dançar “de dois”. Quando a festa está boa é normal que eles comecem a dançar sobre as mesas e os balcões, não estranhe.
Abre parêntese. No quesito balada, uma dica de Medellín, cidade colombiana a 643 quilômetros de Cartagena: lá tem lugares turísticos e outros tradicionais, onde dançam até os velhinhos. Fui ao Tibiri (como a canção de salsa...), porão de um edifício todo azulejado parecendo um açougue, onde a cúmbia rola solta e com qualidade. Dançam até cair... água do teto! Fecha parêntese.
Pule o muro, mergulhe no Caribe
Por fim, “pule o muro” para fazer um passeio de barco. Mas não aceite qualquer pacote, especialmente se for de apenas um dia. Eles até te levam a praias bonitas, mas você como turista poder servir de isca de vendedores ambulantes com marketing agressivo. Uma boa opção são as ilhas do Rosário. Pegando o barco em um dos portos da cidade, em poucas horas você dá de cara com o mar, transparente, que já vale a visita – e funciona como um “volte sempre”.
*Paula Santoro, 37, é arquiteta urbanista, doutoranda da USP e pesquisadora do Instituto Pólis
DICAS
Quem leva
TAM e Copa Airlines, ida, de São Paulo a Cartagena, com conexão em Caracas, e TAM e Avianca, volta, com paradas em Bogotá e Lima, R$ 1.847. Avianca, ida e volta, de São Paulo a Cartagena, com escala em Bogotá, R$ 1.097. A viagem dura aproximadamente seis horas.
Onde ficar
Minha dica é escolher uma casa, dessas que funcionam como hotéis, de preferência com Jacuzzi. Os preços variam bastante. Para uma hospedagem tradicional, a Clickhoteis oferece opções no mundo todo. Reservas (11) 2196-2900, www.clickhoteis.com.br. São 25 hotéis em Cartagena, como o Charleston Santa Teresa. Centro plaza de Santa Teresa Cra, 3ª, 31-23, 57 (5) 664-9494, www.hotelcharlestonsantateresa.com; e o Hotel San Martín. Av. San Martín, 8-164, 57 (5) 665-4631, www.hotelsanmartincartagena.com.
Visite
O Palácio de la Inquisición, na praça Bolívar, abriga o museu histórico de Cartagena, onde há registros de toda a memória da cidade. Aberto de segunda a sábado, das 9h às 18h, e aos domingos e feriados, das 10h às 16h. Adultos pagam R$ 10 para entrar; crianças até 12 anos, R$ 7. Para uma visão panorâmica de Cartagena, o forte Castillo de San Felipe, considerado o maior de toda a América Latina, vale a visita. Ele funciona das 8h às 18h e a entrada sai por R$ 14. Av. Antonio de Arévalo, www.fortificacionesdecartagena.com.
Passeios
Charretes. Além dos divertidos ônibus, há charretes que funcionam como táxis. Elas também realizam passeios pelo centro histórico da cidade. Partindo da plaza de los Coches, o custo é de R$ 40, durante 20 minutos, e R$ 300 durante uma hora, com uma garrafa de vinho inclusa. Praias. Para conhecer o mar do Caribe, a visita ao arquipélago das ilhas do Rosário, formado por 27 ilhas de corais, é uma boa. O preço do passeio de barco varia de acordo com os planos oferecidos pelas agências de turismo. Eles oscilam entre R$ 45 e R$ 107. Da zona de embarque ao arquipélago leva-se cerca de 45 minutos. A pé sobre o muro. Outra opção é caminhar sobre o muro que cerca a cidade antiga. O passeio é aberto ao público ao longo de seus 11 quilômetros, de onde se pode ver o mar. Há também restaurantes sobra a muralha.
Não perca
Para pegar o Chiva Bus basta você marcar com algumas das agências de viagem próximas à plaza de las Bovedas. A Isla del Encanto é uma das agências que realizam o tour. Ela fica na av. San Martín, 5-94, loja 2, 57 (5) 665-5454, www.isladelencanto.com.co. O Chiva te pega no seu hotel às 20h, retorna à meianoite, tem um limite de 48 pessoas e a passagem custa R$ 18.
Mais informações
Para informações e dicas turísticas sobre Cartagena das Índias, vale a pena dar um pulo no site cartagenacaribe.com.